Fanfic: Fanfic sem Título
Capitulo 4...
Esfreguei
e limpei e vomitei a noite inteira. Aquele cheiro era ruim demais. A gente não
tinha
em casa
nenhuma daquelas máscaras que todo mundo começara a comprar para o caso de um
ataque
terrorista. Minha mãe sempre achou que, até pegar a máscara do armário e
colocá-la,
você já
teria respirado o que quer que fosse e morrido mesmo. Tentei usar um esfregão,
mas
ele não
era páreo para a gosma. Desisti e passei para os panos de chão. Aquilo levou a
noite
inteira.
O que eu precisava mesmo era de um aspirador industrial. Vi um desses na TV a
cabo
certa
vez. Pelo menos aquela meleca não estava mais se mexendo, se é que já tinha se
mexido
alguma
vez. Quem me dera se tudo aquilo tivesse sido só um produto de uma imaginação
hiperativa...
mas o saco de lixo cheio de retalhos de esfregão e panos de chão encardidos
provavam
o contrário.
No dia
seguinte, estava no piloto automático ao me sentar na aula de biologia. Além de
dolorida,
minhas costelas estavam cobertas de hematomas; não sei se da saída pela
janelinha
ou se do
abraço esmagador de Anahí. Provavelmente dos dois.
Tudo
parecia embaçado.
A
história do incêndio já tinha se espalhado. Só que nem mesmo o respeito pelos
mortos era
capaz de
manter as garotas da minha sala em silêncio. E eu não tinha forças para virar e
encerá-las.
— Ouvi
dizer que Dulce e Anahí estavam lá e que tiveram de abrir caminho com
uma
machadinha
– sussurrou uma loira atrás de mim.
— Olhe,
ela não ta nem se mexendo! – respondeu a outra.
— Isso se
chama estresse pós-traumático – disse a loira, um pouco mais alto. – Meu pai
participou
da Operação Liberdade Duradoura e...
— E aí,
Vodol?
Era ela.
Era Anahí, de pé na minha frente. Na frente da minha mesa de laboratório,
sorrindo
faceira,
com jeito de quem não tinha preocupação alguma nessa vida. Por um instante, só
olhei
para ela. Quer dizer, eu basicamente achava que ela havia fugido de encontro à
morte.
Achei que
nunca mais a veria de novo. Que ela estava morta.
No
entanto, ali estava ela: cabelos brilhantes, capuz fofo listrado de amarelo e
branco,
minijeans
com cinto de plástico branco. Para arrematar, um chaveiro fofíssimo de patinho
de
borracha
pendurado no zíper.
— Você...
tá tudo bem?
— Claro,
por que não estaria? – perguntou ela.
— Mas
ontem à noite, lá em casa, você...
Ela fez
um gesto impaciente para mim.
— Dulce,
você adora alucinar. Fiquei meio detonada quando você me arrastou por aquela
janela,
mas to legal.
Arrastei?
Eu salvei a vida dela!
— A gente
tinha de sair pela janela! O bar tava tomado pelo fogo!
Ela se
sentou ao meu lado e revirou os olhos.— Ai, como você tem tendência a aumentar
as coisas. Lembra no acampamento, quando você
achou que
havia um terremoto e eram só dois caras com um minisystem?
As duas
vadias atrás de mim deram um risinho abafado, e Anahí recompensou sua atenção
com um
sorriso.
— Um
monte de gente morreu, Anahí – sibilei, acordada o bastante para lançar um
olhar
mortífero
para as vadias. – Morreram queimadas, ou sufocadas, ou pisoteadas. Mais da
metade de
quem estava lá não conseguiu sair. Tá em todas as manchetes. Do país! As.
Pessoas.
Morreram.
— Tinha
alguém que a gente conhecia?
— A gente
conhecia todo mundo!
Ela deu
de ombros.
— que
droga pra eles, acho.
Ela
começou a revirar sua bolsa pregueada que era cópia de alguma marca e tirou de
lá um
gloss.
Aplicou-o e apertou os lábios para espalhá-lo.
— Qual o
seu problema?
— Qual o SEU
problema? – rebateu ela. – Quer dizer, além das óbvias imperfeições
superficiais.
