Fanfic: Esposa por um ano - AyA

-Só queria se apoderar desta terra - corrigiu-o ela-. Desculpa por ser tão brusca, Alfonso, mas já não me impressiona seu papel de vizinho solícito e preocupado. Sei quais são suas verdadeiras motivações. É um abutre, e ao fim, depois de ter estado planejando sobre mim durante meses, está a ponto de cair sobre sua presa. Levo semanas esperando-o.

-Sei que ainda segue muito afetada pela morte de seu pai - repôs Alfonso sacudindo a cabeça -. Ainda não pode ver claramente muitas coisas, mas...

-O problema é que posso ver as coisas com muita claridade - interrompeu-o -. Agora, se me desculpar, tive uma longa e exaustiva jornada de trabalho e quero voltar para minha casa para relaxar -«enquanto possa conservá-la», acrescentou para si, preocupada.

Mas em lugar de partir, como ela tinha esperado Alfonso a acompanhou a caminho de casa.

-Se me culpar te ajuda em algo, vá em frente - disse-lhe em um tom baixo-. Mas mais cedo ou mais tarde terá que confrontar-se com a verdade. Já transcorreram dois meses desde que seu pai faleceu. Não pode seguir vivendo sozinha aqui durante muito tempo mais. Os vinhedos estão vindo abaixo, Anny. Vai te custar muito dinheiro se quer salvá-los, e não o tem. Além disso, está endividada.

Anny não desejava que Alfonso lhe recordasse os problemas que tinha. Seu orgulho se rebelava como uma fera, mas não disse nada porque sabia que no fundo tinha razão.

-Olhe Anny, não vim te ver com a intenção de te desgostar. Vim para te oferecer ajuda prática. Se quiser, te darei uma mão com as contas e...

A jovem pôs-se a rir.

-Para que possa te informar melhor da quantidade de vinhedos que pode me roubar? Não, obrigado. Minhas contas são minhas.

Alfonso deixou a caixa de ferramentas no chão da varanda que rodeava a casa.

-Apesar do que possa pensar, estou sinceramente preocupado por ti.

-Está preocupado porque tiveste que esperar mais tempo de que tinha previsto para se apoderar desta propriedade. Quão único deseja é ampliar seus vinhedos para tirar mais benefícios.

Alfonso a pegou por um braço quando ela já se dispunha a lhe dar as costas.

-Eu não fui o culpado dos problemas econômicos de seu pai.

-Possivelmente não - murmurou, tensa-. Mas sim acelerou sua queda.

-Lhe emprestando dinheiro quando mais o necessitava?

-Lhe exigindo que lhe devolvesse isso em um prazo impossível de cumprir. Pode ser que não fosse a causa dos problemas de meu pai, mas certamente você o rematou - olhou-o com olhos brilhantes-. Vem aqui para me dizer que não é um inimigo, mas para mim é... e sempre será. Podia ter oferecido a meu pai um prazo maior para que te pagasse a dívida, mas não o fez. Você contribuiu para sua morte, e por isso te odeio.

-Isso que diz não tem nenhum sentido, Anahí - replicou Alfonso com voz baixa de fúria contida-. Sim, de acordo, poderia lhe ter oferecido um prazo maior, mas isso não teria tido nenhum sentido. Seu pai não era um homem... -vacilou e Anny terminou a frase por ele.

-Não era um homem tão desumano nos negócios como deveria ter sido? Ao menos era honesto.

-E pensa que eu não sou?

-Sei o que você é. Durante os últimos meses vi como é na realidade - baixou o olhar à mão com que ainda lhe mantinha preso o braço-. E agora me solte.

-Anahí, precisamos falar e solucionar isto – repôs ele com voz áspera.

-Não há nada do que falar.

-Está equivocada - aproximou-a para si, e a temperatura de Anny subiu ainda mais-. Durante anos fomos vizinhos e amigos. Não quero que nossa amizade termine tão bruscamente... Desta forma. Você estava fora, estudando na universidade, quando os problemas econômicos de seu pai se aprofundaram, e ele foi me buscar para me pedir que lhe prorrogasse o prazo de devolução do empréstimo. Você não sabe o que ocorreu na realidade.

-Sei o que meu pai me disse - espetou-lhe furiosa-. Sei que quando voltei para casa e fui te buscar para te pedir em nome de meu pai que prorrogasse o prazo do empréstimo, mais ou menos você riu na minha cara. Ou vais dizer que imaginei tudo isso?

-Já te expliquei as razões pelas quais não estendi o prazo limite - repôs Alfonso com tom tranqüilo