Fanfic: Cega paixão (terminada)

Anahí ignorou a pilha de sacos e caixas deixados perto da porta da frente. No momento, interessava-se mais por comida do que pelas roupas novas que Alfonso lhe trouxera. Aliás, nunca usara algo tão confortável quanto as roupas dele e não tinha pressa de trocá-las por peças novas, ainda com ares de loja.

Preferia não pensar em nada: nem na morte de Phil, de Mary Nelson, ou mesmo no estranho conforto que as roupas de Alfonso lhe proporcionavam.

Anahí pegou os pacotes e foi para a cozinha, adivinhar o que continham antes de abri-los: duas garrafas de cerveja preta, que foram direto para a geladeira; uma caixa de pizza congelada, para o freezer; o filé, para a gaveta de carnes; e o pacote de café extraforte, que guardou no armário.

Ao tirar um vidro de nozes do fundo do pacote, deixou-o escorregar e cair no chão, mas, por sorte, ele não quebrou. Tudo ali no apartamento era de primeira, e o piso, de vinil, impediu que o pote se espatifasse e lhe cortasse os pés descalços. O vidro rolou e acabou entrando embaixo da geladeira.

Sem se preocupar em apanhá-lo, Anahí abriu o outro pacote. E qual não foi a surpresa ao encontrar só produtos vegetarianos, iguais aos que tinha em sua casa, no Colorado: macarrão japonês, tortinhas de maçã, castanhas salgadas e até uma lata de sorvete. Alfonso se lembrara de suas preferências.

Ou será que não? Talvez também gostasse de comida japonesa e tortinhas de maçã. Não... impossível. Uma pessoa carnívora como ele, apreciadora de comidas bem temperadas e bebidas fortes, na certa não se interessaria pelo sabor mais ameno dos pratos vegetarianos.

Ocorreu-lhe, então, uma outra explicação: talvez tivesse um relatório tão completo a seu respeito que incluísse até suas preferências em relação à comida. Se fosse este o caso, quais outros segredos seus teriam sido revelados no tal relatório? Será que ele sabia daquele incidente em que empurrara Stevie Bishop num lago lamacento por tê-la chamado de bruxa? Sabia que seus tios lhe batiam, quando pequena, pensando que suas visões não passavam de fingimento? Será que Alfonso Oliver sabia sobre Alan, será que sabia que ela ainda era virgem? Provavelmente sabia de tudo. A idéia arrepiou-a e, por sorte, o apartamento era bem mais quente do que seu chalé nas montanhas. Vinha sentindo muito frio ultimamente e reparara que Alfonso não tinha cobertor elétrico.

Cansado como estava, Alfonso na certa dormiria a noite toda. Mas e ela? Onde iria dormir? Se tivesse pensado no assunto antes, teria lhe pedido que dormisse no sofá e lhe emprestasse a cama.

"De que adiantaria?", indagou-se, apanhando o vidro de nozes para comer algumas. Alfonso não era do tipo cavalheiro, dado a gentilezas. Pelo menos, não com ela. Provavelmente teria sugerido que ela fosse dormir no sofá ou que dividisse a cama com ele.

Mas o que a fizera pensar assim? E por que sentia uma súbita onda de calor ao pensar na resposta? Por quê, afinal, ocupava-se em pensar em sexo quando seu único amigo tinha sido brutalmente assassinado havia menos de vinte e quatro horas?