Fanfic: Cega paixão (terminada)

- Droga! - exclamou, batendo o prato no balcão. - Não consegui descobrir nada. Todos parecem concordar entre si e só me contam essa versão oficial mentirosa.

- E você? - ela perguntou, começando a saborear o jantar.

- Fiz que acreditei. Sei jogar o jogo deles. Agi como se não discordasse de nada; só assim poderei descobrir o que de fato aconteceu. Mas o pior de tudo é que há um cara do FBI nos perturbando. A mim, em particular.

- FBI?

- É. Normalmente eles não se dão muito bem com o pessoal da Inteligência do Exército e este agente que eles mandaram agora parece desconfiar de mim por algum motivo. O sujeito está fazendo tudo para me complicar a vida.

- Por quê?

- Eles sabem que estive no Colorado. Estão encobrindo o motivo da morte de Phil, do mesmo modo como fazem mistério sobre o caso de Shari Derringer, mas estão tentando descobrir tudo o que eu sei.

- E por que não chegam e simplesmente perguntam?

- Porque sabem que eu não responderia - afirmou, bebendo um bom gole de uísque. - Não até descobrir o que está acontecendo de verdade; não até ter certeza de que eu e você não seríamos sacrificados em prol de uma causa maior, por exemplo.

- Alfonso, o governo americano não sai por aí matando cidadãos inocentes. Pelo menos eu não acredito nisso...

Ele não respondeu, não disse uma palavra, e seu silêncio foi mais significativo que qualquer explicação.

- Não importa; não acredito no que diz. Se corremos perigo é por causa de alguma organização internacional que possa ter se infiltrado no governo.

- Pode ser - Alfonso concordou, lavando o copo. - Para ser franco, não tenho certeza de mais nada, e acho que o único modo de sobrevivermos é levar em conta todas as possibilidades.

- Quem sabe esse tal agente do FBI seja um agente estrangeiro - ela sugeriu tentando aliviar a tensão.

- As coisas podem não ser tão fáceis e óbvias quanto imagina. Na maioria das vezes, o inimigo é quem menos se espera. Os bons sujeitos quase sempre são os piores. Não sei se podemos confiar nem mesmo no secretário Derringer. E se ele tivesse algum bom motivo para matar a filha, ou "tirá-la de cena"? Ele mesmo pode ter participado de toda a trama... ou pode ter preferido reconhecê-la como morta para evitar um escândalo maior...

Antes que Anahí percebesse o que ele tencionava fazer, Alfonso tirou-lhe o prato da frente, pondo-o fora de seu alcance. Ela pensou em brigar, exigir o prato de volta para que acabasse de jantar, mas desistiu. Sabia que toda aquela situação já o estava deixando desesperado.

- Faça-me o favor, sim? Toque-me.

Ela se levantou, nervosa, e se recostou no balcão.

- O quê?

- Ponha suas mãos em mim, Anahí. Feche os olhos e pense em Shari Derringer.

- Por quê?

- Quero saber se o corpo que eles identificaram com tanta certeza era mesmo o dela.

- Mas o que o faz pensar que eu possa encontrar uma resposta?

Alfonso segurou-lhe as mãos delicadas e pousou-as em seus ombros.

- Você sabe tanto quanto eu que suas visões se tornam mais nítidas, seus poderes aumentam quando me toca. Vejamos se conseguimos fazê-los trabalhar a seu favor e não contra você. Pense em Shari. - E a fez sentar-se novamente, agachando-se a sua frente.

Anahí pensou em fugir, mas conteve-se. Preferiu acomodar-se melhor no banquinho e afastar as pernas para que Alfonso pudesse chegar mais perto.

Com as mãos apoiadas em seus ombros, fechou os olhos e procurou se concentrar na figura de Shari Derringer. Vira uma das fotos dela nas colunas sociais, e também nos noticiários da televisão, enquanto esperava pela previsão do tempo. Tentou fixar-se em seu rosto perfeito de pele clara, mas só a imagem de Mary Nelson lhe surgia.

Então, começou o frio. Aquela sensação estranha que lhe gelava o sangue nas veias, fazendo-a tremer ao sentir a proximidade da morte. Inconscientemente segurou com mais força os ombros de Alfonso, como se ele fosse a única presença sólida e concreta no mundo. E deixou que a onda fria a congelasse. Tremia tanto que chegou a pensar que aquela capa de gelo se despedaçasse, mas não; era grossa demais, impedindo-a de abrir os olhos e olhar para Alfonso. Mas imaginava se ele também estaria envolto pela tal capa.

- Shari Derringer.

A voz dele soou distante e Anahí, concentrando-se, conseguiu focalizar o rosto alegre e jovial de Shari: os olhos azuis muito brilhantes, a boca vermelha curvada num sorriso, os cabelos loiros soltos pelas costas nuas.

Mas, de repente, o rosto começou a se transformar, ficando pálido, sem vida. Os olhos tornaram-se acinzentados, cheios de medo, a boca se abriu num grito terrível. Porém, não se tratava mais do rosto de Shari, e sim do de Mary Nelson - uma inocente dona de casa de Golden, Colorado. Era Mary Nelson quem tinha morrido, cujo corpo fora identificado por um pai mentiroso e um grupo de autoridades. Era ela quem estava vestida com o conjunto branco e um único pé de sapato vermelho.

Anahí sentiu as mãos dele deslizarem por seus braços para apoiá-la. Exausta e sem forças, se apoiou nele sem hesitar. Com uma delicadeza surpreendente Alfonso a ergueu nos braços e carregou-a para a cama.