Fanfic: Paixão Oriental

-Mas eu já não quero que trabalhe comigo -adicionou ela.

Ele não lhe fez caso e se sentou em sua poltrona, ficando com os papéis.

-Sente-se e me explique -convidou-a.

-Não. Mudei de idéia, Alfonso. Cometi um engano ao vir te ver... agora eu sei. Tinha razão. Devo partir. Sinto ter feito você perder seu tempo...

Alfonso apertou os olhos e ficou imóvel.

Ela se alarmou. Sentiu medo.

-Para quem é? -repetiu ele serenamente e a olhou com interesse.

Ela desviou o olhar nervosamente. Logo fixou seus olhos na luz do computador de chamadas.

-O almoço não é possível. Tenho que estar à uma hora em outro lugar.

Alfonso não disse nada. Ficou sentado ali olhando-a. Estava tensa, nervosa, notava nos quase imperceptíveis tremores de seu corpo.

Um repentino pensamento fez que ele apertasse os olhos. Agora ela era Anahi Portreath, não Anahi Leggett, a quem ele tinha conhecido. William Portreath tinha morrido aos noventa e tantos anos, deixando uma grande fortuna a sua viúva. Alfonso sabia como funcionavam essas coisas: os homens sensatos tendiam a proteger seu dinheiro das maquinações de suas jovens esposas.

-Mas protegê-lo, para quem? -Responda, Anahi -ordenou-lhe.

Ela o olhou, logo desviou o olhar e murmurou brandamente:

-Para o meu filho. O dinheiro é para o meu filho.

Então o velho tinha podido desfrutar dos encantos de uma adorável esposa jovem! Alfonso começou a ficar louco ante essa idéia. Anahi ficou pálida. Seria por vergonha?

Alfonso se sentiu enjoado. Ela parecia suplicar para que compreendesse. Mas o único que ele podia fazer era pensar nela nua, debaixo de um corpo de velho.

Deixou os papéis em cima da mesa, ficou de pé e rodeou o escritório.

-Venha comigo -disse-lhe com voz firme.

Anahi parecia um pouco assombrada. Ele não desejava olhar seu rosto, assim deu a volta e começou a andar. Enquanto ia para a porta ouvia os passos do Anahi que o seguia. Lá fora, Nadia estava ocupada com o computador, e Kadir estava apoiado em seu escritório enquanto falava no telefone. Estava falando em árabe, mas Alfonso não tinha nem idéia do que estava dizendo.

-Kadir! -gritou para chamar a atenção de seu ajudante.

Alfonso seguiu caminhando para o outro lado da habitação, onde estava o elevador com as portas abertas.

Kadir foi imediatamente.

Alfonso fez Anahi entrar primeiro. Ela passou junto a Alfonso com o cenho franzido. Logo Alfonso indicou com um gesto a seu ajudante que entrasse também no elevador. Alfonso entrou com eles, mas só um segundo, para apertar o botão do andar térreo.

-Acompanhe à senhora Portreath à saída -disse ao Kadir. - E te assegure de que não volte a entrar.

Disse isto e partiu, ouvindo a exclamação de Anahi quando as portas se fecharam.

Alfonso voltou para seu escritório e fechou a porta.

Anahi olhou as paredes de aço de sua prisão. Estava em estado de choque. A seu lado, Kadir parecia igual de sobressaltado.

-O que aconteceu? -perguntou ela.

-Temo que não sei -respondeu o homem.

Logo, antes de que pudessem dizer nada mais, as portas se abriram no andar de baixo. Kadir a acompanhou até as portas de vidro e saiu com ela. Então o jovem lhe fez uma inclinação com a cabeça a modo de saudação formal e voltou a entrar.

Ela ficou ali, em estado de choque.

Alfonso tinha se vingado dela, se é que se tratava de vingança. E ela jamais se viu humilhada daquela maneira.

Incapaz de mover-se normalmente por seu estado, esteve a ponto de ser atropelada por um carro que passava. Ouviu a buzina do carro e se sobressaltou ao dar-se conta de que se livrou de que a atropelasse por escassos centímetros.

Em sua torre de mármore, Alfonso a estava observando com os dentes apertados. Foi então quando, ao vê-la na rua, relacionou-a pela primeira vez com a estranha de cabelo dourado a quem tinha visto antes.

Se tivesse sabido então o que sabia agora, não a teria deixado atravessar essas portas.

O único que lhe faltava agora era que sua mãe se levantasse da tumba e lhe contasse quanto dinheiro lhe tinha dado seu pai antes de aceitar ter um filho dele...!

O dinheiro. Sempre o dinheiro com as mulheres.

Seu telefone celular soou outra vez. Ele o desligou e atirou ao cesto de papéis o cartão com a que funcionava. Ali estava o jornal com as notícias do dia. No dia seguinte, cortaria o envio de dinheiro para a excursão de Serena.  E sua mãe tinha deixado de ser um problema ao morrer no dia de seu nascimento... Assim só ficava Anahi... ou a senhora Portreath, corrigiu-se amargamente.

Recolheu os documentos de Anahi com a intenção de atirá-los ao lixo junto com o jornal e o cartão.  Mas algo lhe chamou a atenção...