Fanfics Brasil - Capítulo XI - Final Sabor de Perigo [TERMINADA]

Fanfic: Sabor de Perigo [TERMINADA]


Capítulo: Capítulo XI - Final

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Agora que sabia que Poncho estava bem, Anahí podia concentrar-se no que devia ser feito. Seria uma noite longa. Todos os hospitais da área teriam de chamar todas as suas enfermeiras.


Sua cabeça doía terrivelmente, e seus cotovelos ardiam, cada vez que ela dobrava os braços. Porém, ao que parecia, era a única enfermeira ali presente.


Olhou para a vítima mais próxima, uma mulher cuja perna sangrava. Ajoelhou-se, rasgou um pedaço do vestido da mulher e improvisou um torniquete, estancando a hemorragia.


Aquela fora apenas a primeira. Anahí olhou em volta, à procura do próximo paciente. Havia dúzias de pessoas precisando de cuidados.


Do outro lado da rua, o rosto escondido pelas sombras, Derrick James observou o caos e murmurou um palavrão. Tanto o juiz Stanley Dalton quanto Norm Liddell continuavam vivos. James podia ver o jovem promotor sentado junto a um poste, segurando a cabeça com as mãos. A loira a seu lado devia ser a esposa. Estavam bem no meio da confusão, cercados de dezenas de outros feridos. James não poderia, simplesmente, ir até lá e acabar com ele sem que um punhado de testemunhas o visse. Além disso, Poncho Navarro encontrava-se a poucos metros de distância e, certamente, estaria armado.


Mais uma humilhação. Aquilo destruiria sua reputação, bem como sua conta bancária. O "Homem de Neve" oferecera-lhe quatrocentos mil dólares pelas mortes de Dalton e Liddell. James considerara uma solução elegante matar os dois de uma só vez, juntamente com outras tantas vítimas. Assim, as identidades de seus alvos poderiam permanecer incógnitas para sempre.


Porém, os alvos continuavam vivos e não haveria pagamento algum a receber.


Seria muito arriscado completar o trabalho agora, especialmente com Navarro em cena. Graças ao policial, James teria de esperar e dar adeus a seus quatrocentos mil.


Desviou os olhos e fixou-os em outra figura na multidão. Era a enfermeira Anahí Cormier, que cuidava de um dos feridos. James tinha certeza de que aquele fiasco era, em parte, responsabilidade dela. Ela, certamente, dera à polícia informações suficientes para que rastreassem a bomba. O uniforme de lanterninha, sem dúvida, fora uma pista vital.


Ela fora mais um detalhe que ele não se incomodara em limpar e, agora, ali estava o resultado: sem vítimas, sem dinheiro. E, ainda, o fato de que ela poderia identificá-lo. Embora o retrato falado fosse excessivamente genérico para surtir algum efeito, James tinha o pressentimento de que se Anahí visse seu rosto, se lembraria e o reconheceria. O que a transformava numa ameaça que ele já não podia mais ignorar.


Mas aquela não era a oportunidade, ou o lugar apropriado. A multidão era imensa. As ambulâncias começavam a chegar, e a polícia havia isolado a área.


Era hora de sair de cena.


James virou-se e afastou-se, sentindo a frustração aumentar a cada passo. Sempre se orgulhara de prestar atenção a pequenas coisas. Qualquer um que lidasse com explosivos tinha de ser atento a detalhes. Do contrário, seus dias estariam contados. James pretendia terminar aquele trabalho, o que significava que continuaria a dedicar-se aos detalhes.


E o próximo detalhe a cuidar chamava-se Anahí Cormier.


***


Ela era magnífica. Exausto, Poncho parou em meio aos cacos de vidro e gritos e observou Anahí. Eram dez e meia, uma hora e meia depois da explosão, e a rua ainda era um caos. Carros de polícia e ambulâncias encontravam-se estacionados desordenadamente, as luzes piscando. O serviço de emergência estava lá, atendendo e triando vítimas. Os feridos mais graves já haviam sido removidos, mas ainda havia muita gente a ser transportada para os hospitais.


Em meio àquela confusão, Anahí parecia uma ilha de calma e eficiência. Enquanto Poncho a observava, ela se ajoelhou ao lado de um homem que gemia e enfaixou-lhe o ferimento no braço com uma bandagem improvisada. Então, com um tapinha no ombro e uma palavra de conforto, afastou-se para cuidar de outro ferido. Como se pressentisse que alguém a observava, ela olhou na direção de Poncho. Por um momento, seus olhares se cruzaram e ela pôde ler a pergunta silenciosa: "Você está bem?"


