Fanfic: Cega paixão (terminada)

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Quando Anahí acordou, estava tudo escuro, mas havia vozes abafadas por perto. O barulho da chuva batendo contra as paredes da casa, uma briga de gato lá fora, uma mãe brigando com o filho. Seus braços estavam atados às costas e a dor era quase insuportável, mas Anahí procurou não pensar na dor física e tentou rolar para o lado.

Estava sobre um estrado improvisado no chão de cimento, pernas e braços amarrados, boca amordaçada. Não era preciso apelar para seus poderes para saber que estava presa na casa azul. Com muita calma, conseguiu sentar-se e apoiar as costas na parede, e só então percebeu que não usava a mesma roupa de antes. Haviam lhe colocado uma espécie de camisola, larga e escura. Vermelho-escura.

Desesperada, começou a chorar, molhando a mordaça que a sufocava. Indefesa, não havia mais nada a fazer senão esperar.

Então, a luz do quarto se acendeu fortíssima e ofuscou-lhe a vista. Anahí fechou os olhos até que sentisse uma mão delicada tocar-lhe os cabelos.

- Pobrezinha - disse Shari, ajoelhada a sua frente. - Não chore.

Anahí lançou-lhe um olhar letal mas a garota limitou-se a abraçá-la e apertá-la de encontro a seu vestido de seda, envolvendo-a com seu perfume.

- Você verá que não é tão ruim assim; até vai se acostumar com a dor. Ali é muito bom nisso e você não vai nem se importar quando ele a matar.

Nesse instante Anahí fechou os olhos, horrorizada. Não por causa do que ouvira, mas o abraço de Shari trouxe-lhe, de súbito, uma visão claríssima, nítida como um filme, esclarecendo de vez certos detalhes que até então não havia conseguido entender. Agora compreendia por que a garota era tão importante para aquele grupo terrorista, a ponto de terem inventado aquela farsa do "Degolador do Colorado".

Dentro daquele cérebro entorpecido por drogas e álcool, havia informações secretíssimas tiradas do pai, capazes de matar milhares de pessoas. Apesar de seu baixo Q.I, Shari, de alguma forma, sabia da localização exata de uma dúzia de depósitos de mísseis espalhados pela Europa e América Latina. Não só a localização como os meios de burlar a segurança. Nos próximos dias a Spandau Corporation ia fazê-la despejar as informações e usá-las para desencadear uma série de acidentes que levaria o mundo todo a uma situação caótica. E só havia um meio de evitar a tragédia: deter Shari Derringer!

- Sei que não me compreende - Shari continuou -, mas procure não se preocupar. Não há como evitar.

- Shari! - O moço a quem ela chamara Ali estava parado na porta, furioso. - Afaste-se dela!

Shari afastou-se, cabisbaixa como uma criança.

- Mas eu só estava tentando confortá-la e...

- Você sabe muito bem que ela vai morrer! E ela também sabe; é por isso que está chorando. Vou matá-la como matei as outras! Volte para baixo, Shari.

- Ali! Você prometeu que ia me deixar ficar aqui também!

- Não prometi coisa nenhuma. Afaste-se daí. Não confio nela.

- Mas a moça está amarrada. O que poderia fazer?

- Já olhou para os olhos dela? Parecem olhos de assombração. Ela vê coisas que ninguém vê. - E se aproximou, agarrando Anahí pelos cabelos. - Mas, agora, não adianta. Pode me olhar o quanto quiser pois vou fechar estes olhos para sempre. E, se seus amigos descobrirem onde você está, morrerão também. Venha - ele disse, arrastando Shari consigo. - Você vai ter trabalho pesado logo mais, mocinha...

Ali apagou a luz ao sair, deixando-a novamente no escuro, e Anahí ouviu seus passos se afastando. Seu único consolo era saber que, ao menos, Alfonso não morreria. Àquela altura já devia estar revirando Veneza de cabeça para baixo, mas talvez jamais encontrasse a casa. Pela manhã, ela estaria morta; Shari e Ali já teriam fugido. E a única coisa que restaria a Alfonso seria vingar-se. Mais uma vez, a vingança seria seu maior motivo para viver.

Talvez a única coisa que ela tivesse a fazer, no momento, fosse não dar chance aos terroristas de matá-la selvagemente, como haviam feito com as outras. Para tanto, bastava atirar-se da janela e afundar nas águas escuras do canal.

Decidida a pôr o plano em ação, Anahí levantou-se, sempre apoiada na a parede. Então, viu um vulto na janela. Seu primeiro ímpeto foi atirar-se no chão, fazer algum tipo de barulho mas, depois, concluiu que, quem quer que fosse, não poderia ser pior do que Ali.

O intruso pulou como um gato, sem fazer o mínimo barulho, e veio direto ao seu encontro com olhos que enxergavam no escuro.

- Eu deveria deixar que eles a matassem - disse Alfonso ao tirar-lhe a mordaça e beijá-la.