Fanfics Brasil - Capítulo IX Sabor de Perigo [TERMINADA]

Fanfic: Sabor de Perigo [TERMINADA]


Capítulo: Capítulo IX

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Embora fosse velho, o barco a remo estava em boas condições. No final da tarde quente de verão, Anahí remou pelo lago quieto e pacífico.


Em vez de pescar, Anahí simplesmente deitou-se e apreciou o céu azul, cortado de vez em quando pelo vôo de um pássaro ou de um inseto.


Então, ouviu alguém chamar seu nome.


Sentou-se tão depressa que quase virou o barco. Poncho estava parado na margem, acenando.


Enquanto remava de volta, Anahí sentiu o coração bater com força. Por que ele voltara tão cedo? Na noite anterior, havia partido sem nem sequer um adeus, como se jamais pretendesse voltar a vê-la.


Agora, lá estava ele, imóvel à beira da água, a expressão inescrutável como sempre. Ela não o compreendia e desconfiava que jamais o conseguisse. Aquele homem surgira em sua vida para anular sua capacidade de pensamento lógico. Teve de fazer um grande esforço para manter as emoções sob controle, à medida que se aproximava.


Atirou-lhe a corda, que ele amarrou no pontão. A pressão firme da mão dele no seu braço provocou-lhe um estremecimento de prazer. Porém, bastou um olhar para o rosto fechado, para Anahí concluir que quem estava ali não era o amante, mas sim o policial frio e impessoal.


— Temos novidades — ele informou-a sem preâmbulos.


Ela sustentou-lhe o olhar.


— Novidades?


— Acreditamos saber quem é o nosso homem. Preciso que dê uma olhada em algumas fotografias.


No sofá diante da lareira, Anahí folheava um álbum de fotografias. A mesma lareira que os aquecera na noite anterior, enquanto faziam amor, estava agora tão fria como Anahí se sentia de corpo e espírito. Poncho sentava-se a quase um metro de distância, sem tocá-la. Apenas observava-a ansioso para que ela reconhecesse um dos rostos naquele álbum.


Anahí forçou-se a concentrar a atenção nas fotos. Examinou-as uma a uma, cuidadosamente. Quando chegou à última, sacudiu a cabeça.


— Não reconheço ninguém — disse.


— Tem certeza?


— Sim. Por quê? Quem eu deveria reconhecer?


Sem esconder a decepção, Poncho reabriu o álbum na quarta página.


— Olhe para este rosto. Nunca viu este homem?


Após um longo momento de estudo atento, Anahí respondeu:


— Não, não o conheço.


Com um suspiro de frustração, Poncho afundou-se no sofá.


— Isto não faz o menor sentido.


Anahí ainda concentrava-se na fotografia. Tratava-se de um homem na casa dos quarenta anos, de cabelos claros, olhos azuis e faces encovadas. Foram os olhos que lhe chamaram a atenção. Fitavam-na de maneira direta, intimidativa, como se a figura colada à página estivesse adquirindo vida. Estremeceu.


— Quem é ele? — perguntou.


— Seu nome é, ou era, Derrick James. Tem um metro e setenta e cinco, setenta quilos, quarenta e seis anos. Ao menos, é como deveria ser... se ainda estiver vivo.


— Quer dizer que não sabe se o homem ainda vive?


— Pensamos que estivesse morto.


— Não tem certeza?


— Não mais.


Poncho levantou-se do sofá e foi acender a lareira, pois a noite caía e a cabana começava a esfriar.


— Durante doze anos — Poncho contou —, Derrick James trabalhou nas operações de demolição do exército. Então, foi exonerado por má conduta, roubo. Não demorou muito a estabelecer uma segunda carreira. Tornou-se o que chamamos de especialista. Grandes explosões, altos pagamentos. Trabalhava para qualquer um que pagasse por sua habilidade: terroristas, mafiosos. Por alguns anos, ganhou muito dinheiro. Um dia, sua sorte acabou. Foi reconhecido na gravação de uma câmara de segurança de um banco. Foi preso, condenado, cumpriu um ano da pena. Então, fugiu. Seis meses atrás, os restos mortais de James foram encontrados em meio aos escombros, depois que uma de suas bombas explodiu um armazém. Bem, as autoridades acreditaram ser o corpo dele. Agora, parece que o corpo encontrado pertencia à outra pessoa. E James está vivo.