Anahí acenou e assentiu. Então, virou-se e concentrou-se no paciente.


Ambos tinham muito o que fazer. Assim, Poncho voltou a concentrar-se na investigação da explosão.


Gillis chegara quarenta e cinco minutos antes, trazendo o equipamento de segurança. O restante da equipe foi chegando, um a um: três técnicos, Ernie Takeda, o detetive Cooley. Até mesmo Abe Coopersmith aparecera, embora sua presença fosse mais simbólica do que prática. O show pertencia a Poncho, e todos sabiam disso.


Chegara o momento de entrar no edifício e revistá-lo, à procura de uma segunda bomba.


Utilizando capacetes com lanternas, Poncho e Gillis entraram no teatro.


A escuridão tornava o trabalho lento e difícil. Pisando sobre escombros, Poncho desceu pelo corredor da esquerda. Gillis foi pela direita. À medida que avançavam, o estrago ia se tornando maior.


— Dinamite — Gillis declarou, sentindo o odor no ar.


— Parece que o centro da explosão foi na frente. Poncho aproximou-se do que fora o palco.


— Aqui está a cratera — Gillis anunciou.


Poncho juntou-se a ele. Os dois examinaram o local. Como na igreja, a cratera era rasa: explosão de baixa velocidade. Dinamite.


— Ao que parece, esta era a terceira fila — Poncho falou. — Quem estaria sentado aqui?


— Acha que os assentos foram pré-determinados?


— Espero que sim, pois teremos uma lista de alvos em potencial.


— Acho que não há outros explosivos por aqui — Gillis diagnosticou.


— Vamos chamar os outros.


Poncho levantou-se e sentiu uma forte tontura. Eram os efeitos da explosão. Estivera em tantas delas ultimamente que sua mente parecia estar começando a embaralhar. Talvez um pouco de ar fresco lhe fizesse bem.


— Você está bem? — Gillis perguntou.


— Sim. Só preciso sair um pouco.


Lá fora, apoiou-se num poste e respirou fundo. A tontura desapareceu e, mais uma vez, ele focalizou a atividade na rua. Percebeu que a multidão diminuíra e que todos os feridos haviam sido removidos. Somente uma ambulância permanecia no local.


Onde estava Anahí?


O pensamento clareou sua mente no mesmo instante. Olhou em volta, mas não viu o menor sinal dela. Teria ido embora? Ou fora levada?


Um jovem policial aproximou-se.


— Pois não, senhor?


— Havia uma enfermeira em trajes civis, cuidando dos feridos. Para onde ela foi?


— Está falando da moça de cabelos negros? Aquela bonita? .


— Ela mesma.


— Foi numa das ambulâncias, há uns vinte minutos. Acho que estava ajudando a cuidar de um paciente.


— Obrigado.


Poncho foi até o carro e apanhou o telefone. Não correria riscos. Tinha de se certificar de que ela estava a salvo. Discou o número do pronto-socorro do Centro Médico Maine.


A linha estava ocupada.


Frustrado, ele entrou no carro.


— Vou até o hospital — gritou para Gillis. — Volto logo.


Ignorando o olhar confuso do parceiro, Poncho dirigiu o carro para fora do cordão de isolamento. Minutos depois, estacionava próximo à entrada de emergência do hospital. O pronto-socorro estava lotado. Poncho abriu caminho até a recepção.


— Sou o detetive Navarro, polícia de Portland — identificou-se. — Anahí Cormier está trabalhando aqui?


— Anahí? Não esta noite, que eu saiba.


— Ela veio numa das ambulâncias.


— Pode ser que eu não a tenha visto. Vou verificar.


— A enfermeira apertou um botão no interfone e disse:


— Há um policial aqui, procurando por Anahí. Se ela estiver aí, pode pedir-lhe que venha à recepção?


Poncho esperou por dez minutos, cada vez mais impaciente. Anahí não apareceu. A sala de espera ficou ainda mais lotada e, para piorar a situação, a imprensa chegou com suas câmaras. A enfermeira da recepção tinha muito o que fazer e era evidente que esquecera-se de Poncho.


Incapaz de esperar mais, ele passou pela recepção. Ocupada em acalmar o parente de uma vítima, que estava histérico, a enfermeira nem o viu tomar o corredor que levava à emergência.


