Fanfic: Cega paixão (terminada)

As estradas estavam escorregadias e a neve recente que caía derretia sobre o asfalto morno para tornar a gelar em seguida. Alfonso não estava acostumado a dirigir sob a neve e sua mente continuava voltada para o mau pressentimento. Foi ao fazer uma curva muito depressa que o automóvel começou a derrapar. Ele ainda tentou segurar o volante e controlar o carro, mas era tarde. Segundos depois o carro chocava-se contra a grade de proteção, provocando um terrível ruído metálico.

Pronto; não precisava mais correr. Mais uma vez atolara na neve.

Talvez nem precisasse se preocupar mais com Phil. Enquanto ele saboreava uma deliciosa pizza congelada em frente à televisão, Alfonso ficava preso no carro, congelando. Era bem feito, afinal quem o mandara acreditar numa bobagem...

Anahí remexeu a lenha embora a lareira já estivesse bem acesa, ameaçando transformar sua casinha numa verdadeira sauna. Contudo, o frio chegava-lhe aos ossos e os calafrios a faziam estremecer. E a maldita visão se fora.

Phil não atendia o telefone e ela procurou não se preocupar, afinal ele não tinha dito que iria direto para casa. Talvez tivesse se lembrado de algo e seguido para a delegacia. Talvez fosse fazer um relatório do que haviam encontrado. Isso se Alfonso não fizesse as coisas a seu modo - o que era mais provável.

Aonde ele tinha ido, afinal? Talvez ambos tivessem ido se encontrar num bar para beber uma cerveja, assistir a um jogo pela tevê, deixando-a aflita sem saber o que pensar.

A expectativa era terrível!

Na pressa de sair, Alfonso deixara o par de luvas no chão, perto da lareira. Na certa, logo se arrependeria.

Anahí apanhou-as, deliciando-se com o couro velho e macio, o forro de lã. As luvas estavam quentes por terem ficado perto do fogo, mas para ela a sensação ainda era a das mãos de Alfonso.

Numa atitude natural, Anahí calçou-as, reconfortando-se com aquele calor. Porém, no segundo seguinte, veio-lhe uma visão muito clara, horripilante: Phil Grayson caído ao chão sem vida. E Alfonso Oliver curvado sobre ele, as mãos manchadas de sangue do amigo. Horrorizada, Anahí gritou e atirou longe as luvas.

Em menos de meia hora, chegava à modesta casa de Phil, torcendo e rezando para que estivesse enganada.

- Não, não - murmurava. - Por favor, não.

As luzes estavam acesas e o Chrysler guardado na garagem. Nem sinal do carro de Alfonso ou de qualquer outra pessoa.

Àquela altura, Anahí já não tinha mais esperanças de encontrá-lo vivo. Já passara pela mesma experiência inúmeras vezes, e já não se enganava mais.

A porta da cozinha estava entreaberta. Anahí escancarou-a e entrou, seguindo o facho de luz. O som quase estridente da televisão chegou-lhe aos ouvidos. Anahí ficou aliviada, até perceber tratar-se de um show de variedades; Phil detestava show de variedades.

A única luz da sala era a da televisão. Phil jazia imóvel sobre o carpete escuro e Alfonso estava debruçado sobre o corpo dele. Mas o carpete da sala era bege e não vermelho vivo como a mancha que o cercava.

Quando Alfonso voltou-se e a viu entrar, sua expressão era de ódio e dor. Não foi preciso dizer nada.