Fanfic: Cega paixão (terminada)

Deitada, os olhos abertos, braços ao longo do corpo, procurou focalizar apenas o teto branco, as sombras vindas do banheiro, pensar somente nos programas musicais que vira, mas a imagem de Mary Nelson continuava viva em sua lembrança.

Ao sentir o colchão ceder ao seu lado, nem se preocupou em olhar. Uma toalha úmida foi posta sobre sua testa, cobrindo-lhe os olhos, mas nem assim a imagem de Mary se desfez. Anahí permaneceu imóvel. Algum tempo depois - horas ou minutos, não saberia dizer ao certo - sentou-se, deixando que a toalha lhe caísse no colo. Alfonso estava sentado de pernas cruzadas entre os lençóis desalinhados, observando-a com incrível paciência.

- E então? - ele quis saber, tentando segurar-lhe a mão.

- Não me toque - Anahí pediu. - Pelo menos por enquanto.

Aos poucos sua respiração voltou ao normal, o frio foi passando.

- É Mary Nelson, não é? - ele insistiu, ansioso. - Não é de Shari Derringer o corpo que está no Serviço Médico Legal, é?

Ela limitou-se a balançar a cabeça numa afirmativa.

- Você também viu?

- Não exatamente. Foram só flashes; porém, bem mais do que consigo ver normalmente. A pergunta é: onde está Shari? O que aconteceu com ela?

- Ela está sorrindo em algum lugar - Anahí garantiu segurando a toalha nas mãos. - Esperando.

- Esperando o quê?

- Não sei, nem quero saber.

- Ouça: estamos envolvidos nisso até o pescoço e nossa única arma é o conhecimento, são as informações que você consegue. Não sabemos em quem podemos confiar.

- Não há ninguém de confiança?

- Muito poucos, já lhe disse. Pessoas como Phil, com quem trabalhei durante anos, mas tenho que tomar cuidado com as perguntas. Aliás, todo cuidado será pouco.

- Por que Derringer iria mentir sobre a morte da própria filha? E a mãe dela?

- Eles são divorciados. Foi um divórcio muito complicado e a mãe saiu do país há muito tempo. Não voltou nem agora, para reconhecer a filha.

- Mas e quando Shari aparecer? O que eles vão dizer?

- Não sei, mas desconfio que esta moça esteja ligada a algo muito escuso, algo que o pai talvez prefira ocultar.

- Por que pensa assim?

- Não sou só eu. Muitas pessoas sabem que Shari arranjou muitos amigos um tanto suspeitos nos últimos anos, e adquiriu péssimos hábitos. Parece ter se envolvido, inclusive, com drogas pesadas. Além do mais, você disse que ela está sorrindo.

- Posso ter me enganado. Talvez ela nem saiba de Mary Nelson e tenha apenas decidido fugir com um amante.

- E você acredita nesta história?

- Não - reconheceu.

- Amanhã não irei trabalhar. Vou me encontrar com uns velhos amigos e ver se me mantenho longe do agente que está liderando a investigação - o tal de Kempton. Não o quero atrás de mim.

- Pelo menos ele é inofensivo.

- Espero que seja, mas não estou certo de nada. Agora, trate de dormir. Você está pálida como um fantasma.

- Puxa, que gentileza! Acorde-me quando quiser vir dormir e eu irei para o sofá - pediu, fechando os olhos para se livrar da claridade que, apesar de tênue, a incomodava.

- Claro - ele afirmou, apagando a luz e saindo. Mas Anahí sabia que não a acordaria.