Esfreguei
os olhos e depois reparei em minhas mãos. Havia sangue e gosma preta embaixo
das
minhas
unhas. Eu sabia que tinha sido real. Passei a noite inteira esfregando a
carnificina do
linóleo.
Não conseguia entender por que ela estava fingindo que nada havia acontecido.
— Merda.
Sem
perceber, falei em voz alta.
— Não
fale sozinha – repreendeu Anahí. – É outra daquelas manias pavorosas de Dulce ,
e
faz a
gente parecer duas babacas.
Eu me
virei para ela e ergui as unhas, querendo fazê-la enxergar o sangue seco. Antes
de ter a
chance de
implorar que ela agisse como um ser humano, ela torceu o nariz.
— Ecaaa!
Você precisa de uma manicure urgente! Se eu fosse você, arrumava alguém pra dar
um jeito
nessa situação.
Bem nessa
hora, o Sr. Wroblewski entrou na sala, farfalhando até a frente. Ele tinha uma
mão
robótica
que era simplesmente horripilante. Ninguém sabia direito o que havia acontecido
com sua
mão verdadeira.
— Tenho
certeza de que vocês que estão aqui hoje já ouviram as noticias sobre o
incêndio
devastador
– começou ele. – Hoje é um dia negro, muito negro para Devil’s Kettle, e
acreditem,
eu já passei por coisas pesadas. – Ele ergueu um pouco mão de garra no ar.
Todos
nós a
olhamos.
Ouviu-se
um soluço nos fundos da sala. Ao me virar, vi Afonso chorando como um
bebê,
ensopando de lágrimas seu caderno que na capa trazia uma modelo de biquíni. Afonso,
o
maior
brutamontes do futebol americano de Kettle hogh, não era nada privilegiado no
quesito
cérebro.
Eu o conhecia, mas só um pouco. Ele era vizinho de Ucker.
Anahí
bufou, tentando conter a risada. Olhei para ela.
— A
direção da escola decidiu que hoje será um dia improvisado de apoio e
consideração.
Perdemos
oito alunos inestimáveis, incluindo Ahmet, da Índia; além de vários pais e de
nossa
amada
professora de espanhol, Señorita O’Halloran.
Ele
engasgou um pouco no final. Pisquei para afastar algumas lágrimas, por Ahmet.—
Fala sério! – disse Anahí. – O’Halloran foi pro saco?
— Shhhh!
– interrompi-a.
O Sr.
Wroblewski se recobrou o suficiente para prosseguir:
— Essa
tragédia é obviamente inevitável. Mais do que nunca, precisamos nos unir e
apoiar
uns ao
outros. Deixem de lado suas preocupações adolescentes sobre quem é um cara
descolado
ou quem é uma galinha. Precisamos nos unir e funcionar com uma grande unidade.
Ao meu
lado, Anahí começou a dar risadinhas e tentou disfarçar com um acesso de tosse.
Realmente
essa era uma escolha infeliz de termos, Sr. W. Alguns minutos se passaram e em
silêncio,
enquanto ele tirava um lenço de papel do bolso com a garra e o passava sobre os
olhos. De
repente ele gritou:
— Não
podemos deixar esse maldito incêndio nos derrotar!
Esperei
pelo que sabia que estava a caminho.
— Já
derrotou! – gritou Anahí.
— Que
Deus os abençoe, filhos.
O
professor sorriu e sentou-se, soluçando.
Afonso
agora chorava descontroladamante. Um nerd minúsculo se inclinou e o abraçou.
Provavelmente
aquela era a única vez que eu veria aquilo acontecer.
— Ah,
olhe só, eles se uniram na dor – comentou aquela ao meu lado com o coração de
pedra.
O sinal
tocou e eu saí correndo dali. Precisava conversar com alguém normal, que fosse
capaz
de me
dizer que eu não tinha enlouquecido. Corri pelo corredor e virei a esquina até
o
armário
de Ucker. Graças a Deus, ele estava ali, enfiando umas baquetas na mochila.
Ele olhou
para cima quando eu parei, quase a tempo de esbarrar nele.
— Hoje
não vai ter ensaio da banda – avisou ele.
— Não vai
ter nada.
— É
surreal, né? – Ele balançou a cabeça. – Quer dizer, quando uma única pessoa
morre em
Devil’s
Kettle, é como se o tempo parasse.
