Fanfic: Cega paixão (terminada)

Sem mais uma palavra, deu-lhe as costas e saiu, pretendendo refugiar-se no banheiro, mas Alfonso ergueu-se do sofá num pulo e segurou-lhe os pulsos. Assustada, Anahí perdeu o equilíbrio e teve que se apoiar nele para não cair. Assaltada por uma visão, Anahí entrou em pânico e começou a lutar para soltar-se, mas não conseguia.

- Pare - Alfonso murmurou-lhe junto ao ouvido, porém Anahí estava tomada por um verdadeiro terror.

A visão se repetia, uma vez mais.

Havia sangue por toda parte ao redor deles; o cheiro forte sufocava, sua consistência quente banhava-lhe as mãos. Anahí lutava contra a visão da mesma forma que tentava se libertar de Alfonso, gritando, chorando, murmurando coisas que não ouvia. Preocupado e chocado, Alfonso chacoalhou-a com força segurando-lhe o queixo.

Visivelmente transtornada, ela parou de se debater e o fitou. Todo o corpo doía-lhe: os pulsos vermelhos com as marcas das mãos dele, a cintura fina comprimida contra seu tórax. Mas ela sabia que era a única responsável por aquilo. Alfonso apenas procurara evitar que se machucasse.

Exausta, respirou fundo e soltou o ar bem devagar.

- Desculpe - pediu, baixando os olhos, preferindo não encará-lo.

- Está se sentindo melhor?

A voz dele era macia, carinhosa, e Anahí teve vontade de recostar a cabeça em seu peito e fechar os olhos. Esquecer o passado, esquecer o futuro e viver apenas o presente. Rolar naquela cama imensa, o vestido vermelho solto ao seu redor, sentir as mãos dele deslizando por seu corpo...

- Por favor, me solte.

- Não. Algo estranho acontece quando a toco e sei que não está morrendo de desejo por mim. Então, me diga: o que é que você vê? O que é que a assusta tanto?

- Nada, nada - afirmou, de olhos fechados, balançando a cabeça.

Mas Alfonso, insistente, segurou-a com mais força obrigando-a a encará-lo.

- Diga.

Não adiantava mais mentir; ele já percebera que tinha o poder de tornar suas visões mais nítidas e reais. Ela não sabia dizer por que ou como, mas o toque dele funcionava como um amplificador, aumentando seus poderes paranormais a níveis assustadores.

- Um homem - murmurou baixinho. - Um homem com uma faca.

As mãos de Alfonso deslizaram por seus braços em direção aos ombros mas Anahí já não relutava.

- Como ele é? Onde está? Aqui?

- Aqui, não. Há alguém vindo para cá. Vindo para nos pegar. Ele foi embora.

- Para onde?

- Não sei.

- Para onde? - ele insistiu.

- Há água. Água gelada, chuva fina caindo sobre barcos arredondados - descreveu, tentando enxergar através da mente. - Uma casa grande e vazia perto da água.

- Droga! - Ele a soltou e no mesmo instante a imagem desapareceu. - Não consigo, Anahí...

Ela se recostara junto à parede, zonza, desorientada.

- Não consegue o quê?

- Acreditar nesta palhaçada. Não acredito nisso tudo, e me sinto como um idiota tentando decifrar o que você fala.

- Eu jamais pensaria em fazê-lo de idiota. Aliás, seu senso de dignidade é mais importante do que as vidas de outras pessoas.

Seu sorriso irônico enfureceu-a.

- Por acaso acha que suas visões conseguem salvar a vida de alguém?

Ela se lembrou da morte de Alan, as águas escuras do Potomac fechando-se sobre ele, e estremeceu.

- Talvez. Quem sabe uma delas consiga salvar a minha. E a sua.

- Se chegar a tempo. Suas visões chegam muito em cima da hora; era preciso que viessem com mais antecedência e talvez tivessem salvado a vida de Phil.

Suas palavras cruéis feriram-na profundamente.

- Vá para o inferno! Você é mesmo um cretino!

Caindo em si, Alfonso se aproximou e a puxou para junto dele novamente, só que com ternura, visivelmente arrependido.

- Me perdoe. Às vezes, perco o controle. Me perdoe.

- Às vezes... Oh, Deus, por que não consegui evitar? Se tivesse visto tudo antes, se...

- Psss... - ele sussurrou. - Não foi culpa sua.

Com a cabeça pousada no peito largo, ouviu o coração dele bater disparado. De olhos fechados, deixou-se deliciar com o calor que lhe transmitia, o perfume másculo da loção que usava. Anahí estava consciente do perigo que corria. Se ao menos pudesse se livrar daqueles poderes... Viver como uma pessoa normal...