Poncho espiou em cada uma das salas. Todas estavam ocupadas por vítimas da explosão. Ele viu expressões de choque, roupas ensangüentadas, mas nenhum sinal de Anahí.


Voltou pelo corredor e parou diante de uma porta fechada. Pelo ruído de vozes e o tilintar de instrumentos cirúrgicos, Poncho percebeu que um paciente grave estava sendo atendido. Hesitou em entrar, mas não tinha alternativa. Precisava certificar-se de que Anahí estava no hospital, sã e salva.


Abriu a porta.


Um homem encontrava-se deitado na maca, o corpo pálido e flácido sob a forte iluminação. Meia dúzia de médicos e enfermeiros o atendiam, numa corrida frenética contra o tempo. A cena provocou um efeito de choque em Poncho.


— Poncho?


Ao ouvir seu nome, ele percebeu que Anahí aproximava-se, vestindo as mesmas roupas azuis das demais enfermeiras. Nem sequer a reconhecera, ao entrar.


Ela segurou-lhe o braço e levou-o para fora.


— O que está fazendo aqui? — Anahí inquiriu.


— Você deixou o local da explosão e eu não sabia se estava tudo bem.


— Vim numa das ambulâncias. Achei que precisariam de mim. — Lançou um olhar para a porta fechada. — Acertei.


— Anahí, você não pode simplesmente desaparecer, sem me avisar! Eu não fazia idéia do que havia acontecido!


Ela o fitou com expressão deliciada, mas não disse nada.


— Está me ouvindo? — Poncho perguntou.


— Sim, mas não estou acreditando em meus ouvidos. Você parece realmente assustado.


— Não estou assustado. Eu só... Eu... Ora, é verdade. Estava muito preocupado. Não queria que nada de mal lhe acontecesse.


— Por que sou sua testemunha?


Poncho fitou-a nos olhos, aqueles lindos olhos. Nunca em sua vida sentira-se tão vulnerável. Aquele era um sentimento totalmente novo e ele não estava gostando nem um pouco da novidade. Não estava acostumado a assustar-se com facilidade, e o fato de ter sentido um medo tão profundo diante da idéia de perder Anahí provava que estava muito mais envolvido do que havia planejado.


— Poncho? — Anahí tocou-lhe a face.


Ele segurou-lhe a mão e afastou-a.


— Da próxima vez — instruiu —, quero, que me diga para onde vai. É a sua vida que está em jogo. Se quer arriscá-la, o problema é seu. Mas, enquanto James estiver solto, sua segurança é minha responsabilidade. Compreendeu?


Anahí retirou a mão da dele, deixando claro que seu afastamento não era somente físico, mas também emocional. Poncho percebeu o fato e sofreu por isso. Tratava-se de um sofrimento resultante de sua própria escolha, o que tornava as coisas ainda piores.


— Compreendi perfeitamente — ela afirmou com frieza.


— Ótimo. Agora, acho que deveria voltar ao hotel, onde podemos mantê-la sob vigilância constante.


— Não posso ir embora. Precisam de mim, aqui.


— Eu também preciso de você. Viva.


— Olhe para isso! — Ela apontou para a sala de espera apinhada de feridos. — Esta gente precisa ser examinada e atendida. Não posso sair agora.


— Anahí, tenho um trabalho a fazer. A sua segurança é parte dele.


— Eu também tenho um trabalho a fazer!


Fitaram-se por um momento, nenhum dos dois dispostos a ceder.


Foi Anahí quem quebrou o silêncio.


— Não tenho tempo para isto! — declarou e virou-se para entrar na sala.


— Anahí!


— Farei o meu trabalho, Poncho. Cuide do seu.


— Então, mandarei um de meus homens para ficar de olho em você.


— Faça como quiser.


— Quando acha que poderá sair daqui?


— Pelos meus cálculos, só pela manhã.


— Voltarei às seis horas para apanhá-la.


— Sim, senhor detetive — ela replicou e entrou na sala.


Ela dissera que faria o trabalho dela e o mandara cuidar do dele.


Estava certa, pensou Poncho. Era exatamente o que ele deveria estar fazendo: concentrando-se no trabalho.


Do telefone do carro, ligou para o oficial Pressler e pediu-lhe que mandasse o policial que o renderia para o hospital, onde ele poderia vigiar Anahí. Satisfeito por saber que ela estaria em boas mãos, voltou ao local da explosão.


Eram onze e meia. A noite estava apenas começando.


