Fanfic: Promessa de Paixão AyA (Terminada)

Annie Sinclair olhou para a loja onde traba­lhava e balançou a cabeça em negativa.

-   Não, não havia necessidade nenhuma de chegar
meia hora adiantada - ela disse baixinho.

Como fazia todos os dias, limpou os pés no capacho que ficava em frente à porta, enquanto escutava os ruídos feitos pelo seu patrão, Alfonso Gray, vindos da parte de trás da loja, no cômodo amplo onde funcionava a oficina.

Devagar, Annie abriu a porta e entrou numa sala repleta de móveis feitos artesanalmente e tirou o pesado casaco de lã. O cheiro de verniz e tinta, misturado com o de serragem e madeira, era muito forte ali dentro.

Annie inspirou profundamente e se sentiu mais tranqüila. Ela gostava muito daquele cheiro. Aquele lugar, com seu assoalho de madeira e paredes brancas, onde trabalhava há seis meses, tinha passado a fazer parte dela, e não era apenas um local onde ganhava a vida. Aquele lugar passara a ser um refúgio. E todo o bem-estar que sentia ali dentro se devia principalmente aos ruídos que vinham da oficina. Era muito bom ouvir Poncho trabalhar.

O ruído reconfortante do serrote parou. Instantes depois, Poncho perguntava:

• - É você, Annie?


• - Sou eu, sim, Poncho.

Annie colocou a bolsa sobre uma cadeira e esperou que Poncho fosse conversar com ela. Mas ele não foi: con­tinuou na outra sala mexendo em algo. Uma vez só pela manhã, Poncho havia largado o que fazia para con­versar um pouco com ela. E fizera comentários sobre o frio e lhe dissera que estava muito pálida.

"Meu Deus... Queria muito que ele viesse agora aqui falar comigo sobre qualquer coisa. Poncho poderia falar sobre o que ele bem entendesse: sobre a neve que caiu ontem à noite, sobre o assalto ao banco... A única coisa que eu precisava nesse momento era ouvir uma outra voz humana, alguém que, de alguma maneira, me mos­trasse que ainda estou viva." Ela deu um profundo suspiro e voltou a balançar a cabeça de um lado para o outro. "Não posso continuar desse jeito. Preciso fazer de tudo para me livrar dessa ansiedade e arrancar do peito essa frustração que está me destruindo. E preciso contar a Poncho o que fiz. Preciso contar a ele o que fiz e esperar pelo pior."

Annie fechou os olhos e os abriu em seguida. Na ofi­cina, o barulho do serrote havia recomeçado.

"Não adianta continuar tentando adiar o inadiável. Se não contar tudo a ele agora, a situação pode ficar pior."

-   Poncho? - Annie chamou, mas não obteve resposta. Com muito esforço, ergueu os ombros e caminhou len­tamente para a oficina. Ao chegar junto à porta, que estava entreaberta, parou e disse: - Me desculpe, Poncho, mas estou precisando falar com você.

Poncho, atento ao que fazia parecia totalmente ausente. "A estante dos Andersen está ficando muito boni­ta...", ela constatou em pensamento.

-   Não... isso aqui não está nada bom. - Ele agora olhava atentamente para um encaixe. - Vou precisar dar um jeito nisso.

Só então Poncho percebeu a presença de Annie e a fitou de soslaio.

-Aconteceu algum problema? - ele perguntou e voltou a olhar para o encaixe.

Annie ficou olhando para aquele homem moreno, alto, de olhos muito bonitos, sem saber o que responder.

-   É... Aconteceu um problema, sim, com uma venda que fiz - ela disse, depois de muito hesitar.

Poncho pegou uma lixa e começou a passar sobre a madeira. A ansiedade que Annie sentia estava agora insuportável.

• -Fale com a minha irmã. É ela quem resolve os pro­blemas com os fregueses insatisfeitos. - Poncho deu uma olhada para o móvel e, em seguida, continuou lixando.


• -Não, acho melhor não falar com a sua irmã. Nós dois é que teremos de resolver o problema.


• -Nós?


• -Exatamente: nós.


• -Não entendi.


• -O pedido do berço com grades precisa ser cance­lado. Sinto muito, mas algo aconteceu e...

Poncho parou de lixar a madeira e a encarou.

• -Mas o berço está quase pronto!


• -Eu sei.


• -E eu não aceito cancelamento de pedidos. Ligue para quem fez a encomenda e diga isso a eles. E lembre a quem assinou o contrato que não existe uma cláusula que permita que voltem atrás. A encomenda foi feita e, como disse, o berço está quase pronto.


• -Eu sei, eu sei disso.


• -Então, é só ligar para quem fez a encomenda - ele insistiu.


• -Mas, Poncho...


• -Annie, telefone para quem encomendou o berço e diga que eu não aceito cancelamento de pedido.


• -Eu não posso! - Ela estava fazendo de tudo para conter o desespero.


• -Não estou entendendo você. - Poncho colocou as mãos na cintura. - Como não pode telefonar para quem en­comendou o berço? Uma das suas funções aqui é essa!


• -Eu realmente não posso.


• -Por quê? Você sabe muito bem que tudo aqui é feito à mão. Além do material que é muito caro, tam­bém tem o meu trabalho. Não posso trabalhar em algo e, depois, sem mais nem menos, aceitar o cancelamento do pedido. Vamos, Annie, ligue para quem encomendou o berço e, com muita diplomacia, explique isso tudo; explique qual é a política da minha loja.


• -É esse o problema, Poncho, não preciso explicar qual é a política da loja.


• -Tudo bem! - ele estava muito impaciente. - Quem fez a encomenda?

"Diga a ele! Vamos, coragem! É agora ou nunca!", uma vozinha interior lhe recomendava.

-   Annie, eu lhe fiz uma pergunta: quem fez a encomenda?

• - Eu... - Annie curvou os ombros e olhou para o chão. Naquele momento seria impossível enfrentar aquele olhos.