Fanfic: Cega paixão (terminada)

Fazia frio em Veneza. Anahí puxou a gola do casaco e resistiu ao ímpeto de abraçar-se a Alfonso enquanto o vaporetto os conduzia através dos canais movimentados. Ela esperava encontrar sol e calor; não aquela chuva fina que parecia umedecê-la até os ossos. Romântica, esperava viver dias inesquecíveis e agradáveis ali em vez daquela sensação horrível que crescia em seu íntimo. Imaginara a cidade bonita, contudo a achava decadente e inóspita. Na certa, seu humor se refletia sobre a cidade, tornando impossível qualquer boa impressão.

- Nada lhe parece familiar? - Alfonso murmurou baixinho.

Seu jeito não era carinhoso, apenas falava baixo por cautela. A barca pública estava lotada e não se podia confiar ninguém.

Anahí ainda não se acostumara a ter os cabelos curtos e estranhava o vento frio na nuca. Os últimos tempos de sua vida tinham sido intensos, repletos de emoções fortes - boas e más. E, ao seguir na moderna barca pelos canais de Veneza, sua confusão aumentava, dando-lhe uma estranha sensação de desorientação.

Já estavam na cidade havia três dias. Três longos e infrutíferos dias, perambulando pelas ruas úmidas, pelos canais movimentados. Durante o dia, não se tocavam. À noite, faziam amor com paixão, como se quisessem recuperar todo o tempo perdido.

Às três da manhã, após outro dia inútil, insone, Anahí resolveu tentar. Precisava com suas visões descobrir alguma pista, algo que os ajudasse.

Sentada na cama, observou-o com atenção, reparando-lhe a respiração profunda e ritmada, os cílios escuros sobre a pele morena. Cuidando para não acordá-lo, tocou-o de leve à altura das costelas. Então, fechou os olhos e esperou.

Nada. Tentou relembrar as visões que tivera antes, o vestido vermelho, o sangue, mas foi inútil.

Subitamente, Alfonso abriu os olhos e segurou-lhe a mão com força. Ela não percebera que o acordara, mas continuou concentrada.

E viu sangue espalhado por toda parte. Viu-se vestida de vermelho escuro.

Instantes depois, Anahí estava no chão, encolhida num canto, olhando-o aterrorizada, sem saber como chegara ali.

Preocupado, Alfonso sentou na cama:

- O que foi que viu?

- Sangue.

- Oh, droga! - exclamou ao acender a luz da cabeceira. - Nada da casa? Nada que nos diga onde Shari está?

- Não era isso que eu estava tentando ver. Quis ver se você sobreviveria.

- Não me importo em sobreviver! Quando a hora chegar, não terei como escapar. Não gaste sua energia comigo; trate de encontrar Shari Derringer, isto sim.

- Amanhã - ela afirmou, imperturbável.

- É tão simples assim?

- Não. Só o que posso fazer é sair andando por aí até encontrar a tal casa azul.

- Você pode morrer de cansaço procurando algo que não sabe onde está!

- E você também, Alfonso... também pode morrer... - ela garantiu voltando para a cama. - Mas, ao que parece, isso agora não importa. De qualquer forma, a encontraremos amanhã. Boa noite.

Meia hora depois, a voz dele quebrou o silêncio do quarto:

- Não acho que vou morrer.

- Ninguém acha.

Alfonso segurou-lhe uma das mãos e a beijou.

- Prometo fazer o possível para que não aconteça. E o que posso prometer.

- Então, o jeito é torcer para que permaneçamos vivos.