Fanfics Brasil - Capítulo VI - Continuação Sabor de Perigo [TERMINADA]

Fanfic: Sabor de Perigo [TERMINADA]


Capítulo: Capítulo VI - Continuação

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Anahí ficou imóvel. Daniella? A esposa de seu pai? Fez uma retrospectiva mental dos últimos seis meses. Lembrou-se das noites que ela e Christopher haviam passado na casa de seu pai. Todos os convites, jantares. Sentira-se feliz pelo fato de seu noivo ter sido aceito com tanta facilidade e rapidez pelo pai e Daniella; feliz porque, ao menos uma vez, a harmonia fora alcançada na família Cormier. Daniella, que nunca fora muito chegada à enteada, passara a incluir Anahí e Christopher em todas as suas listas de convidados.


Daniella e Chritopher...


— Esta é outra razão — Poncho falou — pela qual não acho que você deva voltar para a casa de seu pai.


Ela virou-se para fitá-lo.


— Você acha que Daniella...


— Ela será interrogada novamente.


— Mas, por que ela mataria Christopher, se estava apaixonada por ele?


— Ciúmes! Se ela não podia tê-lo, então, ninguém mais o teria.


— Mas ele já havia cancelado o casamento! Estava tudo acabado entre nós!


— De verdade?


Embora a pergunta fosse formulada em voz baixa, Anahí pressentiu a tensão contida por trás das palavras.


— Você estava lá, Poncho. Ouviu nossa discussão. Ele não me amava. As vezes, acho que nunca amou. Para ele, estava tudo definitivamente terminado.


— E para você?


Os olhos de Anahí encheram-se de lágrimas. Durante toda a noite, conseguira não chorar, não desmoronar. Ao longo daquelas horas de espera interminável, no hospital, ela se envolvera tão completamente por um manto de insensibilidade que, quando recebera a notícia da morte de Christopher, registrara o fato em algum canto distante da mente, sem ter realmente sentido o que acontecera. Não sentira o choque, nem a dor. E sabia que deveria estar sofrendo. Por mais que Christopher a tivesse magoado, por mais amarga que houvesse sido a separação, Christopher ainda era o homem com quem ela vivera durante o último ano de sua vida.


Agora, tudo parecia uma vida diferente. Não era a dela, nem a de Christopher. Tudo não passava de um sonho, sem a menor base na realidade.


Começou a chorar. Não eram lágrimas de dor, mas de puro cansaço.


Poncho não disse nada. Continuou dirigindo, enquanto a mulher a seu lado derramava suas lágrimas silenciosas. Tinha muito a dizer. Queria dizer que Christopher Bledsoe fora um patife, que não merecia aquelas lágrimas. Mas não era possível argumentar com lógica com uma mulher apaixonada. E ele estava certo de que Anahí amava Bledsoe. Afinal, aquela era a explicação óbvia daquelas lágrimas.


Segurou o volante com força, sentindo a frustração castigar-lhe o peito. Sentiu-se frustrado diante da própria inabilidade de confortá-la. Os Christophers da vida não mereciam as lágrimas de mulher alguma, mas, ainda assim, eram eles os homens por quem elas sempre choravam. Os garotos de ouro. Olhou para Anahí, encolhida junto à porta do carro, e sentiu uma onda de simpatia. E algo mais, algo que o surpreendeu. Desejo.


No mesmo instante, reprimiu o sentimento. Aquele era mais um sinal de que não deveria estar naquela situação. Era normal um policial sentir simpatia, mas, quando os sentimentos atravessavam aquela linha invisível que os separavam de emoções mais perigosas, estava na hora de pular fora.


Mas não posso pular fora, pensou, ao menos, enquanto não tiver a certeza de que ela se encontra em segurança.


Sem olhar para ela, disse:


— Não pode ir para a casa de seu pai. Nem para a de sua mãe, pois não é segura. Não possui sistema de alarme, ou portões. E seria muito fácil o assassino encontrá-la lá.


— Eu... aluguei um apartamento, hoje. Ainda está sem mobília, mas...


— Imagino que Daniella saiba disso.


— Sim, ela sabe.


— Então, está fora de questão. E quanto aos seus amigos?


— Todos têm filhos. Se souberem que um assassino está à minha procura... Irei para um hotel.


Poncho olhou para Anahí e notou que ela endireitara as costas, tentando assumir uma aparência corajosa. Mas era só aparência. O que poderia fazer agora? Ela estava apavorada e tinha razões para isso. Estavam ambos exaustos. Ele não poderia, simplesmente, deixá-la em um hotel qualquer, àquela hora da noite. Não poderia deixá-la sozinha. Quem quer que estivesse tentando apanhá-la, fizera um trabalho dos mais eficientes ao se livrar de Brogan e Bledsoe. Para um assassino assim, localizar Anahí seria uma brincadeira de criança.


A entrada para a Rota 1 norte estava bem à sua frente. Decidiu tomá-la.


Vinte minutos depois, passavam por entre um denso bosque. Ali, as casas eram escassas e distantes umas das outras. Mas as árvores haviam sido o principal motivo da atração de Poncho por aquela região. Quando garoto, tanto em Boston quanto em Portland, sempre vivera no coração da cidade. Embora houvesse crescido entre concreto e asfalto, sempre fora sensível ao apelo do campo. Todo verão ia para o norte, para pescar em sua cabana à margem do lago.


Pelo resto do ano, tinha de se satisfazer com sua casa naquela região sossegada e arborizada.


Seguiu pela estrada de terra particular, que atravessava o bosque, antes de alargar-se na entrada de sua garagem. Foi somente quando desligou o motor e olhou para a casa que Poncho foi assaltado pela dúvida. A casa não era nada de que pudesse gabar-se. Tratava-se de um chalé de dois quartos, feita de cedro, dois anos antes. E, quanto ao interior, ele não saberia dizer se estava apresentável.


