Fanfic: Esposa por um ano - AyA

Sendo tão somente uma menina tinha admirado Alfonso, tinha-o respeitado... e amado. Pelo menos ele nunca tinha adivinhado aqueles sentimentos. Isso teria sido muito humilhante.

Recordava como, sendo uma adolescente, Alfonso se tinha burlado sem piedade dela. Sempre a tinha feito rir... E derreter-se com um simples olhar de seus incríveis olhos.

Tinha ansiado ser o suficientemente velha para sair com ele, e havia sentido um enorme ciúmes das espetaculares mulheres que tinham desfilado por sua vida.

A mãe de Alfonso tinha adivinhado a verdade, entretanto. Ao evocar a lembrança de Helena, lhe fez um nó na garganta.

Anny não podia lembrar-se de sua verdadeira mãe, mas Helena tinha sido uma espécie de mãe adotiva para ela. Era uma mulher amável, sincera, encantadora... Anny se havia sentido capaz de falar com ela... Tinha desfrutado realmente de sua companhia.

Tinha sido a mãe de Alfonso quem lhe ensinou a montar a cavalo, tinha-lhe contado muitas coisas sobre os cultivos, sobre as vinhas. Tinha sido ela, mais que seu próprio pai, quem lhe tinha irradiado o amor por aquela terra.

Tinha transcorrido ano e meio desde que Helena faleceu, e Anny seguia sentindo sua falta. Fechou os punhos ao lado do corpo. Só Deus sabia o que poderia fazer agora, na situação em que se encontrava...

Com atitude enérgica, pôs-se a andar pelo escuro vestíbulo. Não queria pensar no passado. Sentia-se muito cansada, muito triste. Subiria ao andar de cima, tomaria um bom banho e se esqueceria de tudo. De repente seus pensamentos se interromperam quando tropeçou e se golpeou em um pé com um objeto duro, muito sólido. Gritou instintivamente de dor e se ajoelhou no chão para esfregar o pé ferido, chorando de fúria e de frustração.

-Maldita, maldita seja - murmurava entre dentes. Esqueceu-se de que nesse mesmo dia, cedo pela manhã, tinha baixado uns caixotes do apartamento de cobertura e as tinha deixado no centro do vestíbulo.

-Anny, encontra-te bem?

Era a voz de Alfonso, no outro lado da porta principal da casa.

-Sim. Vá embora - gritou, ansiando que a deixasse sozinha.

Alfonso ignorou por completo sua ordem, porque Anny não demorou ao ouvir o som da porta abrindo-se. Rapidamente se aproximou dela, olhando-a com expressão preocupada.

-Que diabos têm feito?

-Estava jogando futebol com os caixotes - murmurou com tom sarcástico.

Alfonso sorriu enquanto se agachava para lhe examinar o pé. A jovem esboçou uma careta de dor quando sentiu o contato de seus dedos.

-Viverá... Não é grave - disse Alfonso ao mesmo tempo em que se incorporava, e por um instante Anny pensou que ia partir. Mas não o fez, mas sim se dirigiu à cozinha-. Vou conseguir um pouco de gelo para o inchaço.

-Não é necessário. Já me arrumarei sozinha - ao levantar descobriu que o pé lhe doía muito, e teve que apoiar-se no caixote.

Alfonso voltou da cozinha com uma bolsa cheia de cubos de gelo e se ajoelhou a seu lado para aplicar-lhe no pé.

-Sente-se melhor? -Alfonso levantou o olhar para ela.

-Sim, obrigado - repôs Anny com voz rouca. Podia sentir como sua fúria se evaporava sob a onda de um sentimento mais forte... Pelo homem ao qual sempre tinha amado. A tristeza se refletiu em seus olhos azuis, obscurecendo-os com uma sombra de cor violeta profunda. Se seu pai não tivesse se dirigido para Alfonso em busca de ajuda econômica... Não queria pensar mal de Alfonso. Ansiava deixar de lado todos aqueles pensamentos para poder confiar nele, como sempre tinha feito.

-Odeio ver-te tão triste, Anny. Desespera-me ver-te assim. - A jovem tragou saliva, decidida a não chorar.