Fanfic: Enséñame

Anahí: Argh! Dá pra me deixa falar? – falou um
pouco estressada – Eu sei que não somos amigas nem nada, mas não gostei de te
ver chorando... E bom, eu sei que não vai querer desabafar logo comigo, a
pessoa que você julga sem saber sobre o que eu passei e nem nada. – eu franzi o
cenho e fitei-a.

Dulce: Você acha que a minha vida foi muito fácil,
não acha? – ela fitou-me – Você acha que eu nunca sofri na vida. Que eu nunca
passei maus bocados... Cresce Anahí. Eu acho que o único sofrimento que você
teve foi uma unha quebrada e uma blusinha manchada... Estou enganada? – fiz
cara de deboche, e ela tinha uma expressão séria.

Anahí – ela suspirou pesado e olhou em meus olhos,
eu fiz o mesmo –: Quer saber Dulce? Eu acho que você não me conhece o
suficiente pra dizer alguma coisa de mim. Ninguém – enfatizou o ninguém –, me
conhece o suficiente pra falar alguma coisa de mim. Você já sabe quantos amigos
eu tive? – eu ri irônica.

Dulce: Milhares! – falei revirando os olhos, ainda
irônica.

Anahí: Não me interrompa. – falou ainda com a
expressão séria, eu parei com a brincadeira e voltei a olhá-la – Nenhum. –
fiquei espantada com sua declaração – Nunca tive nenhum amigo verdadeiro, a não
ser o Christian e o Christopher. Mas eles não são garotas. Eles não vão ao
shopping comigo. Eu não me sinto a vontade sobre falar com eles muitas coisas.
Eu não posso falar como foi o meu dia pra eles e perguntar como foi o deles,
eles acham isso babaquice. Eu não posso contar sobre meu sonho na noite
anterior com meu príncipe encantado. E sim, eu acredito no meu príncipe
encantado. No príncipe que um dia irá me levar para bem longe, e construiremos
uma família nesse lugar. Eu acredito em fadas e duendes. E principalmente, eu
acredito que os sonhos nunca morrem. E aquela menininha que sonhava com o seu
casamento na hora de dormir, ainda não cresceu. Ela ainda permanece aqui –
apontou para o peito –. E aquela menina que chorava dias e dias sentindo a
falta de um pai, também permanece aqui. – algumas lágrimas rolavam em seu rosto
– Sentindo falta de receber broncas dele, sentindo falta de dar-lhe um abraço
no dia dos pais. Sonhando que um dia ele ligaria pra mim, para perguntar como
eu estava. Mas ele abandonou minha mãe quando ela estava grávida de mim.
Acredite, a minha infância não foi uma das melhores. Sem amigas verdadeiras pra
desabafar o sofrimento sentido. Eu sofri Dulce. Aquela blusa que a Maite
derramou o suco, fora um dos presentes do papai para a mamãe, quando eles eram
namorados. – choquei-me, e limpei meus olhos marejados – Era a única recordação
que eu tinha dele. A única. – suspirou e finalmente deixou as lágrimas caírem.

Dulce: Desculpe-me, eu...

Anahí: Desculpas pelo quê? Por ter meu julgado mal,
sem antes me conhecer? – eu baixei a cabeça, afirmando – Todos fazem isso. Seu
amiguinho Alfonso também faz a mesma coisa. – ficamos em um minuto de silêncio,
até que ela quebra aquele clima – eu contei sobre mim. Fale sobre você.

Dulce: Tem certeza que quer ouvir? – perguntei sem
olhá-la nos olhos.

Anahí: Fale logo María. – suspirei fechando os
olhos, eu nunca pensei que me abriria para a pessoa que até dois segundos
atrás, eu odiava.

Dulce: Não pense que minha vida foi fácil. E nem
pense que você é a única que sofre no mundo. Minha mãe me abandonou em um
orfanato quando eu era recém nascida. Aquilo não era um orfanato. Não podia se
considerar um. Eu cresci vendo crianças serem torturadas. Eu cresci vendo-as
serem maltratadas, agredidas fisicamente e emocionalmente. Palavras baixas,
chingamentos... Era isso o que elas ouviam todo dia. Eu cresci vendo-as terem
que limpar o chão daquele lugar com a própria blusa encardida. – algumas lágrimas
caíram ao me lembrar da cena – E tudo pra quê? Pra poder ganhar um pedacinho de
comida, nem que a mesma já tivesse estragado há meses. Eu cresci em uma sala,
como se fosse uma solitária. E sinceramente, eu preferiria viver a maior parte
do tempo lá, a ter que ver todo dia crianças e mais crianças caídas no chão,
pedindo ajuda, e eu lá... Sem poder fazer nada... Nada! Eu cresci sonhando que
um dia meus pais iriam se arrepender e vir me buscar. Que seríamos uma família
feliz. Que EU poderia ser feliz, finalmente. – enfatizei o “eu” – Eu cresci uma
vida que eu não desejaria a ninguém. Eu cresci tendo que ouvir chingamentos, e
aceitá-los. Eu cresci tendo que passar fome, e não reclamar de ter que
trabalhar dia após dia. Eu cresci tendo que aceitar as surras que levava. – ela
olhou-me espantada, e eu continuei – Sim, eu apanhava... E muito! Meu rosto
vivia inchado e roxo. – fechei os olhos por um momento e tornei a abri-los – Eu
tive que crescer vendo as donas daquele lugar vendendo os corpos de crianças. –
não consegui agüentar, e desabei no choro. E por mais inacreditável que seja,
ela me abraçou ainda espantada. Eu mesmo receosa, correspondi o abraço. Limpei
as lágrimas, saí do abraço e continuei – E quando eu finalmente decidi tomar
uma atitude, eu descubro que meu corpo foi vendido. Como se eu fosse uma
mercadoria. – ela olhou-me de boca aberta – Não, eu nunca fiz nada com aquele
homem. – ela fechou a boca, parecendo um pouco mais aliviada – E tudo graças ao
Poncho, ele havia chegado na hora e me salvado. Ninguém sabe tudo o que eu já
passei. Ninguém sabia além do Poncho. – enfatizei o “sabia” – Só você e
ele sabem tudo o que eu passei. E agora, bom, agora eu tenho que conviver com o
meu passado. Tenho que conviver com as cenas de tortura repetindo-se toda vez
que eu durmo. Eu não consigo esquecê-lo.

Anahí: Para esquecê-lo você tem que querer. Você
quer? – perguntou limpando as lágrimas do seu rosto, e logo depois me fitando.

Dulce: É tudo o que eu mais quero nessa vida.

Anahí: Comece outra.

Dulce: Como? – perguntei fazendo cara de “?”.

Anahí: Comece outra vida. Esqueça de tudo o que
viveu. – eu já ia falar alguma coisa, mas ela foi mais rápida – Eu sei que não é
fácil! Mas... quem se importa? É a sua vida! Aproveite-a o máximo que der. Não
se prenda no passado, e deixe o futuro pra lá. O presente é o que importa!
Viva-o sem medo ou restrições. Aproveita enquanto ainda é jovem, por que eu sei
que quando você estiver velha você vai se arrepender de não ter aproveitado sua
vida. – eu ri.

Dulce: Bom, acho que depois dessas palavras, eu
quero sim aproveitar minha vida. – levantei-me junto com ela das cadeiras em
que estávamos sentadas.

Anahí: Vem! – e me puxou pela mão, eu ri.

Dulce: Ô! Sabia que eu tenho pernas?

Anahí: Problema seu! Agora vem! – puxou-me de novo,
o que me fez rir.