Fanfic: Labirinto
Os dias longos e preguiçosos na Toca estavam chegando ao fim. Chris lamentava o final das férias porque estava se divertindo como há muito tempo não acontecia. Por outro lado, queria voltar a Hogwarts. Distraia-se com esses pensamentos enquanto o trio, acompanhado de Dulce, se dirigia a um lago que ficava a uma hora de caminhada da casa dos Herrera. Chrise Any nunca tinham ido para lá e reclamaram com os amigos por terem esquecido desse passeio.- A gente mesmo não vai lá faz séculos. Minha mãe disse que as fadas do lago tinham se mudado para um rio que fica mais distante. Ela acha que nós perturbamos demais a paz das pobrezinhas - observou Dulce. A garota prendera o cabelo em duas tranças e andava descalça sobre uma cerca baixa e larga de madeira, equilibrando-se com cuidado. Poncho notou na irmã que o jeito de menina estava sendo substituído pelo de moça. Percebia claramente que Dulce crescera e adquirira formas de mulher. Tinha ainda um ar moleque e atrevido que incorporara dos gêmeos. Mas suspeitava que o estilo poderia se transformar num desafio para os rapazes. Eles talvez quisessem dobrar alguém com um perfil tão provocante. Em seguida, voltou sua atenção para Chris. Ele também se detinha em Dulce. Acompanhava de perto o movimento das pernas da garota nos vãos da cerca.- O que é que você está olhando, Chris?- Hein? Eu? Nada. Estou distraído - disfarçou. - É bem bonito o campo por aqui.- É até romântico - sorriu a garota, virando o rosto para os três. Foi uma lástima porque errou a passada, desequilibrou-se e caiu sobre Chris. O rapaz não conseguiu ampará-la e nem ficar de pé. Os dois acabaram de cara na terra. Dulce se levantou rapidamente, explodindo em tons avermelhados. Estava envergonhadíssima, com o rosto sujo e os joelhos esfolados. Ponchodeu uma gargalhada e Any disfarçou o riso. Tinha sido uma cena patética. Chris sacudiu o pó da roupa.- Você pode ser pequena, mas não deu para agüentar o seu peso.- Está me chamando de gorda? - replicou, ofendida.- Nunca diria isso. Seu corpo é perfeito, só que...- Olha o respeito com a minha irmã - cortou Poncho, um tanto irritado.- Ah, vá. Não falei nada demais.- Não acham que estão começando a discutir por bobagem? - intrometeu-se Any, devolvendo as sandálias de Dulce, que vinha carregando desde que a ruiva decidira andar na cerca. - O Chris fez um elogio inocente. Disse a verdade. Sua irmã tem um corpo lindo.- Não quero ninguém olhando o corpo da minha irmã - respondeu um mal-humorado Poncho. Dulce fez uma careta para o garoto, dando a entender que não estava nem aí para o que ele pensava. E notou que Chris a encarava. Desviou o rosto, sentindo um calor intenso se irradiar por dentro dela. Todos ficaram em silêncio até encontrar o lago. Era como um espelho d’água. As margens estavam repletas de moitas floridas e havia um pequeno deck de madeira, bastante gasto pelo tempo, mas que acomodava perfeitamente os quatro. Any e Dulce retiraram os vestidos, pois já estavam com biquíni por baixo. Ficaram um pouco tímidas, mas fingiram não se incomodar. Nunca antes tinham se visto em roupas de banho. Any sentou-se para prender os cabelos num rabo de cavalo. Dulce permaneceu de pé, sem saber onde estender sua toalha. Poncho e Chris apenas despiram as camisetas. O constrangimento pesava no ar.- Caramba, como sou transparente. Mais um pouco e me confundem com o Nick-Quase-Sem-Cabeça - brincou Poncho.- Você só precisa de um pouco de sol. Sua pele deve ficar dourada como a da Dulce - disse Any. Mas se arrependeu do comentário porque com isso atraiu a atenção de Poncho para si. Chris, por sua vez, virou-se para Dulce, que estava debruçada sobre a toalha, esticando as pontas. Observada daquele modo, ela sentiu as pernas amolecerem. “Tomara que ele tenha tirado os óculos, tomara que tenha tirado os óculos, tomara...”