Fanfic: Esposa por um ano - AyA

-Você... Deveria ter pensado nisso antes, quando meu pai te pediu que prorrogasse o prazo de devolução do empréstimo - suas palavras já não tinham o tom acusador de antes, nesse instante sua voz só destilava tristeza e arrependimento-. Somente teríamos necessitado de alguns meses e...

Alfonso sacudiu a cabeça e olhou a seu redor, fixando o olhar nos caixotes que ocupavam o vestíbulo.

-Eu jamais quis que tudo isto chegasse até este ponto - murmurou sombrio-. Certamente ignorava que estivesse fazendo as malas para partir - passou-se uma mão pelo cabelo, com gesto distraído-. Será um trabalho descomunal embalar tudo o que tem aqui.

-Sim. Três gerações de minha família viveram nesta casa. Demorarei bastante em terminar.

-O que fará? Levará os móveis a um armazém?

-Os agentes imobiliários me aconselharam a vender com tudo. Mas há um grande número de coisas de grande valor sentimental, assim farei uma revisão exaustiva e conservarei o que puder -tentou adotar um tom prático, para não lhe deixar saber o muito que lhe doía tudo aquilo.

-Amas muito esta casa, verdade? -perguntou-lhe ele com tom suave.

-É meu lar... -aspirou profundamente.

-Apesar do que possa pensar, não era isto o que eu queria - afirmou Alfonso-. A propósito, foi minha mãe quem primeiro emprestou a seu pai o dinheiro que necessitava, não eu -explicou com tom tranqüilo-. E não somente o fez porque desejasse ajudá-lo. Ela estava muito afeiçoada contigo, Anny.

-Eu também estava com ela - repôs a jovem, com os olhos cheios de lágrimas-. Foi muito amável de sua parte - admitiu com voz rouca.

-Não chore Anny.

-Não estou chorando - negou furiosa, enxugando uma furtiva lágrima.

Alfonso lhe aproximou para estreitá-la entre seus braços. Por um instante Anny se apoiou nele, reconfortada. Depois, quando levantou o olhar, o sentimento de consolo que tinha experimentado começou a transformar-se sutilmente em outro de desejo.

Alfonso pronunciou seu nome em um suave murmúrio que a fez tremer de excitação. Anny queria que a beijasse. O desejo que ardia em seu interior lhe resultava simplesmente entristecedor.

Segundos depois Alfonso baixou a cabeça e ela sentiu o contato de seus lábios misturado com o salgado sabor de suas lágrimas. Durante anos tinha sonhado secretamente com o dia em que ao fim a beijaria. Imaginou-se que seria um momento mágico, apaixonado, mas não tinha estado preparada para a tormenta de desejo que se desencadeou em seu interior.

Quando Alfonso se apartou, Anny estava sem fôlego. Olhava-o fixamente, sem falar, perdida nas profundidades de seus olhos.

Mas logo a realidade a golpeou com toda sua força. Pensou em seu pai, pensou nas palavras que ele tinha murmurado com esforço, palavras de ódio contra Alfonso Herrera. «Frio, duro, implacável»; esses eram os adjetivos que tinha utilizado para referir-se a ele. Aquelas palavras ressonavam em sua mente como uma recriminação, e a invadiu a pesada carga de culpa. De alguma forma, sua paixão por Alfonso lhe parecia um enorme ato de deslealdade para a memória de seu pai. Empurrou-o para longe dela. - Não sei o que passou, mas foi um tremendo erro.