Eu me
apoiei nele.
— Eu me
sinto culpada pelo simples fato de estar respirando – disse, com um suspiro.
— Falou
tudo.
Ucker fechou o armário e pôs a mochila por cima do
ombro. Era bom ter alguém que me
entendia.
Mas eu precisava que ele entendesse tudo.
Caminhei
com ele pelo corredor.
— Ucker,
preciso contar uma coisa meio estranha. É a Anahí.
— O quê?
Eu
interrompi e o puxei para a parede, para poder falar mais baixo.
— Sabe a
noite passada, quando a gente tava falando ao telefone e alguém chegar na minha
casa? Era
a Anahí. Mas ela não disse nada. Só ficou ali parada, sorrindo, um sorriso meio
maligno.
Dava a impressão de que ela tinha sido espancada ou algo assim. Estava toda
coberta
de
sangue! Aí ela vomitou a gosma mais nojenta do mundo, algo como uma mistura de
bicho
morto de
estrada e agulhas de costura. – Estremeci um pouco. Só de me lembrar daquele
cheiro, a
bile subiu pela minha garganta.
— Eca.
Como aquelas almôndegas de porco-espinho que minha mãe faz? Com arroz meio pra
fora?
— É!
Quase tão ruim quanto isso!
Sério,
você nunca vai saber o que é ter vontade de vomitar até ser obrigado a comer as
almôndegas
da mãe dele.
—
Provavelmente foi porque ela inalou muita fumaça – arriscou Ucker, tentando ser
compreensivo.
— Não –
balancei a cabeça. – Era algo do mal.
Eu sabia
que era. O fedor daquela coisa preta era pior do que gambá, ou cocô, ou
qualquer
coisa
natural. Era realmente algo mais podre.
— Acho
melhor você ir conversar com p psicólogo da escola, Dulce. Não to dizendo isso
pra
ser um
mala, mas tô meio preocupado.
Ele deu
um tapinha no meu braço.
— Ucker,
eu não invento histórias e não tô maluca.
— Não
disse que você ta maluca, mas tá todo mundo meio abalado com o que aconteceu.
Não
tem
problema nenhum se sentir...
— Sem
chão?
Olhei
para cima e vi Andy andando na minha direção. Andy era um cara bacana, mas
era
adepto do lance gótico, com lápis de olho, esmalte preto e um monte de
braceletes cheios
de
tachas. Ele tinha até um piercing no lábio inferior, mas sempre desconfiei que
era falso.
Quer
dizer, aqui é Devil’s Kettle, a mãe dele iria matá-lo.
— Oi, Dulce
– cumprimentou.
— Ah, oi,
Andy.
Senti Ucker
se aproximar de mim possessivamente.
Andy se
inclinou e sussurrou de forma teatral:
— Ouvi
dizer que você tava lá ontem à noite. Nas trincheiras cruéis.
Certo. O
gótico queria saber das mortes e tudo o mais. Bom, eu não ia entrar nesse jogo.
— Ah, é –
respondi.
Ele
esperou, mas eu simplesmente fiquei encarando-o.
— Bom,
que bom que você não morreu. Sério.
Ah, isso
foi fofo! Ele estava mesmo sendo sincero.
— Valeu!
Enquanto
ele se afastava, Ucker olhou para ele
desconfiado.
— E desde
quando você é amiga de Andy Gray? Achei que Andy Gray só falasse com as
Garotas
Mortas.
Não
consegui evitar olhar ara as garotas no corredor, todas vestidas de preto, com
tachas,
couro e o
pacote completo. Os góticos formavam seu próprio clube ou algo do gênero. Só
que
um dia as
garotas piraram com alguma coisa e todas viraram feministas, declarando que
agora
eram as
Garotas Mortas. Fizeram leituras de poesia na lanchonete da escola e uma delas
até
tocou
acordeão para acompanhar a leitura. Acho que se chamava Trish.
— É, sou
– disse eu. – a gente ta na mesma aula de redação de não ficção. Ele escreve
muito
bem. Você
sabe, ele é todo dark, sensível e tal.
— Ah.
Entendi. Eu também sou, mesmo que não fique aí fazendo tipo desse jeito óbvio.
