Fanfic: Cega paixão (terminada)

Quando Alfonso subiu para o mezanino já passava da meia-noite. Ao ver Anahí adormecida, os cílios molhados de lágrimas, recriminou-se por tê-la tratado com certa rispidez, mas a única coisa que poderia ajudá-los agora era sua paranormalidade, suas visões. E, mesmo que isso a esgotasse, teria que fazer uso de seus poderes.

Alfonso quis consolar-se dizendo a si próprio que se preocupava antes de tudo com a vida dela, mas não conseguiu. Afinal, sabia que, apesar de querer muito protegê-la, a teria forçado a tentar encontrar Shari mesmo que Anahí não corresse perigo de vida. Já carregava a culpa da morte de Amy Lee na consciência e não pretendia repetir a mesma experiência, mas ainda assim acabava colocando o trabalho em primeiro lugar. Sempre.

Amy Lee... Ficara parte da noite sentado no sofá, olhando para as chamas da lareira e lembrando-se da mulher que perdera por devoção ao serviço. Amara-a como nunca conseguiria amar novamente; por mais atraído e envolvido que estivesse com Anahí Hardy, não era o mesmo que sentira por Amy. Não acreditava mais no amor, e não queria pensar no que poderia acontecer a alguém por quem se apaixonasse.

Amy Lee tinha só vinte e cinco anos quando os canalhas a pegaram. Alegre e cheia de vida, acreditava cegamente que Alfonso jamais permitiria que algo de mau lhe acontecesse. Mas ele e Phil saíram à procura de um assassino e, enquanto estavam fora, os homens da Spandau a tinham apanhado como refém. E, antes que pudessem atender às exigências, Amy estava morta.

Vivia remoendo aquilo dentro de si havia dez anos e não permitiria que nada parecido voltasse a acontecer. Alfonso não tinha culpa, mas seu amor pela esposa o impedia de enxergar a verdade. Sentia-se culpado por não ter abandonado o Serviço de Inteligência antes que ela morresse. Anahí não o compreendia, e julgava-o um idiota sem sentimentos. Não compreendia que depois daquilo jamais voltara a confiar plenamente em alguém. Melhor assim. Quem sabe um dia conseguisse contar-lhe a história toda, contar-lhe sobre Amy Lee, mas ainda não estava preparado.

Olhando para o rosto de Anahí, constatou que precisava desbaratar a Spandau Corporation o quanto antes e voltar a sua existência tranqüila. Sentia-se atraído e perturbado por ela, física e emocionalmente, e isso não era bom. Não para ele.

Além do mais, sabia que o próprio bem-estar emocional de Anahí terminara. Estava, na certa, convencida de que o amava, o que era de se esperar depois do que lhes acontecera. Na verdade, se não achasse que o amava, ela não teria se envolvido a tal ponto. Alfonso sabia que era sensível demais para fazer amor com alguém de quem não gostasse muito.

Mas, em breve, Anahí superaria a ilusão. Porque só podia estar iludida, não podia realmente amar um homem como ele. Teria que sair um pouco, circular, e ver que havia dúzias de homens mais carinhosos, mais gentis, prontos a se apaixonarem. E então o deixaria. Não tinha do que se culpar - despertara a Bela Adormecida e, tão logo ela se julgasse pronta para enfrentar o mundo, o abandonaria sem olhar para trás.

E ele não ia morrer por causa disso. Contudo, tinha plena consciência de que jamais a esqueceria.

Cuidando para não acordá-la, deitou-se ao seu lado. Se ela acordasse, fariam amor e, enquanto fisicamente Anahí o desejasse, Alfonso não poderia evitar o conflito interior. Era mais fácil tentar se convencer de que tudo acabaria bem sem ter que fitar aqueles olhos azuis. Um dia ela encontraria alguém que a merecesse.