Fanfic: Esposa por um ano - AyA

-Parece que ao final tudo sairá bem - pronunciou May, com os olhos cheios de lágrimas.

-É uma notícia tão maravilhosa! Alegro-me tanto pelos dois...

-Assim não pode ir... Agora não - declarou May, muito séria-. Quero que fique. Quero que fique aqui e seja tão feliz como Derick e eu.

-Não acredito que isso seja possível - repôs Anny com um leve tremor na voz.

-Tudo é possível.

O som de um carro que se aproximava interrompeu as palavras de May. Anny se aproximou da janela para dar uma olhada. Um luxuoso esportivo vermelho acabava de deter-se ao lado de seu jipe e do velho carro de sua amiga.

-É Alfonso - murmurou Anny, presa de uma súbita apreensão.

-Há alguém em casa? -sua voz, forte e de tom decidido, chegou a seu ouvido procedente do vestíbulo.

-Comporta-se como se esta casa já lhe pertencesse - comentou Anny, desgostosa -. Entra aqui como quer e quando quer.

May sorriu.

-Estamos na cozinha, Alfonso - chamou-o, alegre.

Segundos depois apareceu na soleira da cozinha, bronzeado e devastadoramente atraente com seu jeans e sua camisa pólo de cor azul marinho.

-Parece que cheguei bem a tempo - sorriu, olhando a cafeteira que estava sobre a mesa.

-Certamente que sim - foi May quem se levantou para tirar outra taça e lhe servir café-. Me alegro em ver-te, Alfonso.

-Eu também me alegro... Tem um aspecto maravilhoso - sorriu antes de beijá-la nas bochechas-. Venho de sua casa. Derick me acaba de contar a boa notícia. Felicidades.

-Obrigado - repôs May, ruborizada.

Alfonso olhou a Anny e por um momento seus olhos verdes se detiveram em seu rosto com expressão contemplativa. A jovem podia sentir o fogo que corria por suas veias ao recordar seu último encontro, a forma em que a tinha beijado... E sua proposta.

Apressou-se a desviar o olhar, mas seguia sendo agudamente consciente de sua presença.

-Bom - disse May, entregando a Alfonso sua taça de café - eu já me dispunha a partir...

-Não tem por que ir correndo por minha culpa - disse ele.

-Não, não, já ia de toda forma - May apurou seu café-. Possivelmente possa fazer que Anny recupere a razão. Sabe, esteve-me dizendo que quer partir para Monterrey.

-Monterrey? - Alfonso  olhou a Anny com o cenho franzido.

Seguiu um tenso momento de silêncio antes que May dissesse com um brilho malicioso nos olhos.

-Não o admitirá, mas estou segura de que esse cara que ela conheceu na universidade está tentando convencê-la para que vá até lá. Esperando provavelmente que consinta em viver com ele.

-Maitê! -Anny abriu muito os olhos, escandalizada.

-Não é bom tomar uma decisão tão radical quando ainda segue afetada pela morte de seu pai, Anny... Não pode pensar com claridade - acrescentou May, completamente imperturbável ante o olhar desaprovador de sua amiga, e se agachou para recolher sua bolsa -. Bom, deixo vocês sozinhos. Como antes te disse, possivelmente possa...

-Não necessito que ninguém me faça recuperar a razão - murmurou Anny, incômoda - sou perfeitamente capaz de viver minha própria vida e decidir por mim mesma.

-Telefonarei-te mais tarde, Anny. Almoçaremos juntas algum dia na semana que vem?

Anny assentiu com a cabeça e se dispôs a acompanhar a sua amiga até o carro, mas May se negou.

-Não, não se preocupe. Conheço o caminho.

O silêncio que se abateu sobre a cozinha estava carregado de tensão, uma vez que Alfonso e Anny ficaram sozinhos.

-Monterrey? - pronunciou de novo Alfonso, sacudindo a cabeça -. Sabia que jamais deixa de chover em Monterrey?

-Então presumo que será uma agradável mudança, não? -disse a jovem com energia. Terminou seu café e deixou a taça sobre a mesa da cozinha.

-Há algum homem te esperando lá? - insistiu Alfonso.

-Já lhe disse isso uma vez, isso não é teu assunto - replicou Anny, inflexível. Estava decidida a lhe deixar pensar que havia outro homem que a queria... E não pelos frios e impessoais motivos que Alfonso lhe tinha proposto.

-Sabe? May tem razão em uma coisa: neste momento não deveria tomar uma decisão tão radical. Ainda está sob os efeitos da morte de seu pai.

-Essa é sua maneira de me dizer que mudastes de idéia a respeito de que nos casemos?

-Não... Minha oferta segue em pé - sua voz era baixa, suave, sedutora.

Por um instante Anny se sentiu incapaz de falar. Não lhe teria surpreendido nada que Alfonso tivesse ido procurar-la para lhe dizer que seu projeto era um completo erro. Que não tinha falado a sério sobre aquela proposta. Sacudiu a cabeça, tentando rechaçar a absurda sensação de alívio que tinha sentido ao saber que não tinha mudado de idéia.

-Como pode pensar que cometeria uma loucura ao me apressar a me mudar a Monterrey, quando como May e você dizem, «não posso pensar com claridade», enquanto que me casar contigo de repente não lhe parece isso absolutamente?

-Preferiria que cometesse um erro comigo antes que com qualquer outro homem.

Havia um brilho de humor em seu olhar, a leve sombra de um sorriso em seus lábios, que a comoveu profundamente. O estranho senso de humor de Alfonso sempre a tinha afetado de uma maneira especial. Adorava sua discreta ironia, a facilidade com que podia lhe arrancar um sorriso. E naquele instante teve que lutar contra o impulso de sorrir. Aquela conversa era muito séria para tomar como uma brincadeira.