Sorri
para Ucker e ajeitei seu cabelo, colocando-o atrás das orelhas. Era tão
bonitinho que ele sentisse ciúmes.
— Me leva
em casa?
— Nem
precisa pedir.
Ele pôs o
braço ao meu redor e andamos até a saída.
Estava
absurdamente quente para o mês de fevereiro em Devil’s Kettle, mas era o
aquecimento
global,
certo? A neve já tinha derretido, deixando à mostra as folhas que ninguém
limpara do
chão no
outono passado. Enquanto andávamos pela cidade, fazendo estalar as folhas
molhadas,
Ucker procurava me fazer sentir melhor.
— O
negócio é que eu não tô confundindo nada! Nem de leve. Eu me lembro de tudo em
detalhes
de altíssima precisão. Da banda, do incêndio, tudo. Principalmente do que rolou
depois.
— Esse
“depois” é a parte que eu não tô entendendo.
— Por
favor, preciso que alguém acredite em mim. Anahí tava... destruída. Morrendo na
minha
porta de entrada, Ucker . Eu vi. Usei meu treinamento de RCP pra checar o pulso
dela. E
eu senti
que ela estava morrendo – por dentro, quero dizer. Eu a conheço há tanto tempo
que
é como se
às vezes eu fosse capaz de sentir o que ela sente. Como E.T. e Elliott.
—
Acredito em você – disse ele e apertou minha mão. Era o que eu precisava ouvir.
— Valeu,
Ucker .
— Nossa –
falou ele, olhando para baixo –, sua mão ta quente pra caramba!
Olhei
para a minha mão. Eu realmente me sentia cansada, talvez meio acalorada. Ficar
de pé a
noite
toda não tinha me feito bem.
— Hã...
acho que talvez eu esteja ficando doente.
— Você
vai ficar bem – disse Ucker . Ele me deu um abraço grande e eu o apertei de
volta com
toda a
força. Era bom ouvir alguém dizer isso.
Mesmo que
fosse uma mentira total e completa.
Andy Gray.../isso é um link,caso essa bosta aparecer um negocio escrito "not ablout" é só digitar "Andy Sixx" no google images
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://cdn.buzznet.com/assets/users16/geesluver/default/andy-sixx--large-msg-125219032694.jpg&imgrefurl=http://geesluver.buzznet.com/user/photos/andy-sixx/%3Fid%3D57026001%26p%3D5&usg=__xYg46ctmtSIZv4xVErNxOR026yc=&h=638&w=500&sz=45&hl=pt-BR&start=85&tbnid=5aTBjXAbk5zGrM:&tbnh=166&tbnw=144&prev=/images%3Fq%3DAndy%2BSixx%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26client%3Dfirefox-a%26sa%3DN%26rls%3Dorg.mozilla:pt-BR:official%26biw%3D1024%26bih%3D495%26tbs%3Disch:10%2C2603&um=1&itbs=1&iact=hc&vpx=141&vpy=124&dur=1969&hovh=254&hovw=199&tx=147&ty=196&ei=qyprTNqCGaTtnQe4n_nIAg&oei=byprTJPAFcH78Aa11PjPAQ&esq=8&page=8&ndsp=10&ved=1t:429,r:0,s:85&biw=1024&bih=495
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Esta é a unica Fanfic escrita por este autor(a).
Prévia do próximo capítulo
Capítulo 5... Quando cheguei em casa, soltei Spector da sua jaula e o levei até a cozinha. Nem dava para perceber que alguém havia vomitado meleca preta em tudo ontem à noite. — Quer um sanduíche de mortadela frita, Spector? Ele simplesmente correu pelo chão para perseguir uma bola. Acho que n&atil ...
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Comentários do Capítulo:
Comentários da Fanfic 2
Para comentar, você deve estar logado no site.
-
rafaelavala Postado em 18/08/2010 - 20:47:56
oi eu sou a autora de mortos em minha casa... me coloca no seu web
eu sou a nicole winchester
a mesma que ta na minha web viu a mesma foto -
paulavondysiempre Postado em 02/08/2010 - 23:35:52
Ameiiiiiiiii o filme*-*
Quero ver a sua vesão!!!!!!!
D++++
Poxta mais