Fanfic: Paixão Oriental

-Não tenho uma vida amorosa -respondeu, irritado, Alfonso. Aquilo tinha sido parte do problema com Serena. Não tinha sido fácil ter tempo para compartilhar, com a apertada agenda de ambos... Apenas a tinha visto três vezes nos últimos meses. Quando Serena viajava pelo mundo com seu espetáculo, ele voava em direção contrária por seus negócios.

-Como está nosso pai? -perguntou.

-Está bem -assegurou-lhe seu irmão. –Os exames de sangue saíram bem, e está bem de ânimo. Não se preocupe por ele, Alfonso. Tem intenção de ver nascer o seu primeiro neto.

Alfonso respirou profundamente. Os últimos seis meses tinham sido difícil para todos eles. A enfermidade do velho sheik tinha sido larga e penosa. Tinham sido anos de dor e desgaste. Tinham estado a ponto de perdê-lo fazia seis meses. Mas, graças ao Alá, repôs-se para ouvir a notícia da próxima chegada de seu neto. Agora a enfermidade estava remetendo, mas ninguém podia dizer quanto tempo seguiria assim. Então, desde aquele momento, tinham decidido acompanhá-lo sempre um dos dois irmãos. O velho sheik necessitava do apoio de seus filhos. E eles ficavam tranqüilos de que um dos dois estaria presente se seu pai piorasse. Posto que a esposa de Hassan, Leona, estava na última fase da gravidez muito desejada e esperada, Hassan tinha decidido que seria ele quem ficaria no lar paterno, e se ocuparia dos assuntos de estado. Enquanto isso Alfonso se ocuparia dos negócios internacionais da família.

-E Leona? -perguntou Alfonso.

-Redonda —brincou Hassan.

Mas Alfonso notou o tom de felicidade e orgulho na voz de seu irmão. Teria gostado de saber como era sentir-se assim.

Logo, disse-se que não, que não estava disposto a passar por aquele pedregoso caminho, e mudou de assunto. Era melhor falar de negócios.

Mas quando desligou, Alfonso seguiu ali, lhe dando voltas à cabeça, e perguntando-se por que estava tão zangado.

Nunca tinha amado a Serena. Era verdade que o casamento entre eles era algo impossível. Ela era bonita e apaixonada, a mulher perfeita para a cama, na realidade. Mas o amor jamais tinha sido o motor de sua relação. Embora ela gostasse de usar essa palavra com ele. Tinha sido sexo, só sexo, o que os tinha unido. E ter inveja de um amor como o de seu irmão era uma tolice.

Ficou de pé e se aproximou para olhar pela janela. Recordou que em algum momento de sua vida tinha acreditado ter encontrado o amor, e que logo se deu conta de que não era de verdade. Depois, não tinha procurado o amor. Não queria voltar a sentir que o apanhava penosamente. Nem desejava passar seus gens a ninguém. Isso era para Hassan e a Leona, cujos genes poderiam mesclar-se com sucesso.Seu coração pareceu encolher-se e fez um gesto de dor. Estava sozinho. A solidão de sua vida o fazia invejar a toda essa gente que caminhava pela rua ali abaixo, porque certamente tinham alguém que os esperava de noite, enquanto que ele...

Bom, ele estava ali, em sua torre de marfim, personificando ao rico e poderoso privilegiado, invejado por todos... Quando a verdade era que, às vezes, no afetivo, sentia-se tão pobre como um mendigo.

Seria culpa de Serena? Não, de Serena não, mas sim daquela outra mulher de cabelo dourado, como o da garota que estava parada na esquina, ali abaixo, refletiu. Anahi o tinha destroçado. Bela, tímida e calculadora, tinha conhecido a um Alfonso muito jovem e crédulo, cheio de otimismo, e o tinha transformado no homem duro e cínico que era na atualidade.

Onde estaria Anahi agora? O que teria sido de Anahi nos últimos oito anos? Lembraria-se dele alguma vez e do que tinha lhe feito? Ou teria esquecido até de seu nome? Esse último seria o mais provável, pensou. Anahi poderia ter tido cara de anjo, mas tinha o coração de uma prostituta. E as prostitutas não recordavam os nomes. O seu estaria misturado com todos os outros.

Seu celular voltou a soar. Seria essa outra zorra, a Serena, pensou. Não era o tipo de mulher que se desse por vencida facilmente. Que faria? Atendia a chamada? Ignorava-a?

Olhou à estranha de cabelo dourado da rua. Ela estava duvidosa. Parecia não saber aonde ir. Ele compreendia aquela sensação.

Na realidade, até a estranha da esquina teria tido mais possibilidades de que atendesse sua chamada que Serena.

Não atenderia o telefone, nenhuma mulher valia a pena.

De pé na calçada, frente ao imponente edifício de mármore, aço e cristal, do Banco Internacional do Rahman, Anahi tentava convencer-se de que estava fazendo o correto indo ali.

Teria alguma possibilidade de que aquilo saísse bem?

Estaria perdendo o tempo ao ir ali para ver um homem de que sabia, por experiência, que não sentia nenhum respeito por ela?

"Lembre-se do que ele disse, lembre-se do que ele lhe disse", advertia-lhe uma voz em sua cabeça. "Dá a volta, Anahi."