Fanfic: Promessa de Paixão AyA (Terminada)

Annie pegou Kate no colo e a aconchegou contra o peito.

-   Está com frio, minha querida?

A garotinha, de olhos bem abertos, a fitava com atenção.

-   Não vai me responder? Não vai me dizer se está com frio? - Ela beijou a testa da menina. - Não, você não está com frio. Mas garanto que logo estará com fome. Vou aprontar a sua mamadeira.

Annie voltou a colocar a criança no carrinho e foi para a cozinha.

Depois que saíra da loja de Poncho, tinha passado no supermercado e fora direto para casa. Precisava pen­sar, pensar muito no que fazer. Apesar de estar con­vivendo há pouco tempo com Kate, já não conseguia imaginar a vida sem ela.

À tarde, tinha ido até a creche onde deixava a ga­rotinha e voltara para casa.

"White Star é um lugar maravilhoso para se criar uma criança. E, para os turistas, essa cidade mais parece saída de um conto de fadas", ela pensava en­quanto preparava a mamadeira.

A cidade recentemente tinha sido considerada um dos locais mais agradáveis do estado. Lá as pessoas, além de se divertirem muito nos inúmeros bares, boa­tes e cafés, também podiam fazer muitas compras. Em White Star vendia-se de tudo: desde roupas de grifes famosas, até todo tipo de artesanato. Isso sem contar com a comida: na cidade existiam restaurantes sofisticadíssimos e também simples lanchonetes que se es­meravam para agradar os visitantes. As casas, muito antigas, eram todas pintadas com extremo bom gosto e abrigavam uma população muito trabalhadora. No inverno, uma cena muito comum nas ruas eram os carrinhos, cujos donos vendiam chocolate quente e bo­linhos fritos. Esses mesmos vendedores, em outras épo­cas do ano, vendiam flores, amendoim, sucos, ou qual­quer outra coisa que pudesse agradar os turistas.

Poncho havia nascido naquela cidade. Annie, não. E talvez, por causa disso, ela continuava enxergando White Star como uma turista. E adorava aquelas ruas estreitas. Mas apesar de uma maneira geral gostar muito da ci­dade, Annie preferia a parte mais afastada do centro. Lá encontrava uma paz muito grande. E tinha sido exata­mente nesta parte da cidade que ela fora morar e oferecer seus serviços profissionais. E acabara conseguindo tra­balho que lhe rendia dinheiro suficiente para ter uma vida modesta, sem nenhum tipo de problema.

Poncho, no entanto, tinha uma outra relação com a cidade. Ele a via como um morador antigo e como um homem que se esforçara muito para ser reconhecido pelo trabalho que executava. E, depois de muita luta, tinha atingido o seu objetivo: os móveis que fabricava falavam por ele e já eram muito famosos. Freqüente­mente, recebia encomendas de outros estados. Poncho ca­prichava em cada detalhe. E não se importava com o tempo que demorava para construir cada peça. O que importava era que ficassem perfeitas. Para Poncho so­mente a perfeição importava.

- É... eu gosto muito de White Star e, se pudesse, passaria o restos dos meus dias aqui. - Annie  fechou a mamadeira e voltou para o quarto. Kate continuava com os olhinhos bem abertos.

-   Olha o que eu trouxe para você! - Ela mostrou a mamadeira para a garotinha. - Como é? Vai continuar calada? Vai continuar me desprezando, fazendo de conta que eu não existo?

Annie deixou que um pingo do leite caísse nas costas de sua mão.

-   Está na temperatura exata. Tenho certeza que você vai adorar a comidinha, minha gatinha. - Ela pegou Kate no colo e a menina bocejou. - O que foi? Está querendo dormir? Me desculpe, meu amor, mas agora você precisa mamar. Depois a mamãe deixa você dormir? Combinado?

De repente, os olhos de Annie se turvaram.

"Eu tinha prometido a mim mesma que não usaria a palavra mamãe aqui dentro de novo. Não posso fazer isso comigo. Sei que não posso sequer pensar na hi­pótese de perder Kate, mas a hipótese existe. Se con­tinuo achando que sou a mãe dela, a coisa pode ficar muito feia, muito difícil para mim..."

Ela colocou o bico da mamadeira junto aos lábios da garotinha. Kate, ávida, começou a mamar.

-   Mas é assim que eu me sinto: como mãe de Kate. Ela é a filha que nunca vou ter. E a maternidade sempre foi muito importante para mim. Desde que me conheço por gente, queria ter uma coisinha linda como essa para criar. - Ela sorriu para a criança. - E sempre soube que seria uma excelente mãe. Gosto da maternidade. Gosto de saber que poderei contribuir para um mundo melhor, criando um cidadão decente.

Kate soltou o bico da mamadeira.

-   O que foi? Se ofendeu por eu ter chamado você de cidadão? Tudo bem, tudo bem, não precisa ficar brava. Eu mudo a frase, certo? Vamos lá: gosto de saber que poderei contribuir para um mundo melhor, criando uma cidadã decente! E então, Kate? Melhorou? Certo. Eu ouvi o que você disse: a frase melhorou. - Ela voltou a colocar o bico da mamadeira na boquinha da menina. - Mas é verdade. O mundo só vai melhorar se todos os pais estiverem preocupados em criarem ci­dadãos de verdade. Não dá mais para viver num mundo onde tudo é considerado descartável. Mas não dá mesmo! Annie continuou conversando com Kate e se esforçando para, pelo menos naquele momento, não pensar na ameaça que pairava sobre elas.

No dia seguinte, depois de deixar Kate na creche, Annie foi para o outro emprego que tinha, numa rua muito próxima de onde morava. Era uma loja de cos­méticos, onde também cuidava de toda a contabilidade.

A noite, depois de ter colocado Kate para dormir, o telefone tocou. Era o advogado.  Annie, pelo tom da voz dele, logo percebeu que as novidades não eram nada boas.