Fanfic: Cega paixão (terminada)

Anahí o seguiu, estremecendo de frio sob a chuva enquanto ele desbaratava o complicado sistema de segurança. Lá dentro o ar estava úmido, cheirando um pouco a mofo, e o frio parecia pior do que do lado de fora. A primeira providência de Alfonso foi ligar o aquecedor e acender as luzes. A casinha era cercada por árvores altas e frondosas, e a luz da janela não avançava mais do que poucos metros na escuridão, o que a tranqüilizou.

Parada no meio da sala, Anahí reparou nos estofados confortáveis, na mobília de pinho, nos quadros primitivos, no tapete persa sobre o assoalho. As paredes eram brancas e uma escadinha estreita conduzia ao mezanino, onde ficavam o dormitório e o banheiro. Ela devia estar se perguntando quem morava ali, Alfonso concluiu ao pôr lenha no fogão da cozinha; quem lustrara o assoalho com tanto capricho, quem escolhera os quadros e a mobília com tanto gosto.

Anahí deteve-se à porta da cozinha e o observava. Seus cabelos continuavam soltos e despenteados, e Alfonso nunca a vira tão pálida. Os olhos, no entanto, brilhavam de curiosidade.

- Esta casa é sua, não é?

- Como adivinhou?

- Intuição. Eu conhecia este lugar mesmo sem ter estado aqui antes, e tudo aqui lembra você. Aquele apartamento horroroso de Washington não tem nada de seu.

- Sinto desapontá-la, mas não é verdade. - Alfonso serviu dois copos com uísque e deu um deles a Anahí. - O apartamento tem tanto de meu quanto esta casinha. Só que aprendi a separar muito bem minhas várias facetas.

- Entendo - Anahí murmurou, tomando um gole de uísque. - Não vou comer nada.

- Vai, sim - Alfonso afirmou entregando-lhe um vidro de castanhas e duas maçãs. Então, remexeu as compras que fizera no posto. - Não tinha sorvete; vai ter que se contentar com um chocolate.

- Tudo bem.

Alfonso conseguiu fazê-la comer as maçãs e dois punhados de castanhas salgadas, enquanto ele próprio devorava uma pizza.

Enquanto Anahí explorava melhor a casa, ele aproveitou para reforçar o fogo do fogão de lenha.

Alfonso sabia que Anahí, àquela altura, já devia ter descoberto o banheiro e a única cama da casa - menor e mais aconchegante que a do apartamento. Jamais dividira aquela cama com ninguém.

- Alfonso.

Anahí estava apoiada no parapeito do mezanino, os cabelos castanhos soltos pelos ombros tal qual uma heroína romântica, Julieta ou Rapunzel.

- Sim?

- Vou tomar um banho e vou para a cama, está bem?

- Ótimo.

- Onde quer que eu durma?

"Que pergunta boba", ele pensou, com um sorriso.

- Na cama.

Ela não discutiu. Talvez o julgasse um cavalheiro, deixando-a passar a noite no lugar mais confortável da casa. Ou, ainda, já soubesse o que estava por vir. Fosse o que fosse, não importava.