Fanfic: Cega paixão (terminada)

Alfonso recostou-se na cadeira e sorriu:

- É, você já não é mais a mesma: comeu carne e gostou; tomou um copo inteiro de cerveja sem reclamar, retribuiu os meus beijos. Logo, logo vai querer vestir o vestido vermelho e sabe-se lá como tudo irá terminar.

- Você sabe muito bem como vai terminar, por isso nada no mundo me fará vesti-lo. Pode devolvê-lo à loja. E as roupas que comprou são muito pequenas para mim. Uso tamanho quarenta e não trinta e oito.

- Sou um homem experiente e, acredite, pode ser que use tamanho quarenta, mas seu corpo é tamanho trinta e oito. Suas roupas são muito largas.

- Confortáveis, eu diria. Além disso, que lhe importa saber qual o meu manequim?

Ele sorriu de modo malicioso e engoliu a resposta. Anahí ainda não havia se recuperado das experiências trágicas dos últimos dias, e não queria atormentá-la ou chateá-la fazendo brincadeiras provocantes demais.

- E agora? O que vai acontecer? - ela perguntou, curiosa.

- Amanhã, irei trabalhar normalmente e ficarei a par da versão oficial do caso, depois verei o que posso descobrir. Tenho amigos influentes que confiam em mim, por incrível que lhe pareça.

- De modo algum. Phil era seu amigo e acreditava em você. E olhe que não era homem de confiar em qualquer um.

- Então, quer dizer que sou digno de confiança.

- Não foi o que falei.

- Ou um amigo valioso?

- Talvez. Você se julga meu amigo?

Embora já não acreditasse no amor nem em Deus, a amizade era algo que Alfonso realmente prezava. Se a julgasse sua amiga, jamais lhe trairia a confiança. Nem a levaria para a cama se soubesse que a magoaria. No entanto, tinha certeza de que, cedo ou tarde, fariam amor.

Enquanto meditava, Anahí esperava pela resposta. Uma simples resposta.

- Claro - Alfonso afirmou sem convencê-la. - Não sou seu inimigo - disse, reelaborando a resposta, aproximando-se o máximo possível da verdade.

Porém, ao contrário do que imaginara, Anahí não se chateara.

- Agradeço-lhe por não ter mentido - disse simplesmente, o que foi suficiente para fazê-lo sentir-se um verdadeiro monstro. Que estava querendo dela, afinal? Alfonso sentia que ainda faria essa pergunta a si mesmo mil vezes, antes de chegar à resposta certa.

- Onde prefere dormir? - perguntou, então, mudando de assunto. - a cama é bem grande e não costumo me mexer muito durante o sono. Caso contrário, jamais teria conseguido dormir naquele seu sofá.

- Acho que, por uma questão de justiça, vou preferir o sofá.

- Olhe, você estará a salvo comigo na cama desde que não use o vestido vermelho - brincou.

- Ah, é? É só o vermelho que o excita?

- Quer que eu lhe prove o contrário? - provocou, entrando no espírito da brincadeira.

- Não, não. Não é preciso.

Alfonso gostaria que fossem de uma vez para a cama e esclarecessem logo aquela situação. Talvez só assim conseguisse tirá-la do pensamento e preocupar-se com Shari Derringer ou Mary Nelson; em descobrir por que o pai de Shari queria que todos acreditassem que ela estava morta.

Mas aquela era uma desculpa muito simplista. Havia um milhão de razões para querer tocá-la, para desejar fazer amor com ela até deixá-la exausta, até descobrir-lhe todos os segredos. Um milhão de razões para fazê-lo e apenas uma para não concretizar seu desejo - tinha medo de se apegar. Talvez, de se apaixonar por Anahí.

- Pode ficar com os travesseiros - afirmou, disfarçando a excitação com um bocejo. - Acha que vai conseguir pegar no sono?

- Claro.

- Ótimo. Mas faça-me um favor: não sonhe.

Viajar de primeira classe era bem diferente: as aeromoças tratavam Mohamed por sr. O`Donnel, que na verdade era um nome falso, mas mesmo assim ele se sentia respeitado.

- Mais alguma coisa, sr. O`Donnel? - a aeromoça perguntou.

- Não, obrigado - agradeceu Mohamed Ali Reza, satisfeito. -Acho que vou dormir um pouco.

Recostando-se no banco, fechou os olhos, feliz por estar rumando para um clima mais ameno e por ter deixado aquele... monte de problemas para trás. Não que não pudesse liquidado o caso de Oliver e da garota sozinho, mas toda vez que se envolvia demais numa missão preferia se retirar de cena em alguns momentos. Mandar Kempton para Washington em seu lugar demonstrava apenas que era um homem superior, que não se deixava atingir por tais banalidades.

Ao se mexer, sentiu o cano da arma que trazia sob o braço apertar-lhe as costelas. Preferia ter trazido sua faca, mas só estava acostumado a um tipo especial, feito de aço. A que trazia sob o braço era de material plástico e não causava problemas com o detector de metais do aeroporto. Não que pretendesse usá-la. Seu maior desejo era voltar para a casa azul às margens do rio Benedetto e aproveitar o calor. No entanto, jamais andava desarmado.

Enquanto descansasse, esperaria com ansiedade pelo relatório de Kempton e então a Spandau Corporation poderia completar seu trabalho, sem se importar com os joguinhos imbecis do governo americano. E jamais tornar a pôr os pés num lugar tão gelado como o Colorado.

- Pretende ficar muitos dias em Veneza? - perguntou a aeromoça, muito solícita.

- Não muitos - afirmou, imitando com perfeição o sotaque irlandês. - Vou passar umas semanas com minha namorada.

- Espero que se divirta, senhor...