Bem, não havia como mudar de planos, agora.


Saiu do carro e deu a volta para abrir a porta de Anahí. Ela também saiu, olhando confusa para a casinha no meio do bosque.


— Onde estamos? — ela perguntou.


— Num lugar seguro. Mais seguro que qualquer hotel. É só por esta noite. Até conseguirmos um lugar melhor.


— Quem vive aqui?


— Eu.


Se o fato a perturbou, ela não demonstrou. Talvez estivesse cansada e assustada demais para importar-se. Em silêncio, esperou que ele abrisse a porta. Poncho entrou logo atrás dela e acendeu a luz.


Depois de uma olhada rápida pela sala, murmurou uma prece de agradecimento. Não havia roupas sobre o sofá nem pratos sujos na mesinha. Não que o lugar fosse um exemplo de limpeza e organização. Com jornais espalhados e poeira acumulada nos cantos, o lugar apresentava aquele ar característico de recanto do solteirão. Mas, ao menos, também não lembrava um campo de batalha.


Poncho trancou a porta.


Anahí continuou parada, com ar confuso. Talvez fosse a condição da casa. Poncho tocou-lhe o ombro e ela sobressaltou-se.


— Você está bem? — ele perguntou.


— Sim, estou.


— Não parece.


Na verdade, ela não parecia nada bem, com os olhos vermelhos de tanto chorar, as faces pálidas. Poncho foi invadido pelo impulso de tomar aquele rosto entre as mãos e beijá-la. Má idéia. Estava se transformando num molenga diante de mulheres em perigo. E aquela mulher estava, definitivamente, correndo sério perigo.


Virou-se e foi até o que deveria ser o quarto de hóspedes. Quando viu a bagunça, descartou a idéia. Aquilo não era lugar para se alojar um hóspede. Nem um inimigo. Só restava uma solução: ele dormiria no sofá e Anahí dormiria em sua cama.


Lençóis. Ah, teria lençóis limpos?


Procurou no armário e, finalmente, encontrou um jogo limpo. Tudo estava se resolvendo, afinal. Virou-se e viu-se frente a frente com Anahí.


Ela estendeu os braços para apanhar os lençóis.


— Arrumarei o sofá.


— Estes lençóis são para arrumar a cama. Você dormirá no meu quarto.


— Não, Poncho. Já me sinto culpada demais. Deixe-me dormir no sofá.


Algo na maneira como ela o fitou disse a Poncho que ela estava cansada de aceitar o papel de objeto de piedade alheia. Ele lhe entregou os lençóis e um cobertor.


— Não é um sofá confortável. Não se importa?


— Tenho enfrentado muitos desconfortes, ultimamente. Nem percebi alguns deles.


Quase uma piada. Aquele era um bom sinal. Anahí estava lutando para se recuperar, o que constituía um esforço admirável.


Enquanto ela arrumava o sofá, Poncho foi à cozinha e telefonou para Gillis.


— Conseguimos informações sobre aquela placa de Massachusetts — Gillis anunciou. — Foi roubado há duas semanas. Ainda não conseguiram apanhá-lo. Cara, o sujeito é rápido!


— E perigoso.


— Acha que foi ele quem armou a bomba?


— Sim, e também quem matou nossas duas vítimas. Está tudo ligado, Gillis. Tem de estar.


— Como a explosão do armazém, na semana passada, se encaixa? Achamos que fosse um assunto de quadrilhas.


— Sim, uma advertência aos rivais de Billy Binford.


— Binford está na cadeia. Seu futuro não parece nada brilhante. Por que ele mandaria explodir uma igreja?


— A igreja não era o alvo, Gillis. Estou quase certo de que o alvo era Bledsoe ou Anahí. Ou ambos.


— E como isso se liga a Binford?


—Não sei. Anahí nunca ouviu falar nele. — Poncho passou a mão pelo rosto, sentindo a barba crescida. Estava cansado demais para conseguir pensar em qualquer coisa. — Há um outro ângulo que devemos explorar. O velho crime passional. Você conversou com Daniella Cormier?


— Sim, logo depois da explosão. Que mulher!


— Notou algo estranho nela?


— A que está se referindo?


— Qualquer coisa incomum. As reações, as respostas.


— Não que me lembre. Ela se mostrou adequadamente chocada. No que está pensando?


— Acho que os rapazes de Homicídios deveriam ir até lá e conversar com ela ainda hoje.


— Passarei o recado para Yeats. Qual é o seu palpite?


— Ela e Christopher Bledsoe estavam tendo um caso.


— E ela explodiu a igreja por ciúme? — Gillis riu alto. — Ela não me pareceu o tipo.


— Lembre-se do que dizem sobre esse tipo de mulher.


— Sim, mas não consigo imaginar aquela loira linda...


— Cuidado com os hormônios, Gillis.


O parceiro riu de novo.


— Se alguém está precisando cuidar dos hormônios, é você.


É o que tenho dito a mim mesmo, Poncho pensou ao desligar. Permaneceu um momento na cozinha, dizendo a si mesmo tudo o que vinha repetindo, desde que conhecera Anahí. Sou um tira, concluiu, estou aqui para servir e proteger... não para seduzir.


Não para me apaixonar...


Voltou para a sala. Bastou olhar para Anahí para sentir sua determinação desvanecer. Ela estava junto à janela, espiando a escuridão lá fora. Não havia cortinas, pois Poncho jamais sentira necessidade delas, ali em meio ao bosque. Agora, dava-se conta do quanto Anahí estava aberta e vulnerável. E ficou mais preocupado do que gostaria de admitir.



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Autor(a): letiportilla

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:05:03

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:04:57

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:04:08

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