- É verdade. Você tem a pele dourada, Dulce. Costuma tomar sol?Chris, ainda de óculos, deu um tom indiferente à pergunta, mas seu interior estava em brasas. Alguma coisa estranha vinha acontecendo com ele desde que chegara à Toca. Dulce, às vezes, o desafiava a falar quando mergulhava em silêncio. Fazendo isso, pensava ajudá-lo a sair da solidão. Se outra pessoa o desafiasse, ele ficaria bastante aborrecido e responderia secamente. Ou se a própria Dulce o importunasse dessa maneira alguns meses atrás, não hesitaria em despachá-la. Agora, porém, ouvir a voz dela, mesmo em tom petulante, provocava-lhe uma sensação que não conseguia definir qual era. Ultimamente, tinha prazer em receber suas reprimendas.Dulce fez que não ouviu. Deitou-se de bruços, fechou os olhos e torceu para que ninguém falasse mais de seu corpo. Poncho não escutara a pergunta de Chris. Estava absorto com a visão de Any, pele morena, silhueta delgada, busto firme e cheio, olhos brilhantes, cabelos castanhos, bochechas coradas, boca vermelha. De repente, tomou consciência do que fazia e decidiu pular na água para refrescar as idéias. Deu várias braçadas até parar no meio do lago.- Quem me segue?Sem resposta, continuou a nadar. Ainda pensava em Any. Mergulhou, querendo afastar a imagem da amiga da cabeça. Lembrou-se de Derrick James e subiu à superfície já sem fôlego. O búlgaro podia ser melhor do que ele no quadribol, mas nunca na natação. Iria mostrar isso. Poncho estava alto, com braços e pernas fortes. Compleição física digna de um atleta. Ao menos, comparado com Chris. O amigo tinha crescido e atingira uma boa estatura para a idade. Porém continuava magro. Poncho atravessou o lago, aquecendo os músculos. Atingiu a outra margem a tempo de ver Dulce preparando-se para pular na água. Sua irmã tinha realmente um belo corpo. Cintura fina, quadris arredondados, pernas bem desenhadas, seios médios. É, tinha motivos para ficar atento aos colegas. Não permitiria que homem nenhum se aproveitasse de Dulce, uma garota inocente, embora de personalidade forte.- Entrem logo. Tá uma delícia - gritou Dulce na água. Chris não esperou um segundo e saltou. Any demorou um pouquinho, mas cedeu à vontade geral. Dulce e Poncho começaram uma guerra de água. Chris entrou na brincadeira e depois deu um caldo na ruiva. A diversão prosseguiu por minutos, Chris e Dulce se alternando nas estripulias. Uma hora, ele puxava-lhe o pé por baixo d’água. Outra, ela pulava sobre suas costas. De vez em quando, Poncho surgia por baixo, fingindo-se de tubarão e atacava os dois. Any se movimentava apenas o suficiente para ficar flutuando. Assistia a tudo sem se atrever a participar da guerra. Tinha ficado abalada com a secada de Poncho. Pouco a pouco, no entanto, começou a reparar na brincadeira de Chris e Dulce. Já não parecia a hora do recreio. “Será impressão minha ou eles estão aproveitando para ficarem se tocando? Nesse mato tem coelho”, matutou.- Vamos apostar uma corrida. Do deck até a margem oposta. Vem, Any - propôs Poncho.Os quatros se alinharam imitando competidores. Any ria da cara de desafio de Poncho. Chris olhava fixo para Dulce, garantindo que ganharia facilmente. A ruiva debochou e tirou a língua para ele. Aquilo fez com que uma agradável onda de energia percorresse o corpo de Chris. “Vou te ensinar a zombar de mim”, provocou falando entre dentes. Dulce desdenhou. “No dia em que fizerem uma Herrera de boba...”.Antes que terminassem a discussão, Poncho gritou já. Por ser o mais alto do grupo, ficou na dianteira logo de cara. Chris dava braçadas vigorosas, sem conseguir alcançar o amigo. E Dulce vinha logo atrás. Anydesistiu no meio do caminho. Tinha certeza de que seria a última colocada. E parou para admirar a envergadura dos ombros de Poncho. Com essa envergadura, só podia mesmo ser um ótimo goleiro. Devia ser bom também receber abraços dele. “O que é que estou pensando? Ai, pára com isso!” Poncho venceu a prova com folga. Chris estava em segundo, até diminuir o ritmo e virar a cabeça em busca de Dulce. A garota aproveitou o deslize e num mergulho atingiu a margem antes do rapaz. Assim que saiu da água, abriu um largo sorriso.