— Como sabe?


— Encontramos sua impressão digital num fragmento da bomba que explodiu o armazém, na semana passada.


— Acha que ele também explodiu a igreja?


— Estou quase certo. Derrick James está tentando matar você.


— Mas não conheço esse homem! Nunca ouvi falar dele!


— E não o reconheceu na foto.


— Não.


— Mostramos a foto de James para toda a sua família. Ninguém o reconheceu.


— Deve haver algum engano. Mesmo que esteja vivo, ele não tem nenhum motivo para querer me matar.


— Pode ter sido contratado para isco.


— Você já explorou essa possibilidade e só conseguiu pensar em Daniella.


— Ainda é uma possibilidade. Ela nega, é claro. E foi submetida ao detector de mentiras.


— Daniella permitiu que a submetessem ao detector?


— Sim.


Anahí sacudiu a cabeça, perplexa.


— Ela deve ter ficado furiosa.


— Para ser honesto, acho que ela adorou ser o centro das atenções. Conseguiu virar a cabeça de todos os homens do departamento.


— Ora, ela é muito boa nisso. Conseguiu virar a cabeça de meu pai... e de Christopher.


Poncho pôs-se a caminhar de um lado para o outro.


— Voltemos à questão de Derrick James e a ligação dele com você, ou com Christopher.


— Já disse que nunca ouvi esse nome antes. E não me lembro de ter ouvido Christopher mencioná-lo.


— James está vivo e preparou uma bomba para matar você e Christopher. Por quê?


Anahí voltou a olhar para a foto. Por mais que se esforçasse, não conseguia evocar memória alguma daquele rosto. Os olhos, talvez, fossem vagamente familiares. Poderia ter visto aquele olhar antes. Mas nunca o rosto.


— Conte-me mais sobre ele — sugeriu.


Poncho voltou a sentar-se.


— Derrick James nasceu e cresceu na Califórnia. Entrou para o exército aos dezenove anos. Não demorou a mostrar aptidão para o trabalho com explosivos e foi treinado no serviço de demolições. Participou de operações militares em Grenada e Panamá. Foi quando perdeu o dedo, tentando desarmar uma bomba plantada por terroristas. Àquela altura, poderia ter se aposentado por invalidez, mas...


— Espere. Disse que ele perdeu um dedo?


— Sim.


— De que mão?


— Esquerda. Por quê?


Anahí ficou imóvel, pensando, lembrando. Por que a imagem da mão sem um dedo parecia-lhe tão familiar?


— Foi o dedo médio da mão esquerda? — perguntou.


Poncho apanhou uma pasta de arquivo de sua maleta.


— Sim — respondeu —, o dedo médio.


— Não sobrou nenhuma falange? A perda foi total?


— Isso mesmo. Tiveram de amputar as três falanges. — Poncho a observava com atenção e ansiedade. — Então, você o conhece.


— Eu... não tenho certeza. Lembro-me de um homem sem o dedo médio da mão esquerda...


— Onde?


— No pronto-socorro. Há poucas semanas. Lembro-me de que usava luvas e não queria tirá-las. Mas eu tinha de tomar-lhe o pulso. Por isso, tirei a luva. E fiquei surpresa ao ver que lhe faltava um dedo. Ele usava algodão para estufar a luva. Acho que... demonstrei minha surpresa. Lembro-me de ter lhe perguntado como o perdera. Ele disse que fora um acidente com uma máquina.


— Por que ele estava no pronto-socorro?


— Tinha sido atropelado por uma bicicleta. Sofrerá um corte no braço e precisava de pontos. A parte mais estranha da história foi que ele simplesmente desapareceu, depois de ser atendido. Assim que terminamos a sutura, deixei a sala para apanhar alguma coisa e, quando voltei, ele não estava mais lá. Achei que havia fugido para não pagar a conta, mas, depois, descobri que ele pagara em dinheiro.


— Lembra-se do nome que ele usou?


— Não. Sou péssima para nomes.