Anahí suportou as sete horas seguintes por pura força de vontade. Sua conversa com Poncho a deixara magoada e furiosa. Teve de forçar-se a concentrar-se no trabalho de atender as dezenas de pacientes à espera. Os ferimentos e a dor daquelas pessoas tinham de ser sua prioridade. Porém, de quando em quando, voltava a pensar em Poncho e no que ele havia dito.


Tenho um trabalho a fazer e a sua segurança é parte dele.


Anahí perguntou-se se era só isso que ela significava para ele: um trabalho, um fardo. O que esperava, afinal? Desde o início, ele havia se mostrado como o inabalável servidor público, a indiferença em pessoa. E claro que os momentos de calor humano haviam sido reais, bem como os breves vislumbres do homem escondido atrás do tira, de sua gentileza genuína. Porém, toda vez que ela acreditava ter conseguido alcançar o verdadeiro Poncho Navarro, ele recuava como um gato escaldado.


O que poderia fazer com ele? E o que faria com os sentimentos que tinha por ele?


Foi o trabalho que lhe emprestou as forças necessárias para atravessar a noite. Ela nem percebeu quando o dia amanheceu.


Às seis horas, Anahí sentia-se tão cansada que mal podia andar. Felizmente, a sala de espera havia esvaziado e todos os pacientes haviam sido atendidos. A maior parte da equipe reunira-se na sala dos médicos, a fim de gozar de um merecido descanso. Ela estava prestes a juntar-se aos outros quando ouviu seu nome.


Virou-se e deparou com Poncho, parado na sala de espera.


Ele parecia tão exausto quanto ela. Seus olhos estavam vermelhos, e as faces escurecidas pela barba por fazer. A raiva que Anahí sentira a noite toda dissipou-se no mesmo instante.


Meu pobre Poncho, pensou, você dá tanto de si mesmo e que tipo de conforto encontra no final do dia?


Aproximou-se. Ele não disse uma palavra, limitou-se a fitá-la com aquela terrível expressão de cansaço. Abraçaram-se e permaneceram assim por alguns instantes. Então, ele falou com ternura:


— Vamos para casa.


— Boa idéia — ela respondeu com um sorriso.


Anahí jamais saberia dizer como foi a viagem até a casa.


Assim que entrou no carro, adormeceu, e, quando voltou a abrir os olhos, estavam diante da casa de Poncho. Juntos, entraram e foram direto para o quarto. Nenhum tipo de desejo cruzou-lhe a mente, nem mesmo quando os dois se despiram e deitaram-se juntos, ou quando Sam pousou os lábios em sua testa, com extrema gentileza e ternura. Anahí adormeceu no mesmo instante, nos braços de Poncho.


Ela estava quente, segura, perfeita, deitada ao seu lado. Era como se pertencesse àquele quarto, àquela cama.


Sonolento, Poncho fitou Anahí ainda adormecida. Já era de tarde. Deveria ter se levantado horas antes, mas a exaustão o impedira.


Estava ficando velho demais para aquele tipo de trabalho. Durante os últimos dezoito anos, fora policial. Embora houvesse momentos em que detestava o trabalho, quando o lado feio se mostrava, sempre soubera que nascera para aquela carreira. E era surpreendente que, agora, ser policial era a última coisa a ocupar sua mente.


Só queria passar o resto da vida deitado naquela cama, olhando para aquela mulher. Queria estudar-lhe os traços delicados, desfrutar da visão privilegiada. Só se sentia seguro para fitá-la quando ela estava dormindo. Quando Anahí estava acordada, Poncho sentia-se muito vulnerável, como se ela pudesse ler seus pensamentos, entrar em seu coração. Tinha medo de admitir, até para si mesmo, os sentimentos que nutria por ela.


Enquanto a observava, concluiu que não fazia mais sentido negar: não podia suportar a idéia de vê-la sair de sua vida. O que isso significava? Que a amava? Não saberia responder.


Sabia que aquele não era o desfecho que desejara ou esperara.


Porém, na noite anterior, ao vê-la trabalhando na cena da explosão, passara a admirar uma dimensão da personalidade de Anahí que ele vira pela primeira vez. Uma mulher cheia de compaixão e coragem.


Seria tão fácil apaixonar-se por ela. Seria um erro tão grande.


Em um mês, um ano, ela passaria a vê-lo pelo que ele era: não um herói com credenciais, mas um sujeito comum, fazendo o seu trabalho da melhor maneira que conhecia. E lá estaria ela, trabalhando no hospital, ao lado de homens como Christopher Bledsoe. Homens com diplomas de medicina e casas na praia. Quanto tempo levaria para ela se cansar do tira que, por acaso, a amava?


