Fanfic: Cega paixão (terminada)

Mas as lágrimas não paravam. Era como se tivessem vida própria e, revoltadas por terem ficado tanto tempo sufocadas, recusavam-se a ser controladas. Elas lhe escorriam pelas faces, pelo pescoço e, quando pendia a cabeça para trás, molhavam-lhe os cabelos. Estava frio demais para chorar, pensava; frio demais para sentir qualquer coisa.

Anahí não imaginava que ele fosse levá-la para casa e, quando o carro parou, ela olhou para o chalé modesto todo iluminado.

Alfonso não desligara o motor nem se mexera e ela se indagava se deveria descer do carro e deixá-lo sozinho. Sozinho e de posse de seu único meio de transporte, enquanto ficava ilhada naquela casa, assombrada pelas visões terríveis que a assaltavam.

Sem forças para lutar, pousou a mão sobre a maçaneta mas Alfonso a deteve.

- Espere um pouco. - Sua voz soou rouca, rude, e era a primeira vez que se dirigia a ela desde que se encontraram na casa de Phil. - Você deixou todas estas luzes acesas?

- N-não sei...

- Deixou a porta aberta?

Ela ergueu o rosto, estreitou os olhos e viu o facho de luz vindo da porta da cozinha.

- Não sei. Não me lembro de quase nada. Acho que sim. Eu estava tão preocupada em conseguir...

- Tenho quase certeza de que alguém esteve aqui. - Sua frieza magoou-a. - O que acha, minha guru?

A brincadeira surtiu o efeito esperado, despertando-a do estado de choque.

- Não sei - repetiu.

- Você não sabe de nada mesmo, não é? De que adiantam estes tais poderes se não consegue prever que a própria casa vai ser invadida, ou que um inocente vai ser morto? Aposto que foi por causa de alguma visão que você foi até lá.

- Exatamente. E você? Por que foi?

Ele não respondeu, a princípio, limitando-se a apertar-lhe a mão com mais força. Depois, brincou:

- Eu queria fugir de você.

Saber que Alfonso mentia, ou pelo menos não dizia toda a verdade, encorajou-a a fazer-lhe mais perguntas.

- Onde está o seu carro?

- Numa curva qualquer da estrada. Fui até a casa dele de carona.

- Pois não vou permitir que leve meu carro, a menos que eu vá com você.

Seus olhares se cruzaram por um segundo, como se ambos tivessem se assustado com o que acabara de dizer.

- Não quero que aconteça com você o mesmo que aconteceu com Phil, Anahí. Só não sei se é mais seguro esperar aqui no carro ou ir atrás de mim.

- Você acha que ele ainda está lá dentro?

- Não sei; você é quem devia me dizer. A menos que não possa e, neste caso, teremos que nos virar só com a minha intuição. Pois ela me diz que, se esse sujeito estiver por aqui, não é seguro você ficar dentro do carro; portanto, venha comigo. Siga logo atrás de mim, quieta, e esteja preparada para fazer qualquer coisa que eu mandar sem vacilar. Certo?

- Você acha que foi o "Degolador do Colorado?"

- Quer saber se acho que Phil foi morto pela mesma pessoa que tem matado várias mulheres na região? Sim. Não sei se ele está lá dentro a sua espera, mas creio que já esteve aqui.

Anahí estremeceu de medo. Extenuada, não pôde sequer usar seus poderes para tentar imaginar o que se passava no interior da casa. Sua única escolha era obedecê-lo e torcer para tudo dar certo.

Embora dissesse a si mesma que não se importava, tinha medo de morrer, principalmente nos braços de Alfonso Oliver. Pela primeira vez na vida sentia o desejo de ser feliz, alegre, extrovertida, mas sabia que, para isso, teria que atravessar muitos perigos.

- O que tem em mente?

- Vamos entrar e ver se alguém esteve ou ainda está na casa. Se estiver, será um homem morto. - Alfonso falou com tal determinação que não deixava margem para dúvidas. - Se não estiver, pegaremos umas coisas e daremos o fora daqui. Vamos.

            Alfonso a soltou e saiu do carro. Anahí o seguiu arriscando uma olhadela por sobre os ombros fortes. A mata em torno da casa lhe pareceu mais escura e ameaçadora que nunca. Como se as árvores estivessem fechando um cerco ao seu redor.