— Descreva-o para mim. Diga tudo o que lembrar.


Anahí ficou em silêncio por um momento, lutando para trazer da memória o rosto de um homem que só vira uma vez, semanas antes.


— Não era muito alto... Um pouco mais baixo que você.


— Tenho um metro e oitenta. James tem um e setenta e cinco. E quanto aos cabelos, os olhos?


— Os cabelos eram escuros, quase pretos. E os olhos... — Anahí lembrou-se da surpresa causada pela ausência do dedo, de ter erguido os olhos e deparado com os dele. — Eram azuis.


— James tem olhos azuis. O cabelo é que não combina, mas ele pode tê-los tingido.


— Mas o rosto era diferente. Não tinha nada a ver com esta foto.


— James possui recursos. Pode ter pago por uma cirurgia plástica, para alterar completamente suas feições. Durante seis meses, acreditamos que ele estivesse morto. Seria tempo suficiente para que ele mudasse totalmente e se transformasse num homem diferente.


— Certo. Se foi mesmo James quem eu vi no pronto-socorro, por que ele quer me matar?


— Você o viu. Poderia identificá-lo.


— Muita gente deve tê-lo visto!


— Você é a única pessoa que poderia ligar aquele rosto com um homem que perdeu um dedo. Disse que ele usava luvas e não queria tirá-las.


— Sim, mas elas faziam parte do uniforme que ele usava. Talvez, a única razão para ele estar usando luvas fosse...


— Que uniforme?


— Uma jaqueta de mangas longas e botões metálicos. Luvas brancas. Calça com faixas dos dois lados. Como um ascensorista ou carregador de hotel.


— Notou algum logotipo bordado na jaqueta? Um desenho ou nome de hotel?


— Não.


Poncho voltara a levantar-se e a andar para lá e para cá.


— Muito bem. Ele sofre um pequeno acidente, corta o braço e tem de ir ao pronto-socorro para levar pontos. Você vê o seu rosto, descobre que ele não tem um dedo e vê seu uniforme...


— Não é o bastante para me ameaçar.


— Talvez seja. No momento, ele está operando sob uma identidade totalmente nova. As autoridades não fazem a menor idéia da aparência dele. Mas a ausência do dedo o delataria. Você o viu. E viu o rosto dele. Poderia identificá-lo para nós.


— Eu não sabia coisa alguma sobre Derrick James. Nem teria passado pela minha cabeça procurar a polícia.


— Já estávamos questionando a suposta morte dele, considerando a possibilidade de ele estar vivo e ativo. Mais uma explosão e teríamos chegado à verdade. Tudo o que teríamos de fazer seria informar o público de que estávamos à procura de um homem sem o dedo médio da mão esquerda. Você, certamente, se manifestaria.


— É claro.


— Deve ser disso que ele teve medo. Que você nos desse a única informação que não temos. A descrição dele.


Anahí ficou em silêncio por um longo momento, olhando para a fotografia e pensando no dia em que vira o homem no pronto-socorro. Trabalhara tantos anos como enfermeira que todos os dias, pacientes, crises, tudo parecia igual. Mesmo assim, lembrou-se de mais um detalhe sobre a visita daquele homem. Um detalhe que fez o sangue gelar em suas veias.


— O médico — falou baixinho —, o médico que fez a sutura...


— Sim, quem era?


— Christopher.


Poncho fitou-a, compreendo toda a história. Assim como Anahí. Christopher estivera na mesma sala. Vira o rosto e o dedo amputado. Ele também poderia ter identificado Derrick James.


Agora, Christopher estava morto.


Poncho tomou a mão de Anahí.


— Venha — falou, fazendo-a levantar-se.


Estavam de pé, frente a frente, muito próximos. Anahí reagiu de imediato àquela proximidade.


— Levarei você de volta a Portland — Poncho informou-a.


— Hoje?


— Quero que tente fazer um retrato falado de James.


— Não sei se serei capaz. Se o visse, tenho certeza de que o reconheceria. Mas, simplesmente descrever o rosto...


— Nosso técnico a ajudará. O mais importante é que temos um elemento para trabalhar. E, também, vou precisar da sua ajuda com os registros do pronto-socorro. Talvez ainda haja alguma informação de que você esteja se esquecendo.


