Fanfic: Cega paixão (terminada)

- Fique aqui - Alfonso ordenou, indo olhar a pequena viela.

- Não.

- Anahí, não discuta.

- Ela não foi por aí - garantiu com absoluta certeza. - Fugiu pelo canal. Venha.

Movendo-se como um autômato, Anahí o levou até a beira do canal secundário que passava perto da casa. O dia amanhecera cinzento e frio, prometendo garoa. À distância, ela viu um vulto se esgueirando pela calçada estreita, quatro ou cinco casas adiante.

- Lá está ela - apontou.

Alfonso saiu correndo em seu encalço numa velocidade incrível, resultado de anos de treinamento. Em menos de um minuto, já quase a alcançara. Shari olhou para trás, apavorada, e continuou correndo.

- Vá embora! Deixe-me em paz! - gritou a moça.

Alfonso não deu atenção e agarrou-a pelo braço, mas a loira conseguiu escapar, gritando obscenidades, mordendo-lhe a mão. Ele tentou de novo, mas Shari o unhou e, mesmo a distância, Anahí adivinhou que ele praguejava.

Da terceira vez, Alfonso conseguiu segurá-la com força e virou-a de frente para si.

De repente, sem que Anahí entendesse como, Shari caía nas águas escuras do canal.

Sem hesitar, Alfonso atirou-se atrás dela e Anahí, apavorada, viu a figura de um homem parado a alguns metros de distância. Então, saiu correndo ao encontro de Alfonso, pensando em mergulhar a sua procura, mesmo não sabendo nadar.

E já enchia os pulmões quando ele surgiu sozinho na superfície das águas poluídas. Não havia barcos por ali naquele instante e Alfonso alcançava a calçada.

Anahí atirou-se em seus braços.

- Oh, Alfonso, pensei que ele também o tivesse matado.

- Não - disse ofegante. - Ele sabia o que estava fazendo. Bastava um tiro certeiro naquele cérebro comprometido e fim. Tudo acabado. Não precisava me matar. Shari era o alvo. - E olhou para o homem do outro lado do canal, com a arma na mão. Uma automática com silenciador. - Droga! - murmurou. - Ela não precisava ter morrido.

Puxando Anahí para trás de si, protegendo-a com seu corpo, gritou:

- Tiro certeiro, como sempre, Danny. Ela está morta.

- Eu sei, Alfonso. Foi melhor assim. Agora todos poderemos dormir tranqüilos, inclusive o pai dela.

- Foi ele quem o instruiu, não foi? Ele mandou matá-la?

Danny guardou a arma e sorriu, mas não respondeu à pergunta. Nem precisaria.

- Adeus, Alfonso. Nos vemos em Washington.

- Já estou saindo para que acabe o "serviço", Danny. Adeus e... boa sorte.

Alfonso segurou-a pelo braço e ambos saíram caminhando como se nada tivesse acontecido. Danny acenou-lhes e se afastou. Na certa, já tinha um modo certo para cuidar do corpo.

Para surpresa de Anahí, ao se aproximarem do Canal Principal, Alfonso fez sinal para um gondoleiro com a maior naturalidade. Como se não estivesse todo molhado com as águas sujas do canal; como se ela não estivesse descalça e usando aquela roupa ridícula.

- Pensione dei Zaglia - indicou. - E não tenha pressa.

Anahí, pasma, acomodou-se ao seu lado na gôndola e ambos seguiram pelos canais românticos como dois apaixonados.

- Não entendo como pude me enganar - ela comentou. - Eu tinha certeza de que era o seu sangue na minha roupa.

- Ora, convenhamos, você não é infalível. Mas eu preferia que fosse o meu e não o seu. - E tocou-lhe o pescoço de leve. - Shari não precisava ter morrido. Muitas pessoas já perderam a vida neste caso.

- É verdade... - Ela acariciou-lhe o rosto e disse baixinho: - E eu te amo.

Alfonso não respondeu.