Sentou-se na cama e passou as mãos pelos cabelos, tentando apagar os últimos vestígios de sono. Sua mente ainda não se encontrava totalmente alerta. Precisava de café, comida, qualquer coisa que o despertasse de vez. Eram tantos os detalhes a cuidar, pistas a seguir...


Então, sentiu um carinho suave nas costas. No mesmo instante, o trabalho desapareceu nos recessos mais remotos de sua mente.


Virou-se e deparou com Anahí que o fitava sonolenta, com um sorriso tranqüilo nos lábios.


— Que horas são? — ela perguntou.


— Quase três.


— Dormimos tanto assim?


— Precisávamos descansar. Nós dois. Desta vez, podíamos baixar a guarda, pois Pressler estava vigiando a casa.


— Quer dizer que ele passou o dia todo lá fora?


— Combinei tudo ontem à noite, antes de ele sair de plantão. Eu já sabia que ia querer trazê-la para cá.


Anahí abriu os braços num convite tentador demais para ser ignorado. Poncho não resistiu e rendeu-se à tentação. Desejavam-se mais que tudo na vida. Deitou-se junto de Anahí e beijou-a, sentindo seus corpos se acenderem. Não podia parar, ou recuar. Queria amá-la, nem que fosse pela última vez. Se não podia tê-la para o resto da vida, então se contentaria em tê-la naquele momento. E, sempre, se lembraria daquele rosto, daquele sorriso, dos gemidos doces de prazer.


Ambos entregaram-se de corpo e alma.


Porém, mesmo quando alcançaram o clímax, quando Poncho sentiu-se invadido pelas ondas de êxtase, pensou: isto não basta. Não queria conhecer apenas o corpo de Anahí, mas também sua alma.


Embora a paixão estivesse temporariamente saciada, Poncho sentiu-se insatisfeito e deprimido, deitado ao lado de Anahí, depois de terem feito amor. Não era o que se esperaria de um solteirão, logo após uma conquista. O pior era que estava furioso consigo mesmo, por ter se deixado cair naquela situação. Por ter permitido que aquela mulher se tornasse tão importante em sua vida.


E ela continuava sorrindo, envolvendo-o ainda mais.


A reação de Poncho foi afastar-se, levantar-se e ir para o chuveiro. Quando voltou, Anahí observou-o com expressão fascinada.


— Preciso voltar ao trabalho — Poncho anunciou, apanhando uma camisa limpa. — Pedirei a Pressler que entre e fique com você.


— Depois da explosão de ontem, James deve estar a quilômetros daqui.


— Não posso correr o risco.


— Existem outras pessoas capazes de identificá-lo. Os lanterninhas do teatro, por exemplo.


— Um deles levou uma pancada na cabeça, na hora da explosão. Ainda não recobrou a consciência. O outro não é sequer capaz de dizer qual é a cor dos olhos de James.


— Ainda assim, você tem outras testemunhas e James sabe disso. Acho que isso nos tira de cena.


— O que quer dizer?


— Que eu posso parar de me preocupar com a possibilidade de ser um alvo, e você pode parar de se preocupar em me manter viva. Pode voltar ao seu verdadeiro trabalho.


— Isto é parte do meu trabalho.


— Já me disse isso. — Anahí empinou o queixo e Poncho notou o brilho das lágrimas. — Gostaria de ser mais. Gostaria...


— Anahí, por favor. Não torne as coisas mais difíceis para nós dois.


Ela abaixou a cabeça. A visão de Anahí magoada, silenciosa, era mais do que ele podia suportar. Poncho ajoelhou-se diante dela e tomou-lhe as mãos nas suas.


— Você sabe que me sinto atraído por você.


Ela soltou uma risada irônica.


— Ora, isso é óbvio.


— E você sabe que a considero uma mulher maravilhosa. Se, algum dia, eu for parar no pronto-socorro, espero que você seja a enfermeira que venha me atender.


— Mas?


— Mas... Não consigo ver nós dois juntos. Não para o resto de nossas vidas.


Anahí voltou a baixar os olhos, e Poncho pôde sentir sua luta para manter o controle. Ele a magoara e se odiava por isso, odiava a própria covardia, pois não acreditava naquele relacionamento. Não acreditava nela.


Sua única certeza era de que jamais se esqueceria de Anahí.


