Fanfic: Promessa de Paixão AyA (Terminada)

• - Daria para terminar a frase?


• - Eu - ela disse baixinho -, eu fiz a encomenda.


• - Você?


• - Fui eu, sim, quem fez a encomenda. Encomendei o berço para mim.

Annie deu uma olhada rápida para Poncho e viu que naqueles olhos existia uma grande interrogação.

-   Você está grávida - Poncho afirmou.

Ela se assustou com aquela afirmação e disse:

• - Não, eu não estou grávida.


• - Você não está grávida - ele agora duvidava.


• - Não, eu não estou grávida - Annie repetiu.


• - Isso é muito estranho. Pelo que eu saiba, uma mulher não anda por aí encomendando berços para se divertir. A maioria das pessoas que conheço, homens ou mulheres, para se divertirem, vão à boate, ao cinema, a lugares que lhe dêem um pouco de tranqüi­lidade, onde possam espairecer. Não concorda comigo?


• - Concordo.


• - Então, me explique essa história de ter encomen­dado o berço, já que não está grávida.


• - Bem, eu... - Annie deu um profundo suspiro. Era agora ou nunca! - Eu realmente não estou grávida. Já tenho um bebê.


• - Você tem o quê? - ele perguntou, incrédulo.


• - Eu tenho um bebê.

Pela primeira vez desde que havia começado a trabalhar na Season, Annie teve a sensação que Poncho realmente a enxergava. Ele sempre se mostrava muito distante e, ape­sar de tratá-la com muita educação, estava sempre mer­gulhado num mundo inatingível, todo particular.

-   Meu Deus! O que está acontecendo aqui? Será que a minha loja virou abrigo para mães solteiras? Primeiro foi a Beth, agora...

Annie sentia-se muito sem graça e profundamente de­samparada. E, apesar de todo esforço para se conter, começou a chorar.

Diante daquela cena, Poncho se aproximou de Annie. E ela sentiu o cheiro que emanava dele. Uma mistura de loção pós-barba e madeira. Só Alfonso Gray podia exalar um odor tão pessoal, tão característico, tão gostoso.

• - Por favor, me desculpe. Não queria ofendê-la. Mas isso é uma grande surpresa para mim: você tem mesmo um filho? - Poncho tocou-lhe o braço de leve.


• - Na verdade, o filho não é meu.


• - Agora é que não estou entendendo mais nada. Você tem ou não um filho?


• - Tenho - ela afirmou.


• - Annie, tem certeza que você está bem? Que história é essa? Não estou entendendo. - Ele inspirou profunda­mente e voltou a perguntar: - Você tem ou não um filho?


• - Tenho. Eu tenho um filho, sim.


• - Mas acabou de me dizer que o filho não é seu.


• -Expressei-me de maneira errada.


• -Então, por favor, tente se expressar de uma ma­neira mais clara.


• -Eu adotei uma criança.


• -Você adotou uma criança? - ele perguntou, com os olhos arregalados.


• -Adotei. - Annie inspirou profundamente. - Há três semanas.


• -E por que não me contou isso antes?


• -Bem, achei que não fosse se interessar pelo as­sunto, que você não fosse se incomodar. E eu trabalho aqui apenas três vezes por semana.

Poncho ainda a fitava espantado.

• -Quer dizer, então, que mesmo me vendo fazer o berço, resolveu não me dizer nada.


• -Jamais pensei que fosse fazer alguma diferença.


• -O que não faria diferença?


• -O fato de eu ter adotado uma criança.


• -Bem, mas como acabou de ver, fez diferença, sim.


• -Desculpe-me, por favor. Sei que o material que gastou é caro, sei que já perdeu muito do seu tempo para construí-lo - Annie esfregou uma mão na outra e continuou: - Mas não se preocupe, você não vai perder nada. Vou pagar pelo berço. Só que não posso levá-lo para o meu apartamento. Não posso mesmo.


• -Por quê?


• -Por favor, Poncho, estou me sentindo muito chateada. E me desculpe por ter tentado cancelar a compra.


• -Eu perguntei por quê, Annie?


• -Não estou estendendo você.


• -Por que adotou essa criança?

A pergunta fez com que o coração de Annie disparasse. E a culpa, a culpa que carregava dentro do peito a inundou por inteiro e a fez se sentir imperfeita, ina­dequada, a pior mulher do mundo.

"E eu achava que havia superado tudo, que o pas­sado havia ficado enterrado. Mas não, ele está aqui e vai me perseguir pelo resto da minha vida. E agora Poncho quer saber o motivo que me levou à adoção. Poncho quer saber, quer detalhes do que foi a minha vida nesses últimos anos. Mas não estou emocionalmente preparada para lhe revelar esses detalhes."

• -Isso para mim é loucura, Annie!


• -Loucura?


• -É, loucura! Você é jovem, tem toda uma vida pela frente. Como resolve, de repente, adotar uma criança? É muita responsabilidade em jogo, sabia?

Annie  olhou para o chão coberto de serragem. E teve a sensação que cada pedacinho da madeira tinha sido retirado de sua alma.

" Poncho não tem o direito de me dizer tudo isso."

• -Uma criança exige muitos cuidados, Annie. Pensa que é assim? De repente, a gente resolve adotar uma criança e pronto? Não, de jeito nenhum. Você deveria ter pensado melhor antes de dar um passo com esse. Por quê? Por que fez isso?


• -Porque a vida é minha, Alfonso Gray - ela se ouviu respondendo. - É minha. E porque era exata­mente o que eu queria fazer, era o que eu queria. Eu quero uma família, uma...


• -Eu não acredito! - Poncho passou a mão pelos cabelos. - Não acredito mesmo! - Quantos anos você tem? Trin­ta? Não, você deve ter bem menos que trinta anos. Mas isso não tem a menor importância. O que importa é que você resolveu complicar a sua vida. Será que ser mãe solteira não assusta você? O que é isso, meu Deus do céu? Será que não vê a vida que a minha irmã leva?