Fanfic: Cega paixão (terminada)

Já passava do meio-dia quando Anahí finalmente decidiu se levantar. Durante a manhã, o sol desaparecera e uma chuva fina o substituíra. Sozinha na cama, ouviu Alfonso movimentar-se no andar inferior, preparando algo cheiroso na cozinha.

Sua intenção era escovar os dentes e tomar um banho de imersão na banheira antiga que vira na noite anterior. Apesar de ter o corpo um pouco dolorido, sentia-se muito bem disposta.

Ainda sentada na cama, deixou o pensamento divagar, consciente de que era perigoso sem se reprimir. "Não é uma visão", disse a si mesma, sonhando acordada. A casinha de Alfonso era muito aconchegante. Tão aconchegante quanto os braços dele, tão confortável quanto seu calor. Era impossível deixar de imaginar o quanto seria bom viver ali e ter filhos com ele.

Estirando-se novamente na cama macia, encolheu os dedos dos pés e deixou a imaginação voar, as imagens coloridas transportando-a para um mundo lindo, longe da realidade. Da realidade tão distante dos sonhos.

Não foi preciso esforço algum para saber que a manta sob suas mãos fora tecida manualmente por uma senhora negra da Carolina do Sul. Alguém que conhecia Alfonso, que gostava dele. De olhos fechados, Anahí sentiu todo o carinho e o amor aplicados em cada trama do tecido grosso e rústico. Ah... se todas as suas visões fossem tão amenas, tão ternas...

Então, um flash vermelho infiltrou-se nos tons pastéis e ela tornou a ver o vestido vermelho. Sentiu também uma certa urgência, uma sensação estranha de... medo, e procurou concentrar-se. Mas o barulho das louças na cozinha fez a visão desaparecer, trazendo-a de volta à realidade. Anahí levantou-se da cama, prendeu os cabelos e foi para o banheiro, arrependida por ter dormido com a cabeça úmida. Ia levar muito tempo para desembaraçá-los.

Depois de encher a banheira, entrou na água bem quente e suspirou de satisfação. Fazer amor não era uma atividade tranqüila e serena como imaginara. Pelo menos, não com Alfonso.

Ao contrário de Alan, que respeitava seus medos, Alfonso ajudara a vencê-los, avançando aos poucos numa dose certa de firmeza e carinho. A simples lembrança dos momentos que vivera em seus braços a excitava.

O vestido vermelho estava pendurado na porta e Anahí riu com malícia ao perceber que Alfonso o colocara ali de propósito. E por que não usá-lo?

Na noite anterior, despedira-se para sempre do celibato, reconheceu, erguendo a ponta dos pés para fora da água. E Alfonso tinha toda razão - já não era sem tempo. Mas o mais importante, para ela em particular, fora a constatação de que nenhuma visão horrenda a assaltara mesmo durante um contato tão íntimo entre seus corpos. Na cama, só havia os dois. Nenhum herói ou vilão para interferir, e Anahí indagava-se por quê.

Como a água esfriasse depressa, resolveu pegar a toalha e sair antes que pegasse um resfriado. E, enquanto se enxugava, ouviu o telefone tocar.