- Ganhei.- Ganhou nada. O Poncho é o vencedor. - Ganhei de você, tolinho - comemorou, simulando uma dança na água e dando-lhe as costas. Chris não teve dúvidas. Agarrou Dulce e a prendeu entre os braços. Ela tentou se soltar, sem sucesso. A ruiva se debatia, mas o rapaz não a largava, as mãos firmes envolvendo a cintura da garota. Ficaram assim durante segundos que atiçaram os sentidos de ambos. Pele colada à dele, Dulce estremeceu. Aquilo estava muito bom, gostoso, arrepiante. Chris apertava fortemente os lábios. Era delicioso prendê-la assim. Não a deixaria escapar. Não depois de sentir a maciez do corpo da irmã de Poncho contra o seu. “Irmã do Poncho?! Tenho de soltá-la!” E abriu os braços, abandonando-a na água. Deixou o lago e andou pela margem até se aproximar de Poncho e Any que estavam no deck, enxugando-se com as toalhas.- Está esfriando. Vamos para casa - disse Poncho, alheio ao que tinha acabado de acontecer na água. Chris concordou com a cabeça, pegou sua toalha e secou o tórax. Estava perturbado. Ouviu os passos de Dulce e tratou de enxugar o rosto, escondendo-se. Precisava recuperar o sangue frio. A garota não deu sinal de ter percebido nada. Retirou uma garrafa de suco de abóbora da mochila e ofereceu ao trio. Quando terminaram a bebida, recolheram tudo e pegaram a estrada de volta. Caminharam conversando pouco. Às vezes, o silêncio imperava por um minuto ou dois, até que alguém se aventurasse a comentar o final de tarde. Any falou das suas expectativas para o último ano em Hogwarts. Poncho pediu, por favor, que não o lembrasse dos exames enquanto aproveitava o final das férias. Dulce estava ansiosa por descobrir quem seria o novo professor de Defesa Contra a Arte das Trevas. No ano anterior, tinha sido Shacklebolt. E, então, recordaram-se tristemente da morte do amigo.Nuvens escuras se formavam no céu. Chris deu um longo suspiro. Achou que era o momento de abrir o coração. Guardara o segredo da profecia por todo aquele tempo. Interrompeu o silêncio com a surpreendente declaração de que precisava contar algo que somente ele e Dumbledore conheciam. Por um minuto, olhou para Gina, indeciso. A garota se encrespou.- Atreva-se a não falar na minha frente. Já dei provas suficientes de que mereço sua consideração.Chris concordou. Após explicar a profecia em detalhes, ele se sentiu aliviado. Compartilhar o segredo tirava-lhe um peso extraordinário dos ombros. Any o abraçou, comovida, dizendo confiar no destino. Poncho deu-lhe mais um tapa amistoso nas costas. - Quando é que vamos acabar com Você-Sabe-Quem para podermos te ver animado como no passado? Está na hora de sair desse casulo em que você se trancou. E, Chris, pode contar conosco para o que der e vier. Tenha certeza de que falo em nome da família toda - completou. Dulce assentiu com a cabeça. Tremeu de pensar nas palavras da profecia. Seu coração se estreitou, lágrimas teimavam em subir aos olhos. Fariam tudo para que Chris vencesse a batalha e saísse vivo da tormenta.E a tormenta veio. Gotas pesadas de chuva desabaram sobre o grupo. Poncho gritou que corressem. A Toca estava perto. Any disparou, seguindo o rapaz.- Eu não vou. Já estou molhada mesmo - disse Dulce, pouco se importando com o aguaceiro, gotas deslizando pelo seu rosto, pingando do queixo, da ponta do nariz, das tranças, o vestido grudando no corpo.- Impervius- disse Chris, retirando a varinha da mochila e a apontando para os óculos. Camiseta molhada agarrada ao tórax, ele sorriu para Dulce, que baixou os olhos envergonhada, mas feliz. - Você não tem idéia de como desabafar fez bem para mim. - E seguiram andando tranqüilamente sob a chuva.
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Autor(a): prika
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