Fanfic: Cega paixão (terminada)

Anahí esperou até o momento certo para agir, sem o conhecimento de Alfonso. Não que ele desconfiasse dela - tinha certeza de que Alfonso confiava em sua palavra, mas não saberia como explicar-lhe que ele estava interferindo em seus poderes.

Prometera ajudá-lo a encontrar Shari Derringer e seus amigos, mas só conseguiria se fosse sozinha.

E aguardou até que ele entrasse no banheiro. A pensão tinha vários folhetos sobre excursões pela cidade, passeios, lojas. Anahí tomou um remédio contra enjôo e saiu disposta a passar o dia todo fora, sozinha, na esperança de encontrar a tal casa azul.

E, para tanto, o meio mais seguro era a barca pública. Em Veneza, uma cidade perigosa e palco de muitos assassinatos, circular na barca seria mais fácil, fazendo-se passar por uma simples turista. Se os amigos de Shari eram tão eficientes como Alfonso falava, toda precaução seria pouca. Àquela altura, talvez até já soubessem que estavam em Veneza.

Esperava que Alfonso a compreendesse. Deixara um bilhete pedindo que a encontrasse aquela tarde na Piazzetta, na esperança de já ter alguma pista. Alfonso ficaria furioso ao descobrir que saíra sem a companhia dele; mas era a única forma de ajudá-lo. Não havia escolha.

Tivera o bom senso de pôr uma capa de chuva, cobrir os cabelos com um lenço e usar enormes óculos de sol antes de subir na barca lotada, como sempre.

O guia do grupo da excursão na qual se inscrevera na portaria da pensão anunciava que aquele era o primeiro dia quente das últimas semanas, e os turistas começaram a tirar os casacos. O sol havia saído, iluminando os canais, o famoso Ca d`Oro, e até os gondoleiros cantavam.

Mas, apesar do calor, Anahí continuava com a capa, fingindo prestar atenção às informações que o guia fornecia em três línguas. Porém, intimamente, pouco lhe importava o Palácio dos Doges, a Catedral de São Marcos, a Ponte Idos Suspiros. Noutra ocasião, teria ficado encantada, mas, no momento, tudo o que queria era encontrar a casa azul. Seus companheiros formavam um grupo alegre: havia turistas de vários países da Europa, um casal de americanos em sua segunda lua-de-mel, provavelmente com os filhos já formados, mas ainda sem netos, e um estudante universitário, também americano, viajando só. Anahí não estava com vontade de conversar, tentando se concentrar nos palácios e casas por onde passavam, mas o rapaz parecia ansioso por trocar idéias com alguém.

Por ironia do destino, teria perdido a casa azul se não fosse por ele. Haviam parado para almoçar numa trattoria com mesas para fora, tudo incluído na excursão, mas Anahí, com o estômago enjoado, não estava com apetite para macarrão com lula. Seu amigo, no entanto, devorou a porção com entusiasmo e Anahí chegou a pensar em oferecer-lhe sua porção sem ofendê-lo, mas não soube como. Após almoçarem, o rapaz jogava migalhas de pão para os pombos e Anahí, sem saber por quê, se emocionou com aquele gesto.

- Não está se sentindo bem? - ele perguntou, sorrindo. O rapaz tirara o suéter e, por baixo, usava o traje mais comum nas universidades americanas: uma camiseta com o emblema de uma universidade.

- Só saudades - comentou, imaginando se Alfonso a esganaria quando se reencontrassem.

E o pior era que o dia mostrava-se infrutífero.

- Quer esticar um pouco as pernas? - Martin, o rapaz, indagou.

Anahí aceitou sem vacilar. O rapaz não representava perigo e já estava cansada de ficar só, entregue às dúvidas e aos temores.

- Claro - concordou, tirando o lenço. - Para que direção vamos?

Eles estavam no centro de uma das dúzias de praças que existiam em Veneza.

- Você escolhe - ele brincou, pondo a mochila nas costas.

- Não precisa levá-la. Não temos tempo de ir muito longe.

- É uma questão de segurança. Aqui está tudo o que possuo.

- Entendo. - Olhando à volta, ela apontou para uma viela onde um canal secundário brilhava ao sol. - Por ali.

A cidade estava lotada de turistas por causa do bom tempo. Martin contava a respeito das dificuldades que encontrava na Universidade de Indiana e Anahí o ouvia sem muita atenção. De repente, saíram do sol e ela começou a sentir frio. Muito frio.

- Algo errado?

Ela tornou a vestir a capa que havia tirado.

- Não. Só um pouco de frio.

- Mas está fazendo calor - o rapaz alegou, mostrando a testa molhada.

- Devo ter pego um resfriado - Anahí disse, agitada, tomando a dianteira da caminhada, deixando-o para trás.