Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso passou a saborear o filé e beber a cerveja preta de sua marca favorita. Enquanto comiam, pensou que talvez fosse um erro trazê-la de volta à cruel realidade do mundo.

A expressão tristonha de seus olhos poderia nunca mais desaparecer, o que o deixaria sinceramente arrependido. Talvez Anahí se apaixonasse por ele, o que complicaria a situação. Apesar de tudo o que lhe contara, não acreditava mais no amor, nem estava disposto a amar mais ninguém, porém, era exatamente daquilo que Anahí Hardy precisava, a crença no amor, em finais felizes, na possibilidade uma vida ativa e alegre. E de um pouco de fantasia também. Enfim: tudo o que ele não podia lhe dar. E quem era ele, afinal, para interferir daquela forma na vida dela? Nunca se portara como um príncipe encantado pronto a despertar uma donzela, ainda mais uma donzela tão sensível. Deveria deixá-la adormecida, as emoções encerradas no peito até que alguém mais adequado a despertasse. Alguém mais carinhoso e suave que pudesse compreendê-la, respeitá-la e... amá-la. Ele não seria capaz. No entanto, não podia deixá-la só. Se a deixasse, Anahí morreria. Era uma obrigação que devia à memória de Phil.

Portanto, estavam irremediavelmente unidos pelo destino e, mesmo sabendo que deveria manter-se longe dela, algo lhe dizia que em menos de quarenta e oito horas fariam amor.

- E então? - ela quis saber, já na metade do filé. - Não vai me contar?

- O corpo de Shari Derringer foi encontrado numa pedreira na Virgínia. Ela foi violentada e degolada como as outras vítimas do Colorado. Os legistas acham que foi há nove ou dez dias.

Anahí cruzou os talheres e ele não a culpou por ter perdido o apetite.

- Mary Nelson desapareceu há dez dias.

- O corpo de Shari já estava em decomposição mas o pai dela o reconheceu e a arcada dentária coincide. Pelo menos, é o que estão dizendo...

Ela arregalou os olhos e Alfonso indagou-se onde Anahí teria deixado os óculos de aro de metal que, na sua opinião, só serviam de barreira entre ela e o mundo.

- Então, é ela mesma.

- A menos que o secretário de Estado e o FBI estejam mentindo.

- Isso seria possível?

Ele deu de ombros, tomando mais um gole de cerveja.

- O que você acha?

- Não sei; pensei que você soubesse.

Alfonso esvaziou metade da lata pousando-a com força sobre a mesinha.

- Desacreditar do meu próprio governo, para quem trabalho há tantos anos? - ironizou. - Acha que eu poderia ser tão cínico?

- Acho.

Ambos riram com sinceridade.

- Engraçado. Quando Shari desapareceu, trajava um conjunto de linho branco. É claro que estava quase irreconhecível quando a encontraram, mas era o mesmo conjunto. Mas há um detalhe que me deixou pasmo, sabe...

Alfonso não precisou dizer do que se tratava.

- Está brincando? Não vai me dizer que...

- É exatamente o que pensou: Shari estava usando só um pé de sapato vermelho. E ninguém conseguiu encontrar o outro.

- Droga!

- Estão espalhando que ela foi vítima de um assassino qualquer, claro; que seu corpo devia estar na pedreira há dias.

- O assassino podia ter guardado o sapato como... lembrança. Isto é, se eu estiver enganada, pode ser que tudo não passe de um mal-entendido e haja de fato um assassino à solta fazendo vítimas em várias partes do país.

- Não acredito nisso. Você viu o carro da Spandau em seu transe, viu o sapato vermelho... agora encontram o corpo de Shari e... ela usa apenas um pé de sapato vermelho!

Anahí bebeu mais um pouco de cerveja.

- É, seria coincidência demais, eu concordo. O caso Mary Nelson e o Shari Derringer estão ligados, não há dúvida...

- Isso sem falar na grande semelhança física entre as duas.

Ela balançou a cabeça:

- Não sei onde vai dar toda essa história, Alfonso, mas parece tudo tão terrível! Não gosto nada disso e... - Depois de esvaziar o copo, olhou-o admirada: - Também não gosto de cerveja!