Fanfic: Cega paixão (terminada)

Ao despertar, Anahí não fazia idéia de que horas eram. Apesar de Alfonso garantir o contrário, ela precisava de óculos para enxergar de longe e esquecera-os na mesa da sala. A distância, não conseguia distinguir os números do relógio digital.

Devia ser mais de meia-noite e Anahí tinha aquela sensação estranha que sempre a invadia depois das visões. No entanto, desta vez, a sensação era diferente. Provavelmente porque as visões também haviam sido diferentes, mais rápidas, concluiu, os olhos fixos no teto. E talvez por este motivo tivessem lhe consumido tanta energia.

Nem deveria ter acordado. Exausta como ficara, deveria ter dormido diversas horas, para recuperar as energias. No entanto, mesmo tendo dormido pouco, suas forças pareciam estar voltando lentamente. As forças e o interesse pela vida. Sentia o sangue correr com mais força nas veias e até o estômago roncava de fome. Imóvel na cama, indagava-se se haveria sobrado comida chinesa do jantar, se ainda teria uma lata de cerveja na geladeira, se o vestido vermelho lhe serviria tão bem quanto a lingerie que ele lhe comprara.

Foi preciso uns segundos até perceber que ainda estava usando o conjunto de renda: o biquíni e o sutiã cor de pêssego realçavam-lhe o corpo bem-feito, apesar de um pouco magro.

E não era só: aquele murmúrio surdo que ouvia não eram as vozes do além; era a respiração de Alfonso ali ao seu lado. Ele a despira, sem acordá-la, e a cobrira com a manta azul e rosa. Vagarosamente, virou a cabeça para fitá-lo. De olhos fechados, dormia tranqüilo, a respiração profunda e constante. E, por sorte, não estava nu. Usava uma camiseta branca e cueca escura. Durante o sono, Anahí puxara todo o lençol para si deixando-o sem coberta nenhuma. Um misto de lassidão e curiosidade a fez permanecer ali, parada, observando-o.

Sabia que as pernas de Alfonso eram longas, mas não tão longas quanto as que via agora. Longas, musculosas e... muito sensuais. Os pés eram grandes e estreitos. Casualmente, deslizou os olhos por todo o corpo dele, sem se deter em lugar algum, deleitando-se com a beleza da figura masculina. Nunca tinha tido a chance de observar um corpo de homem daquela forma, e achou a experiência fascinante.

A camiseta folgada havia subido expondo-lhe o abdômen coberto por uma camada espessa de pêlos escuros que escasseavam da cintura para baixo. O peito, como já vira antes, também era peludo e musculoso, dando-lhe uma beleza selvagem e muito viril.

Anahí nunca dormira com um homem; nem assim como agora, apenas para dividir o mesmo leito. Alan a entendia e nunca a forçara a nada, nem lhe impusera uma situação que sabia que a amedrontaria.

Mas, com Alfonso, ia ser diferente. Tão logo achasse oportuno, tentaria fazer amor com ela. E ela já tinha dentro de si uma estranha certeza: o receberia de coração aberto.

Porém, caindo em si, reconheceu que não havia amor no relacionamento que os unia. Não havia lugar para o amor em sua vida e, pelo visto, nem na de Alfonso, um homem complicado, duro e extremamente prático.

Será que aquela pele era tão macia quanto parecia? Indagou-se, sentindo um desejo crescente por ele. Será que se o tocasse as visões voltariam? Tornaria a ver o rosto pálido e sem vida de Mary Nelson? Ou pior, será que Shari Derringer lhe sorriria?

Alfonso continuou respirando profunda e lentamente e Anahí concluiu que ele era muito mais bonito que qualquer outro homem que já vira antes, mesmo os artistas de cinema.

Sem se reprimir, deslizou uma das mãos sobre o colchão na direção dele e tocou-lhe o ventre bem de leve.

Os pelinhos eram macios, e a pele abaixo, rija e quente. Nenhuma visão horripilante assaltou-a, nenhuma visão erótica surgiu-lhe...

A mão forte e rápida como uma serpente segurou-lhe o punho. Anahí, encabuladíssima, o fitou.

- Então, você estava acordado - disse, sentindo-se uma tola.

Seus dedos continuavam a tocá-lo e Alfonso segurava-lhe o pulso com menos força, sem intenção de machucá-la ou puni-la. Porém, mesmo que tentasse, ela não conseguiria soltar-se.

Sua mão estava perigosamente próxima do elástico da cueca; era só esticar os dedos e tocá-lo, mas Anahí não se mexeu, esperando que ele tomasse a iniciativa.

- Há uma frase de uma música que diz - ele murmurou num tom rouco e sensual, na escuridão do quarto:- "Se você não me quer, não me atormente com carinhos..."

E soltou-a, à espera.

Percebendo que o excitara com seu toque, ela encolheu depressa a mão, como se aquele contato a queimasse. Intimamente, seu coração exultava e batia acelerado.

Alfonso gemeu, frustrado, e virou de bruços.

- Durma, Anahí...

Mas ela não tinha sono. Seu desejo era aproximar-se dele e abraçá-lo. Pressionar o rosto naquelas costas largas, sentir o corpo dele sobre o seu, protegendo-a contra o resto do mundo.

Assustada, puxou o lençol até o pescoço, sem se oferecer para dividi-lo com Alfonso. Jamais o tocaria de novo, jurou a si mesma sabendo que mentia. Aliás, deveria até levantar-se e ir dormir no sofá, mas não o faria. Alfonso dificultava-lhe uma aproximação, aguardando que tomasse a iniciativa. Pois que esperasse. Conhecendo-o bem, sabia que sua paciência não era de ferro e, se a desejasse, teria que dar o primeiro passo.