Fanfic: Pain {Vondy}

     Estava escuro. Tinham algumas pessoas nas ruas e elas provavelmente não conseguiam me enxergar muito bem, não possuiam um olhar como o meu. Nenhuma delas era como eu. Sortudos. Afinal, quem gostaria de ser um monstro? Nem eu me aguento mais. Em meio a pensamentos autodepreciativos, entrei em um bar. A luz era baixa e tinham poucas pessoas, quase todas bebadas. Hoje a minha sobrevivência seria fácil, eles nem se lembrariam disso amanhã. Não me orgulho do que faço, mas é o único jeito de me manter vivo. Olhei em volta e fiquei enojado. Homens compromissados flertando com mulheres desesperadas, homens solteiros, que querem algo sério, flertando com as mulheres errados. Ou o mundo está insano, ou eu sou o único habitante terrestre com consciência do que está acontecendo. Eu, consciente, isso chega a ser engraçado. Ri sozinho enquanto me sentava no balcão, fazendo as pessoas me olharem como se eu fosse louco. Me sentei ao lado de uma mulher morena, que estava totalmente embriagada e comecei a conversar com ela. Após alguns flertes, peguei em sua mão e comecei a sentir a energia entrando em mim lentamente. Olhei profundamente em seus olhos e senti pena. Não queria ter que fazer aquilo. Quando me senti satisfeito, sai depressa sem olhar pra trás. Quem sabe, se eu fosse rápido o suficiente, a culpa não me seguiria? Como se um dia ela fosse me deixar em paz... Me dirigi para a minha casa. Quando cheguei lá, fui direto falar com o meu mestre. Não sabia bem porque, mas precisava falar com Martin, precisava ouvir suas palavras de conforto. O encontrei e nos dirigimos para o seu escritório. Contei a ele como eu estava me sentindo.

Martin: Você se sente assim todas as vezes, Christopher, minha cota de palavras de apoio já se acabou.

Christopher: Eu sei, eu sei que eu não deveria me sentir assim, mas... eu só queria ser uma pessoa.

Martin: Você, nós, somos pessoas.

Christopher: Não, não somos. Nós somos seres obscuros, Martin, nós não deveriamos existir. Só servimos para afetar o equilíbrio da vida.

Martin: Se você se sente assim, escolha logo a inexistência.

Christopher: Se ao menos eu fosse vivo, poderia acabar comigo mesmo.

     Levantei e sai. Peguei minhas coisas e fui para a rua novamente. Não sabia para onde estava indo, se nem Martin pode me ajudar, eu estava perdido. Ninguém ajudaria. Andei até encontrar um cinema 24hrs. Resolvi assistir Toy Story 3. Comprei as entradas e entrei, pedindo em pensamentos para que as criancinhas não fugissem de mim. Quando me sentei, vi várias pessoas com pipocas e desejei poder come-las, mas para que? Não era isso que meu corpo anciava, eu não tinha necessidade da comida dos humanos. Estavam passando os trailers quando um casal se sentou ao meu lado. Um homem alto, de cabelos cacheados e olhos verdes, acompanhava a mulher mais linda que eu já vira na minha vida. Seus cabelos vermelhos formavam ondas perfeitas ao redor do seu rosto de um branco perfeito, suas bochechas e boca rosada combinavam com seus cachos. Ela notou que estava sendo olhada e me retribuiu o olhar. Se eu tivesse coração, ele teria parado naquele instante. Seus olhos eram de um castanho intenso, tive a impressão de que ela penetrava o mais fundo da minha alma. Percebi que ela estava se sentindo envergonhada, porém não pude desviar o olhar. Ela se sentou ao meu lado. Depois de vê-la, algo que eu não sabia bem o que era, começou a fazer sentido na minha existência.