— Mantemos um arquivo de todos os pacientes atendidos. Posso ajudá-lo a encontrar o dele.


Farei qualquer coisa que deseje, Anahí pensou, desde que você pare de bancar o tira durão.


Enquanto olhavam um para o outro, ela teve a impressão de ver a sombra da paixão passar pelos olhos verdes. Mas, com extrema rapidez, ele se virou para apanhar um casaco no armário. Então, colocou-o sobre os ombros de Anahí, o simples toque de seus dedos provocando-lhe uma torrente de emoções.


Ela virou-se para encará-lo. E confrontá-lo.


— Aconteceu alguma coisa entre nós? — perguntou.


— Do que está falando?


— Ontem à noite. Eu não sonhei, Poncho. Nós fizemos amor bem aqui, nesta sala. Agora, fico me perguntando o que fiz de errado, porque você está tão... indiferente.


Ele suspirou, produzindo um som de cansaço ou, talvez, arrependimento.


— O que houve ontem à noite — falou —, não deveria ter acontecido. Foi um erro.


— Não achei.


— Anahí, é sempre um grande erro apaixonar-se pelo tira designado para o caso. Você está assustada, buscando um herói. Eu, simplesmente, me encaixo no papel.


— Mas você não está desempenhando um papel! Nem eu! Eu me importo com você, Poncho. Acho que estou me apaixonando...


Poncho limitou-se a fitá-la em silêncio. Um silêncio mais eficiente que quaisquer palavras.


Anahí virou-se, para não ter de sustentar aquele olhar frio e vazio.


— Ora, sinto-me uma grande idiota. É claro que isto deve acontecer com você o tempo todo. Mulheres se atirando nos seus braços.


— Não é bem assim.


— Não? O tira herói. Quem poderia resistir? E como eu comparo às outras?


— Não existem outras! Anahí, não estou tentando me livrar de você. Só quero que entenda que foram as circunstâncias que nos aproximaram. O perigo. A intensidade. Você olha para mim, mas não vê meus defeitos, ou as razões pelas quais não sou o cara certo para você. Você estava noiva de Christopher Bledsoe. Dinheiro, diploma em medicina, uma casa sobre o mar. O que eu sou, além de um servidor público?


Anahí sacudiu a cabeça, os olhos cheios de lágrimas.


— Acha mesmo que é assim que o vejo? Como um servidor público? Um tira?


— É o que eu sou.


— Você é muito mais que isso. — Anahí estendeu a mão para acariciar-lhe a face. Ele se manteve imóvel. — Ah, Poncho. Você é gentil, atencioso e corajoso. Jamais conheci um homem como você. Muito bem, é um tira. Mas isto é só parte do que você realmente é. Salvou minha vida, tem cuidado de mim...


— É o meu trabalho.


— Só isso?


— Não — Poncho admitiu com um suspiro. — Foi mais que isso. Você é mais que isso.


Anahí sorriu de pura felicidade. Sentira isso na noite anterior: o carinho, a ternura. Por mais que Poncho negasse, havia um ser humano por trás daquela máscara de indiferença. E ela queria tanto atirar-se em seus braços, forçar o verdadeiro Poncho Navarro a sair de seu esconderijo.


Ele segurou-lhe a mão com delicadeza, mas afastou-a de seu rosto.


— Por favor, Anahí. Não torne as coisas mais difíceis para nós dois. Tenho um trabalho a fazer e não posso me distrair. Seria muito perigoso, tanto para mim quanto para você.


— Mas você não é indiferente a mim. É tudo o que eu preciso saber.


Ele assentiu.


— Está ficando tarde. Precisamos ir embora — murmurou. — Esperarei no carro.



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Autor(a): letiportilla

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Anahí estudou o rosto desenhado na tela do computador. — Não está exatamente como deveria — falou. — O que está errado? — Poncho perguntou. — Não sei. Não é fácil compor o rosto de um homem que só vi unica vez. Não registrei conscientemente a forma do nariz, ou do ...


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Comentários da Fanfic 374



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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:05:03

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:04:57

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