Fanfic: Cega paixão (terminada)

"Devia ter aceitado a oferta de carona", Anahí constatou ao dirigir sob a neve. As estradas estavam muito escorregadias, parecendo um rinque de patinação, e mal lhe restavam forças para prestar atenção ao caminho.

Entretanto, se abandonasse o carro ali, teria que voltar para buscá-lo mais tarde ou ficaria presa em casa, sem meio de transporte durante todo o tempo que durasse o que o rádio chamara de uma "tempestade de neve típica desta época". Porém, apesar de já morar no Colorado há dois anos, ainda não se acostumara com o clima da região.

Jamais se aventuraria a dirigir pela estrada no auge da tempestade, mas não gostava da sensação de isolamento que a falta de carro lhe proporcionava. Era muito mais o efeito psicológico que a afetava. Não gostava de sentir-se presa num lugar.

Anahí mal via a hora de chegar em casa. Seria a conta de acender a lareira, tomar um banho bem quente e deitar sob as cobertas.

Sempre dormia um sono profundo depois dessas sessões, procurando refazer as energias perdidas. Para, em seguida, começar tudo de novo. Agora, o que mais a preocupava era a estrada. Daqui a uns dias, sim, tentaria mais uma vez descobrir o corpo de Mary Nelson.

Na verdade, já não tinha mais a mínima esperança de encontrá-la com vida. Porém, como Phil Grayson havia dito, a polícia precisava saber o que havia acontecido. De um dia para o outro Mary Nelson, uma simples dona de casa, residente em Golden, Colorado, desaparecera sem deixar pistas. Com certeza fora morta, mas ninguém sabia por que, como ou onde.

Era a quarta mulher a desaparecer nos últimos meses. Os outros três corpos haviam sido encontrados logo depois, violentados, a garganta cortada sem que ninguém soubesse por que o assassino as escolhera.

Mas Mary Nelson ainda não tinha sido encontrada. Salvo esta exceção, seu caso era exatamente igual ao das demais, só que uma semana já se passara desde que a polícia iniciara a busca. E a tensão na área de Denver aumentava a cada dia.

A entrada para carros de sua casa estava praticamente coberta pela neve e o carro derrapou para o lado quando Anahí fez a curva. Por sorte tinha comida bastante para vários dias no freezer e na despensa, pois não planejava sair até que a neve parasse e o céu voltasse a ficar azul.

Com um pouco de sorte, as malditas visões lhe dariam uns dias de sossego. Não queria mais pensar no destino de Mary Nelson, não queria ver seu corpo jogado em algum lugar, o rosto desfigurado...

Mas como é que sabia disso? A palma de suas mãos suava e o coração disparou no peito. Parou o carro na frente de casa, sem sequer se preocupar em guardá-lo na garagem, e correu para dentro.

Exausta, não se lembrou de acender a lareira nem foi direto para o banho. Apenas tirou os sapatos, ligou o aquecedor elétrico e rumou para o quarto, onde se atirou na cama e enfiou-se debaixo das cobertas. Sob o cobertor elétrico, fechou os olhos com força para esquecer as visões e conseguiu dormir.