Fanfic: Corações Turvos - Savirroni [Refeita]

Mesmo que insistisse, não deixaram Dulce voltar para a festa. Em seu lugar, Angelique a levou para o quarto e lá providenciaram uma “festa particular”, com Coca-Cola do refrigerador e alguns salgadinhos roubados por Christian. Maite acabou indo dormir cedo, porque o dia seguinte já seria de aula, mas Dulce, Christian (que logo ficou apelidado de Pollito) e Angelique conversaram até de madrugada. Quando ele enfim se foi, nenhuma das duas conseguiu dormir, cochilando por uma duas horinhas até que Maite as acordasse às sete da manhã.

-Andem logo, meninas! A aula é às oito!

Dulce esfregou os olhos e a primeira coisa que viu foi um vislumbre das pernas de Maite. Seu coração acelerou e ela fechou os olhos de novo, amaldiçoando Deus e o mundo por tê-las visto, mas depois que os abriu de novo Maite já estava do outro lado do quarto.

-Eu já separei os uniformes de vocês, estão em cima do sofá. – avisou ela. - E vou me adiantando para pegar o nosso café da manhã. Andem logo.

Saiu do quarto e Dulce e Angelique trocaram um olhar pensativo. Depois, Dulce sorriu e pousou a cabeça no travesseiro de novo.

Maite teria achado a cafeteria bem simpática, se alguns engraçadinhos não lhe tivessem assov.iado quando ela passou. Escolhendo a mesa mais afastada, esperou que a garçonete, uma das alunas do último ano, fosse até ela e então pediu três cafés com leite e uma cesta de torradas. Esperava mesmo que suas colegas já tivessem se levantado e, fazendo as contas, calculou que até elas chegarem e o café ser servido, teria dado tempo suficiente para que o mesmo não esfriasse. Então, subitamente, sua bexiga a lembrou de algo que se olvidara naquela manhã: fazer o xixi matinal.

Era quase como um ritual: levantar-se, rezar e fazer xixi. Se esquecia algo, seu dia desandava, por isso ela pediu para a garçonete guardar sua mesa e se dirigiu aos banheiros femininos. Fediam a uma mistura de essência de laranja com água sanitária, mas eram bonitinhos, bem mais limpos que os banheiros da igreja que freqüentava na Cidade do México. Escolhendo a cabine mais distante da porta – algo que sua mãe lhe ensinara – ela também reparou que as privadas eram decoradas com flores sobre a porcelana branca e então se sentiu em casa. Sua mãe era viciada em qualquer apetrecho florido.

Antes que saísse da cabine, porém, Maite ouviu passos se aproximando do banheiro. Meu bem, isso é um colégio, lembrou-lhe aquela mesma voz interior; é claro que haverá pessoas indo ao banheiro. Eu hein? A igreja não tinha mais de dez cabeças, aqui deve ter umas seiscentas.  “Eu sei”, respondeu Maite, mentalmente. Mas os passos não eram somente femininos; além dos saltos das botas que eram obrigadas a usar, havia o som de passos mais... Pesados? Tênis, deduziu, e então se recordou de que as mulheres não usavam tênis, a menos que tivessem aula de Ginástica. O quê, segundo o estudo cuidadoso de seus horários, elas não teriam até quarta-feira.

-São passos masculinos... – cochichou a si mesma, sentindo o corpo enrijecer dentro da cabine. Vestiu-se às pressas, mas não conseguiu sair antes que os passos se somassem a vozes masculinas e femininas já conhecidas.

Oh céus! São Any e Poncho!

Será que sabiam que ela estava ali? Será que a usariam para se vingar de Dulce? E o quê fariam? A molestariam? Seu coração acelerou e sua respiração falhou. Começou a rezar em silêncio, pedindo que, pelo amor de Deus, eles não a descobrissem ali.