Fanfic: Cega paixão (terminada)

- Você sabia que ele só estava brincando- Anahí disse, acusando Alfonso.

- Phil é o melhor motorista que conheço. Se ele não conseguisse escapar, ninguém mais conseguiria. Aliás, acho que você também saberia se sua hora tivesse chegado e, claro, nos avisaria. Como você parecia calma e Phil estava ao volante, tive certeza de que íamos escapar.

Ao alcançarem a rodovia principal, o Toyota já não estava mais por perto.

- Só espero que aquele idiota não tenha me amassado o carro - Phil comentou, alegre, ao se misturar ao tráfego ameno da rodovia. - Não faz nem três meses que o comprei. - E voltando-se para Alfonso: - Você, por acaso, não anotou a placa, não é?

- O tira é você. Por que não reparou no número?

- Caso não tenha notado, eu estava ocupado com o volante. Além do mais está escuro, coronel.

- O carro não tinha placas. - Anahí os informou. - Pelo menos, não na frente.

- Ora, ora. Da próxima vez que o encontrar, terei que multá-lo.

- Logo tornaremos a vê-lo. A Spandau não deixa nada incompleto e não costuma cometer erros. Tenho certeza de que nosso amigo vai fazer de tudo para consertar a burrada.

- Tomara que sim - Phil disse. - O que faremos com Anahí?

Alfonso retesou os músculos do pescoço mas resistiu ao ímpeto de virar-se para olhá-la.

- Como assim?

- Você acha que é seguro deixá-la sozinha? Será que ela não corre perigo?

- Na minha opinião, está segura mas, se preferir, pode destacar uma ou duas policiais femininas para ficar com ela.

- Amanhã. Afinal, com esta neve toda, não vai conseguir partir esta noite. Você pode ficar na casa dela esta noite.

- Já disse que tenho mil coisas para fazer.

- Ficarei muito bem sozinha.

Phil não deu ouvidos a nenhum dos dois.

- O que foi, coronel? Está com medo de não dar conta da missão?

Alfonso praguejou e acabou concordando, sem alternativa. Ele, que sempre fora admirado pela coragem, estava morrendo de medo de passar mais uma noite em companhia de Anahí Hardy. Ela era magra, frágil, arredia, mas, toda vez que a via, sentia vontade de fazer amor com ela.

Era algo absolutamente sem sentido e, quanto antes se afastassem, melhor. Não queria passar mais uma noite em sua casa, preso pela neve, mas não adiantava argumentar.

- Posso dar conta de qualquer missão. Só estou farto de bancar a babá. Mas tudo bem: fico com ela esta noite. Desde que a srta. Hardy não resolva ter algumas de suas visões enquanto estou dormindo.

- Vá para o inferno! - ela exclamou.

- Amanhã logo cedo - Alfonso garantiu, dirigindo-lhe um sorriso amargo.

- Ótimo! Quero que se queime por lá!

- Farei isso, senhorita, fique tranqüila.

Phil balançava a cabeça, divertindo-se com aquela briguinha infantil.

Ambos não trocaram uma palavra quando Phil os deixou na casa de Anahí. A sala estava gelada e Alfonso ligou o aquecimento providenciando logo um pouco de lenha para a lareira.

- Eletricidade custa dinheiro - ela lembrou, ignorando o sapato vermelho que ele trouxera consigo. - É por isso que desligo o aquecimento quando saio.

- Pelo que vejo, dinheiro não é problema para você - Alfonso resmungou, sem fitá-la. - Aliás, de onde provém a sua renda? A polícia de Denver não lhe paga pelos serviços que presta e, pelo visto, você não trabalha. Então, como é que se sustenta?

Anahí não quis dar-lhe explicações dizendo que há dois anos vivia dos juros da pequena renda que os pais lhe haviam deixado, tendo abandonado o trabalho de professora de inglês e francês.

- O que o faz pensar que a polícia não me paga? - retrucou simplesmente. - Acha que meus serviços são tão irrelevantes que não merecem pagamento?

Anahí friccionava as mãos nos braços, por causa do frio.

- Não se trata de suposição - ele garantiu acendendo o fogo. - Perguntei a Phil. O que, aliás, não me surpreendeu. Ninguém aceitaria um paranormal no orçamento!

Parecia óbvio, agora, que ele mentira ao insinuar em um dado momento que acreditava em seus poderes.

- Claro.

- E, se quer mesmo saber, não acredito nestes seus... poderes - confessou, como ela já esperava. - Para mim, tudo não passa de uma bobagem.

- E o que me diz do sapato?

- Pura coincidência. Ou uma farsa. Talvez você não passe de uma moça solitária, carente, querendo chamar atenção.

- Pois eu gostaria de ser muito mais solitária e, se é isso que pensa de mim, por que está aqui?!

- Também não sei. Pode ser que, no fundo, eu alimente a esperança de estar enganado.

Anahí não conteve o riso.

- A mim, você não engana.

Ela deu meia-volta, mas ele agarrou-a pelo braço, forçando-a a encará-lo. Depois de uma pausa tensa, disse apenas:

- Sorte sua me subestimar.

- É mesmo?

As mãos dele em seus braços pareciam aprisioná-la, embora Anahí soubesse que Alfonso não a segurava com força. O toque a queimava, ainda que a pele dele estivesse tão fria quanto a sua. Calada, esperou que a beijasse daquela forma implacável e sensual, capaz de roubar-lhe as forças, subjugá-la, mas, em vez do beijo, teve uma visão.

Alfonso piscou várias vezes, os olhos vidrados, como se também visse alguma coisa e, então, soltou-a de repente.

- Vou sair - disse, de súbito, deixando-a plantada no, meio da sala. - Tranque a porta!

Anahí cruzou os braços sobre o peito, toda arrepiada, embora a lareira começasse a aquecer o ambiente. Voltada para si mesma, mal ouviu a porta bater e a partida no motor do carro. Sua mente estava totalmente imersa na breve visão que estava tendo. Uma visão de sangue e de morte.