Poncho pôs-se de pé. Anahí não reagiu. Continuou sentada na cama, olhando para o chão.


— O problema não é você, Anahí. Sou eu. Algo aconteceu comigo há anos, e me convenceu de que o tipo de situação em que nos encontramos agora não dura. É artificial. Uma mulher assustada e um tira formam o cenário perfeito para uma porção de expectativas nada realistas.


— Não me venha com uma aula de psicologia, Poncho. Não preciso que me expliquem o que é transferência, ou sentimentos mal dirigidos.


— Mas, você precisa me ouvir. E entender. O efeito é o mesmo para os dois lados: o que você sente por mim e o que eu sinto por você. Também não sou capaz de evitar a necessidade que sinto de protegê-la.


Poncho suspirou, sentindo-se frustrado e desesperado. É tarde demais, pensou, pois ambos sentimos o que não deveríamos sentir jamais. E, agora, é impossível voltar no tempo.


— Disse que algo aconteceu... — Anahí falou. — Foi... outra mulher?


Ele assentiu.


— A mesma situação? Uma mulher assustada e um tira protetor?


Poncho voltou a assentir.


Anahí sacudiu a cabeça contrariada.


— Ora, parece que me encaixei direitinho no papel.


— Nós dois nos encaixamos.


— Quem abandonou quem, Poncho? Estou falando da última vez em que aconteceu.


— Só aconteceu uma vez... antes de você. Eu era um novato de vinte e dois anos, designado para proteger uma mulher que estava recebendo ameaças. Embora ela tivesse vinte e oito, parecia ter quarenta, quando se tratava de sofisticação. Não é de surpreender que eu tenha me fascinado por ela. A surpresa foi ela retribuir o sentimento. Ao menos, até a crise terminar, e ela decidir que eu não era tão interessante assim. Estava certa. Trata-se daquela coisa maldita que chamamos de realidade, capaz de nos despir e mostrar o que realmente somos. No meu caso, sou apenas um policial trabalhador e honesto. Melhor que alguns, pior que outros. Em resumo, não sou o herói de ninguém. Quando, finalmente, ela se deu conta disso, partiu, deixando para trás um novato mais triste, porém muito mais experiente.


— E você acha que vou fazer a mesma coisa.


— É o que deveria fazer, por que você merece muito mais do que eu posso oferecer.


— O que eu quero não tem nada a ver com o que um homem pode me dar, Poncho.


— Pense em Christopher e no que poderia ter tido com ele.


— Christopher foi o exemplo perfeito! Tinha tudo, exceto o que eu queria dele.


— O que você queria, Anahí?


— Amor. Fidelidade. Honestidade.


Poncho ficou profundamente abalado com aquela declaração. Era justamente aquilo o que ele tinha para dar... O que tanto temia dar.


— No momento, você pensa que isso é suficiente — argumentou. — Talvez descubra que não é.


— É mais do que tive com Christopher. — Mais do que jamais terei com você, ela pensou com tristeza.


Embora lesse a mensagem nos olhos dela, Poncho não tentou convencê-la do contrário. Simplesmente, virou-se para a porta.


— Vou chamar Pressler — informou-a. — Pedirei que fique com você.


— Não será preciso.


— Não deve ficar sozinha, Anahí.


— Não ficarei. Voltarei para a casa de meu pai. Ele tem aquele magnífico sistema de segurança, além dos cachorros. Agora que sabemos que não foi Daniella quem saiu por aí armando bombas, creio que estarei segura. Não acho conveniente ficar aqui. Não na sua casa.


— Pode ficar por quanto tempo quiser.


— Não. Já que nossa relação não tem nenhum futuro, não faria o menor sentido eu ficar.


Poncho não discutiu. E foi isso que mais a feriu.


— Levarei você até lá — ele disse e saiu do quarto, pois não suportaria mais um segundo ali dentro.


Não suportaria fitar aqueles olhos azuis nem mais um instante.



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Autor(a): letiportilla

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— Acho que sabemos quem era o alvo — Poncho informou. — Nosso querido promotor, Liddell. Coopersmith fitou Gillis e Poncho do outro lado da mesa. — Têm certeza? — Todas as evidências apontam para isso. Localizamos o centro da explosão como sendo a fileira três, entre as poltronas G e J. Os lugares para a noite de onte ...


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Comentários da Fanfic 374



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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:05:03

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:04:57

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  • jl Postado em 18/09/2010 - 00:04:08

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