Fanfic: Cega paixão (terminada)

Ao chegar à beira do canal, parou bruscamente, quase perdendo o equilíbrio. Ali, as casas eram menores e mais velhas do que no Canal Principal. E, duas casas adiante, na outra margem, ficava a casa azul.

Anahí ficou paralisada, os olhos fixos na construção, ignorando a presença do rapaz. Não havia dúvidas - era a casa. Ao seu lado, havia uma pequena faixa de jardim cercado por uma grade alaranjada de ferrugem. Por trás das grades, Anahí vislumbrou a silhueta de Shari Derringer.

Imobilizada, sentiu o frio penetrar-lhe os ossos. E viu vultos na janela. Vultos que a observavam. Que idiota! Claro que haveria pessoas vigiando a casa. E, na certa, não a tomariam por uma simples americana de férias. Dando um passo atrás, chocou-se contra Martin.

- Desculpe - murmurou e perdeu a voz ao sentir a pressão inconfundível do cano de uma arma em suas costas.

- Não tem problema - ele disse, contente. - Caminhe comigo, com cuidado, e ninguém vai notar.

Martin contornou-a e deu-lhe o braço num gesto de companheirismo. Anahí percebeu que a arma, muito pequena, cabia na palma da mão dele.

- E se eu gritar e correr?

Por que não desconfiara de tanta amabilidade? Que tipo de poderes eram os seus que a atormentavam com cenas sangrentas mas falhavam na hora em que corria perigo?

- Morreria antes de tentar - ele garantiu, com voz calma e didática, conduzindo-a de volta pela viela estreita. - Você não faria uma bobagem dessas, não é, Anahí?

Mas Martin não a conduziu até a pequena ponte que cruzava o canal e representava a maneira mais rápida de se chegar à casa azul. Ele a levava para longe dali e Anahí teve esperança de que ele fosse um amigo de Alfonso. Fitando-o de relance- percebeu a frieza do olhar. A mesma dos olhos de Alfonso - olhos de quem já vira muita tragédia.

O grupo já tinha deixado a praça quando voltaram mas Martin, pelo visto, já esperava por isso. Ela o seguia sem resistência imaginando se conseguiria fugir pulando num canal; mas seria inútil. Não sabia nadar e as águas eram muito poluídas.

- O que pretende fazer comigo?

- Depende de como se comportar, depende de Alfonso Oliver, e do que você está fazendo por aqui. Onde estão hospedados?

- No Hotel Danieli - mentiu.

- Não minta. Onde vocês estão? - ele insistiu, pressionando a arma com mais força como se quisesse lembrá-la do perigo que corria.

- Pensione dei Zaglia.

- É bem provável mesmo. Alfonso sabe onde você está? Não sabe, não é? O que acha de voltarmos e fazermos uma surpresa para ele?

- Não pense que vou lhe dar o endereço.

- Nem precisa; basta olhar numa lista telefônica. Só que a demora pode me irritar e acho que você não gostaria de me ver nervoso. Posso descarregar minha raiva em Alfonso.

- Fica em Rio Branco.

- Ótimo.