Fanfic: Cega paixão (terminada)

Era incrível quanta energia uma sessão daquelas lhe roubava. Ao chegar, Anahí lhe parecera pálida, sim, mas cheia de vida. Ao final da sessão, lembrava um atleta depois da maratona: pálida, suando, a respiração difícil. Incredulidade à parte, não havia dúvidas de que os dons paranormais eram desgastantes e traumáticos para ela.

Porém, não havia tempo no momento para se preocupar com Anahí. O nome que ela citara com tanta ingenuidade despertara um ódio que Grayson trazia no íntimo há dez anos.

Esticando o braço, apanhou o telefone e discou vários números passando por quatro departamentos até chegar ao homem que procurava.

- Oliver falando.

- Alfonso - Grayson disse com alívio. - Pensei que não fosse conseguir encontrá-lo. Desde quando o Serviço de Inteligência do Exército tornou-se tão inacessível?

- Desde que você saiu daqui, Grayson - Alfonso Oliver respondeu com incrível presença de espírito. - Eles me mantêm preso aqui, longe da tentação. Têm medo de que eu fuja para as montanhas Rochosas, como você.

- Eu estava farto disso aí. Não sei como consegue suportar esse departamento há tanto tempo.

Houve uma longa pausa do outro lado da linha.

- Nem eu - Alfonso admitiu. - Sei que não telefonou para bater papo, Phil. Conheço-o bem para saber que não é dado a este tipo de coisa. O que houve?

- Problemas, para variar. Só que, desta vez, são seus. A questão está fora da minha alçada e não sei como lhe explicar o caso sem que pense que enlouqueci.

- Experimente.

- É sobre a Spandau Corporation, Alfonso. - Silêncio do outro lado. - Você me ouviu? Temos uma moça aqui e...

- Não diga mais nada, Phil. - Alfonso falava num tom tenso, baixo, apreensivo. - Vou até aí. Não comentou nada com ninguém, não é?

- Alfonso, trabalhamos juntos muito tempo e acho que você me conhece melhor do que ninguém. Quando acha que pode vir?

- Vou chegar hoje à noite, mas não diga a ninguém que estou indo. Apareço na sua casa. Ainda mora sozinho?

- Marge levou as meninas. Pode vir, estou sozinho. Você ainda gosta de um bom uísque?

- Não, agora só bebo vinho branco - Alfonso brincou. - É claro que ainda gosto. Até mais tarde, Phil.

- Até.

Phil olhou para o telefone e, então, recolocou-o no gancho. Sua intuição estava correta. Sabia que a Spandau Corporation representava problema. Dos grandes. Graças à ajuda de Anahí as investigações tomariam novo rumo.

Grayson achava curioso o fato de sentir-se tão pouco à vontade na presença dela, apesar de serem amigos. Suas visões, que eram quase transes, haviam ajudado muito nos últimos dois anos, salvando vidas, encontrando coisas e até pessoas desaparecidas. Mas preferia que tudo fosse mais racional, que houvesse uma explicação concreta para o que se passava com ela.

Não ia ser fácil explicar seus dons paranormais a Alfonso Oliver sem passar por imbecil. Alfonso era bastante franco quando queria e não se interessava nem um pouco por metafísica.

Mas tinha que preveni-lo, claro. Anahí Hardy não era do tipo que se submetesse a sua tática intimidadora e, conhecendo-o bem, sabia que Alfonso não iria engolir facilmente a "paranormalidade" dela. Se fosse preciso, serviria de intermediário entre os dois, pois não pretendia ficar de braços cruzados vendo Alfonso tentar colocá-la contra a parede. Por outro lado, Anahí tinha mais garra do que se podia supor e talvez conseguisse encará-lo com mais coragem do que muita gente.

Tentado a preveni-la, pegou o telefone, mas mudou de ideia. Alfonso lhe pedira para não comentar sobre sua vinda e tinha razão. A Spandau era um caso muito sério. Se Alfonso dissera que viria ainda esta noite, viria mesmo e nada no mundo o deteria. Por sorte o caso estaria fora de sua responsabilidade em poucas horas.