Fanfic: Cega paixão (terminada)

Em meio à noite de sono agitado, Anahí preferira tirar a roupa em vez de diminuir a temperatura do cobertor elétrico. Quando os primeiros ruídos começaram a incomodá-la durante o sono, resmungou mal-humorada afundando-se sob as cobertas, a cabeça sob o travesseiro.

Os ruídos, no entanto, persistiram, atravessando a camada de plumas do travesseiro, penetrando seu sono e ativando seu instinto natural de proteção.

Devagar, ainda dopada pelo sono, tirou a cabeça de baixo do travesseiro e olhou para o relógio. Eram três e meia da madrugada - dormira apenas nove horas quando, na realidade, precisaria de pelo menos doze. Em silêncio, aguçou os ouvidos e verificou que o ruído cessara. Porém, antes de retomar o sono, decidiu ir ao banheiro.

No exato momento em que pegava o robe de flanela na guarda da cadeira, ouviu o ruído inconfundível de pessoas na sala.

Petrificada de medo, sentou-se na beirada da cama, o robe amarrado com força, os ouvidos e a mente aguçados. Será que se esquecera de trancar a porta? Não... não poderia ter sido tão descuidada sabendo que havia um perigoso assassino solto na redondeza.

Seria um ladrão ou o próprio assassino? Seu coração continuava a bater no ritmo normal e Anahí enviou um comando para o próprio cérebro, banindo o pânico. Mesmo não confiando cem por cento em seus instintos e intuições, parecia-lhe que o invasor era absolutamente inofensivo.

Sem barulho, levantou-se da cama e, cruzando o assoalho de tábuas, abriu a porta. A luz do quarto inundou o cômodo quase escuro revelando um vulto alto e sombrio, de pé, perto da lareira. Ele parecia prestes a acendê-la, arrumando as toras de lenha, e ao ouvi-la voltou-se com absoluto autocontrole.

- Posso ajudá-lo em alguma coisa? - Anahí perguntou, parecendo mais uma recepcionista do que uma pessoa cuja casa havia sido invadida.

- Desculpe-me por ter entrado assim. - Sua voz era grave, agradável, com um ligeiro sotaque texano. - Não pude prosseguir viagem por causa da tempestade. Bati várias vezes na porta, mas acho que você não ouviu. Fui obrigado a quebrar uma janela, mas já a remendei por enquanto; prometo consertá-la quando o tempo melhorar. Espero não tê-la assustado.

- Não, não assustou.

No escuro e sem óculos, ficava difícil para ela enxergá-lo direito. Via apenas uma figura alta e esguia, cabelos grossos e escuros, com a gola do casaco acolchoado cheia de neve.

- Você é bastante corajosa, levando-se em conta o que os jornais locais têm noticiado. E se eu fosse um estuprador ou um assassino?

- Mas não é - ela garantiu com tranqüilidade. - Seu carro saiu da estrada?

- A mais ou menos um quilômetro daqui. Eu não deveria ter insistido nesta viagem - admitiu, parecendo aborrecido consigo mesmo. - Espero que não se importe com minha entrada tão brusca, mas eu teria morrido congelado se tivesse ficado no carro.

- Não tem importância - Anahí disse, ignorando a inquietação que crescia em seu íntimo. - Vou fazer um café enquanto você chama um reboque.

- Gostaria muito de um café, mas já chamei a equipe de socorro e eles só poderão vir pela manhã.

Anahí procurou disfarçar a irritação.

- Neste caso, vou lhe trazer um cobertor; você pode dormir no sofá. Quer pôr algo no café que o ajude a dormir?

- Uma dose de uísque seria perfeito - admitiu, jogando um fósforo aceso na lareira. Assim que as chamas começaram a crescer, afastou-se em direção ao sofá. - E não precisa do café.

- Volto já. - Seu mal-estar persistia. Não era um desconforto físico diante daquele estranho, mas uma sensação de que algo não estava bem. - Meu nome é Anahí Hardy.

Ele então cruzou a sala a passos largos e seguros e ali, sob o clarão da luz vinda do quarto, ela pode vê-lo bem pela primeira vez. E o mal-estar aumentou.