Fanfic: Cega paixão (terminada)

Já no corredor, ouviu-o fechar a porta, toda arrebentada pelo pontapé que dera ao chegar. De repente, viu um casal saindo de um dos apartamentos e estremeceu de medo.

- Eu os conheço; está tudo bem - Alfonso murmurou baixinho e, afastando-lhe os cabelos da testa, afirmou: - Só que suas roupas estão um pouco amassadas.

Anahí pensou que talvez houvesse manchas de sangue em suas roupas mas recusou-se a olhá-las, temendo não conter um grito de horror. Por outro lado, raciocinou, Alfonso não a deixaria ter saído suja de sangue. Então, olhando para baixo, viu que a roupa que usava estava apenas amassada, dando a impressão de que dormira de roupa.

- Não se preocupe - Alfonso tranqüilizou-a. - As pessoas vão pensar que passamos umas horas bem divertidas na cama.

A brincadeira deixou-a furiosa e Anahí o teria fuzilado com o olhar, caso lhe restassem forças.

- Você acha que se tivéssemos estado na cama eu teria os olhos molhados de lágrimas?

Alfonso aproximou-se e deslizou a ponta de um dedo pelo decote em "V" do suéter de Anahí, dizendo com ternura:

- Há bons e maus motivos para se chorar, sabia? - A voz soara, a um só tempo, terna e sensual.

Anahí corou violentamente e a onda de calor espalhou-se por todo seu corpo. Não era preciso muita imaginação para ver-se deitada sob ele, as pernas enlaçadas em torno de sua cintura, os olhos molhados de lágrimas. Lágrimas de prazer. Um prazer tão intenso como jamais pudera imaginar. Caindo em si, retraiu-se, recriminando-se por se permitir delirar daquela forma tendo acabado de matar um homem.

Alfonso sorriu ao vê-la reagir, nem um pouco arrependido.

- Não há motivo para se culpar, se torturar. Kempton era um assassino, Anahí, e pelo que me contou pretendia executá-la sem compaixão. E, na certa, iria esperar lá no apartamento para me matar também.

- Você acha mesmo?

- Tenho certeza.

- Bem... acho que ele jamais o pegaria desprevenido...

- É bom saber que tem tanta confiança em minhas habilidades. Normalmente ele não me pegaria mesmo, mas suponho que tentasse usar você para me armar alguma cilada. Kempton tentaria acabar com nós dois de uma vez só.

- E teria dado certo?

- Não sei... já vi muita gente morrer, Anahí, muita gente importante para mim... mas não pretendo deixar que nada de mal lhe aconteça. Nem Kempton nem ninguém iria machucá-la, se eu estivesse por perto. E, a partir de agora, estarei sempre por perto.

- Estou com medo, Alfonso - ela disse, pela primeira vez, sem se envergonhar por isso.

- Sei que está. Mas tudo vai ficar bem, você vai ver.

- Será mesmo?

- Tenho certeza. Olhe, se o Kempton tivesse armado uma cilada, eu pensaria num jeito de sairmos da situação, nós dois daríamos um jeito de escapar.

- Como pode estar tão certo disso?

- Sei lá. Mas sei que seria assim. Afinal, somos especiais, srta. Hardy. E, quer admita, quer não, você gosta de viver. E eu também.

Ela o fitou, calada. Alfonso tinha razão: queria mais do que nunca viver. E, para provar que ele estava certo, ergueu-se, na ponta dos pés e o beijou.

Foi um beijo rápido, sincero e, um segundo depois, ela saiu correndo. Quando Alfonso alcançou-a, Anahí já estava perto do elevador. Ao entrarem, ele a segurou pelo cotovelo, num gesto mais possessivo do que protetor.

- Vamos sair pela porta da frente? - ela perguntou ao vê-lo apertar o botão do térreo.

- Vamos.

- Mas será que ninguém vai nos seguir?

- Sim, vai. Espero que todo mundo nos veja e nos siga, os bons e os maus sujeitos.

- Seria muita ingenuidade minha perguntar por quê?

- Não quero ninguém por perto quando Danny vier se livrar de Kempton. Prefiro que nos sigam e tentem descobrir para onde estamos indo e deixem o caminho livre para Danny.

- E se nos alcançarem?

- Eles não vão conseguir.

Alfonso afirmou com tanta segurança que Anahí não discutiu. O elevador chegou ao térreo e as portas se abriram.

- Tome - disse Alfonso entregando-lhe uns óculos escuros. - É melhor usá-los.

- Pensei que não se importasse com meus olhos inchados de tanto chorar.

- O problema é que seus olhos estão arregalados de medo, e qualquer um que repare vai estranhar. Não quero que um policial qualquer me prenda por seqüestro ou por maltratar minha mulher. Ponha os óculos, olhe sempre para mim e sorria.

Ela fez como Alfonso indicou e ensaiou um sorriso, dizendo num tom deliberadamente artificial:

- Que tarde agradável...

- Esplêndida! - ele concordou, conduzindo-a até a porta giratória. - Meu carro está logo aqui perto. Isto é, a menos que o tenham guinchado. Aí, sim, estaremos encrencados.

- Você parou aqui? Na zona proibida?!

- Sorria - ele sussurrou com a boca torta. - Eu estava com muita pressa.

- Por quê?

- Porque sabia que você estava em apuros.

- Como?

- Não me pergunte, guru. Consulte sua bola de cristal.

Anahí detestava quando ele a chamava de guru. Revoltada, aprumou os ombros e ergueu a cabeça. Só então caiu em si e percebeu que ele a provocara de propósito. A provocação surtira o efeito desejado, fazendo-a empinar o nariz sem se importar com os pedestres à volta.