Fanfic: Cega paixão (terminada)

Já começava a escurecer quando Alfonso voltou. Como não visse luzes nem ouvisse vozes, chegou a temer que Anahí tivesse saído, mas ela não cometeria tal tolice. Por outro lado, não havia sinais da presença de outra pessoa que pudesse tê-la raptado. A simples idéia de que algo pudesse ter acontecido a Anahí o transtornou.

Com o coração apertado, correu para o quarto. No escuro, viu apenas os lençóis embolados e, petrificado de medo, não conseguiu se mexer. Anahí estava coberta dos pés à cabeça com a manta azul e rosa, e Alfonso temia descobri-la. E se algo tivesse lhe acontecido?

Movendo-se devagar, sentou-se na beirada da cama e começou a puxar a ponta da manta. Anahí não se mexeu nem esboçou qualquer reação enquanto ele lhe revelava o rosto pálido. Mas, logo em seguida, ela abriu os olhos e, reconhecendo-o, sorriu.

Alfonso não entendia o motivo daquele sorriso uma vez que sempre se portara como um idiota, ainda que como único meio de se defender. Mas, em vez de repeli-lo, ela lhe sorria de modo irresistível, despertando-lhe o desejo de abraçá-la, com a manta e tudo, mergulhando no azul profundo daqueles olhos.

- E então? Como foi?

Sua voz era meiga, enternecedora, e Alfonso perguntou-se o que estaria acontecendo com sua autodefesa. Brotou-lhe um ímpeto muito forte de abraçá-la mas, então, lembrou-se de que Anahí não gostava de ser tocada. Principalmente por ele.

Alfonso sentou-se do outro lado da cama, afastando-se dela, e acendeu a luz do abajur.

- Mal. Eles mentiram para mim.

- E o que disse a eles? - Sentando-se, Anahí começou a pentear os cabelos sob o olhar atento e fascinado de Alfonso, que a fitava, maravilhado, pensando em coisas que não devia.

- Menti também.

Ela suspirou:

- Mas pensei que estivessem do mesmo lado.

- Teoricamente. Quando você crescer vai descobrir que não se pode confiar nos governos. Nem mesmo no nosso.

A intenção de Alfonso era fazê-la reagir, e conseguiu.

- Vá para o inferno - ela exclamou, descendo da cama.

Com aquela roupa preta, Anahí parecia ainda mais magra. Alfonso sempre preferira as mulheres mais cheias de corpo e lembrava-se de como Amy Lee reclamava por ter ganhado cinco quilos após o casamento, que não conseguia perder. Mas ele a amara cada vez mais, até o dia em que a perdera. Garotinhas magras como Anahí não o atraíam.

Mas Anahí não era, na verdade, uma garotinha: tinha vinte e nove anos e, se as tais visões eram verdadeiras, passara por maus momentos, vendo acontecimentos terríveis antes mesmo que acontecessem. E o pior: sem que pudesse fazer nada para evitá-los, abrandá-los, torná-los menos ruins. Seu papel era de mera testemunha.

- Eles me escondem alguma coisa - disse Alfonso, esticando-se na cama com as costas apoiadas no travesseiro. Mesmo cansado ainda não ia dormir. - Estão mantendo sigilo absoluto sobre o desaparecimento de Shari Derringer e, por algum motivo, não revelam o que está acontecendo nem para mim.

- E por que não disse a eles o que sabe?

- Intuição.

- Só isso?

- Por enquanto, só. A menos que queira olhar na bola de cristal e descobrir mais alguma coisa. Acho que eles já sabem o que aconteceu com Mary Nelson. Sabem que há uma ligação entre os dois casos.

Anahí parou de pentear os cabelos e o fitou.

- Por quê?

- Porque deram a morte de Phil como suicídio.

- Suicídio?

- É... suicídio...

Anahí sentou-se na cama, perto dos pés dele. Alfonso jamais vira cabelos tão longos e brilhantes, nunca tocara uma mulher com aqueles cabelos, nunca fizera amor com alguém assim. Mas, de alguma forma, sabia que não demoraria a acontecer. Sentia-se cada vez mais atraído.

- O que você acha que está havendo?

- Não sei... Ou Mary Nelson vai aparecer no lugar de Derringer ou vice-versa, mas a Spandau Corporation está metida nisso. Só não entendo por que não me chamaram. Não há ninguém vivo que saiba mais a respeito dessa organização do que eu.

- Talvez pensem que você ainda está emocionalmente envolvido com a questão.

- É verdade. E sabem que estive em Denver, embora não me perguntassem nada. Estão esperando, me observando para ver se me ofereço. Desconfiam de tudo e de todos. - E suspirou esfregando os olhos. - Ouça: não quero que ponha os pés fora deste apartamento. Eles me seguiram até aqui, mas acho que ninguém me observava quando cheguei. Não sei se sabem da sua existência, mas é melhor que não saibam. Pelo menos por enquanto.

- Por que não dorme? - ela perguntou, vendo-o bocejar.

- Não posso. Tenho muita coisa para fazer; uns telefonemas para dar.

- Mas está muito cansado.

- Talvez eu tire apenas um cochilo - concedeu, deitando-se. Me acorde daqui a meia hora.

- Claro.

Alfonso sabia que ela não o acordaria, mas estava acostumado a despertar no momento que desejasse. Talvez uma hora de sono o refizesse.

- Trouxe-lhe umas roupas - murmurou, sonolento - E mais comida também.

- Obrigada.

Sem mais uma palavra, ela deixou-o só.