Fanfic: Corações Turvos - Savirroni [Refeita]

Todos os alunos se dirigiram para o auditório do colégio, onde o diretor os aguardava para sua palestra de início de ano. Os bolsistas, por coincidência, sentaram-se juntos e afastados dos veteranos, mesmo que todos pertencessem ao 5° e 6° anos. Depois de se apresentar, o diretor passou as regras que regiam a instituição e Maite ia balançando afirmativamente a cabeça para cada uma delas, fazendo Angelique e Dulce rirem. Quando foram dispensados, todos os alunos foram convidados a uma festa de boas vindas promovida pelo colégio, que aconteceria às 19 horas. Como ainda havia tempo de sobra para se arrumar, a maioria retornou aos seus quartos, mas Dulce preferiu conhecer as instalações ao lado de Angelique e deixaram Maite voltar para suas orações da tarde.

Conheceram primeiro os jardins, depois as salas de aula e por fim a academia. Quando começaram a ir em direção à biblioteca, esbarraram em dois garotos que cursariam o 5° com elas, mas que não eram bolsistas, então Dulce não lhes deu a mínima. Uma mão então a pegou pelo braço gentilmente e a virou, de modo a encarar seu espectador.

-Olá, desculpe te abordar dessa maneira, mas eu adoraria me apresentar. Meu nome é Michel Gurfi, eu serei seu companheiro de turma.

-Ah... Bom, olá. – cumprimentou-o Dulce, forçando-se a parecer simpática. – Muito prazer.

-Qual o seu nome?

-Dulce Maria.

-Bonito nome. – Michel sorriu e ela teve que admitir: ele era lindo. De qualquer forma, ainda era veterano e não fazia o seu tipo. Quer dizer, nenhum deles fazia, mas ele muito menos.

-Obrigada.

-Você vai à festa?

-Acredito que sim.

-Então nos vemos lá. Boa tarde e bem-vinda ao colégio.

-Obrigada.

Ele se afastou e Angelique sorriu para ela, com um olhar malicioso. Ela riu e juntas voltaram ao quarto, onde Maite ainda rezava.

-Caramba... Que escravidão! – comentou Dulce, atirando-se na cama. – Você tem que rezar todo dia?

-Três vezes ao dia. – respondeu Maite. – Seis aos domingos.

-Putz... Você não tem namorado não? –perguntou Angelique. - Geralmente eles ocupam o nosso tempo.

Diante daquilo, Maite corou de novo. O terço que segurava nas mãos começou a tremer e ela sentiu o corpo esquentar. Se soubessem que ela nunca tocara em algum garoto, será que debochariam dela? Óbvio!, disse uma voz em seu interior. É óbvio que vão zombar de você! Veja a menina-do-pouco-pano, por exemplo; ela já deve ter dormido com milhares de garotos e você sequer abraçou um!

-N-não... – gaguejou ela. – Mas eu tinha.

-E o quê aconteceu?

-Ele não me respeitava... Quer dizer... Bom, ele tinha umas crenças diferentes... Coisas pessoais.

Dulce fez “hum” e apoiou a cabeça no travesseiro, observando-a recomeçar a rezar. Era, deveras, muito bonita, mas se fora obrigada a crescer em uma sociedade conservadora, religiosa e intolerante, obviamente jamais a aceitaria como é. Quer dizer, se Dulce lhe dissesse que seu interesse por homens, em geral, era 10% em uma escala de 100, provavelmente seriam criados conflitos.

Por outro lado, Angelique parecia mais liberal, contudo elas não tinham intimidade para tanto. Com Maite ela também não tinha, mas Angelique lhe soava um tanto mais negativa. E ainda havia o tal do Michel, que a abordara no corredor... Um homem nunca aborda uma menina no corredor se não tiver interessado nela, portanto Dulce não poderia simplesmente chutá-lo sem que Angelique desconfiasse, afinal ele não é do tipo que se chuta. Mas era tudo muito recente ainda. Talvez ela nem ficasse naquele colégio até fim do ano.