Fanfic: After All - AyA [Finalizada]

            — Agora é a hora que eu saio? – perguntei.

Estendi a mão em automático. Por um segundo achei que estava sozinha, que minha mão ficaria suspensa, mas como o fogo que consome a água senti a mão firme arrastar-se lentamente sobre a minha. Era macia, dedos longos e pegada firme. Em toda minha vida lembraria daquele toque, era impossível desconhecer.

            — Oh como você...?

            — Shh, continue fingindo que eu não existo. – sussurrou em meu ouvido – Por agora sem perguntas, só aproveite!

A voz cálida passou por meu corpo com intensidade. Achei que estivesse sonhando, estaria ele ali? Pensei em argumentar, mas me sentia tanto em um conto de fadas que minha voz pareceu prender por conta própria e se proteger-se do resto. Assenti com a cabeça e deixei-o conduzir-me. Fechou a porta do carro e me aninhou em seus braços deixando seu tórax rígido delinear minhas costas. Caminhamos devagar, eu ainda, com a faixa sobre os olhos sentindo os braços fortes aquecerem-me. Meus passos eram desnorteados, o chão era brando fazendo com que meus saltos afundassem, não fosse o apoio de Alfonso teria caído. Não via, mais confiava no homem que me tinha em seus braços. Parecia inalcançável tê-lo ali. Como ele voltara tão rápido da Argentina? Era tão leve, tão bom saber que a surpresa tinha válido a pena. Paramos. Poncho se aconchegou mais em meu corpo segurando minhas mãos entre as suas sobre meu ventre. Ficamos assim sentindo-se, matando a saudade que invadia nossos corpos. Podia senti-lo fungar em meu pescoço enquanto meu cabelo esmagava-se entre nos.

            — Você pode ver agora! – sussurrou ele elevando as mãos até a faixa.

Lentamente ele desamarrou o pequeno nó e tão vagarosamente abaixou o pano. Meus olhos abriram-se acostumando com as luzes. Pisquei até recuperar a visão e me dei conta da magia que nos rodeava. O céu estava escuro e as estrelas brilhavam envoltas da lua, um caminho de pedras era feito através das pilastras de tochas com o fogo esvoaçante no vento leve. Ao fundo do caminho podia-se ver uma casa, não uma casa, uma cabana. Não era tão grande, moderna com vidros em toda sua extensão e estava iluminada por luzes no alpendre. Duas cadeiras confortáveis ficavam na varanda dando um ar aconchegante e misterioso a casa, intuía sentar-se ali e esquecer da vida. Era simplesmente perfeito! Virei-me pra Poncho. Seus olhos bateram-se com os meus e percebi um brilho profundo que acompanhava seu sorriso torto.

            — Preparou tudo? – perguntei acanhada segurando o sorriso.

            — Queria estar com você... Nessa nova etapa! – disse baixo ternamente.

Sua voz aveludada era como musica aos meus ouvidos. Era tão suave aquele encontro, tão inesperado que ainda lutava pra saber se era real.

            — Comprou o CD? Ouvi-o? – indaguei-o ansiosa.

Ele sorriu rodeando minha cintura com os braços, trazendo-me para si.

            — Ouvi tanto que me sinto hipnotizado por seus olhos, seus intensos olhos, seus divinos olhos

seus lindos olhos... – sorriu ao cantar a musica.

Gargalhei com vontade sentindo sua voz divertida. Ele o tinha escutado, sentia-me orgulhosa por aquilo.

            — Não estava na Argentina?

            — Estava, mas adiantei o vôo e cheguei ontem pela manhã...

            — Poncho!

Ele riu.

            — Sua mãe, Dulce, Neni, os meninos... Todos me deram uma forcinha! – sorriu beijando-me a bochecha – Conseqüentemente eles sabem sobre nós!

            — Sabem o que? – brinquei com a gola de sua camisa.

Os primeiros botões estavam abertos, mostrando o peito cabeludo e rígido.

            — Para dona Marichelo é um romance direto ao altar... – sorriu – Ela ficou tão entusiasmada!

Sorri contíguo imaginando mamãe abraçando-o como uma criança feliz por aquela novidade. Dulce deve ter aberto uma enorme boca e os meninos deram de ombros como se quisessem dizer que aquilo mais cedo ou mais tarde era esperado.

            — Não sei o que dizer... – baixei os olhos.

No fundo estava emocionada com seu esforço, profundamente queria matar aquela saudade que doía-me o peito.

            — Diga que está feliz, que quer estar comigo e que vamos aproveitar a noite fazendo amor! – disse ele subindo suas mãos e alisando meus braços.

Mirei-o e o sorriso foi inevitável. Oh como queria fazer-lhe amor, senti-lo colado a mim sem que nada ao redor existisse.

            — Obrigada por isso... – disse analisando seus olhos.

Em vez de falar ele sorriu e aquilo bastava pra mim. Em um olhar maroto ele abaixou-se e me pegou em seus braços. Agarrei-o pelo pescoço com uma risada enquanto seguíamos a casa.

            — Você trocou de perfume! – funguei seu pescoço aninhando-me em seus braços.

            — Seria fácil me descobrir... – riu-se.

            — Por mais que gostasse do antigo esse me agrada também... – sorri beijando lentamente a lateral de seu pescoço.

Senti sua pele arrepiar-se diante do toque. Seus braços apertaram-me mais junto ao seu corpo. Morria por estar com ele novamente, mas o simples fato de estarmos ali valia por tudo.

            — Senti saudades! – sussurrou ele.

            — Alguma vez nos últimos meses pensou que ia confessar isso? – joguei.

Ele suspirou com uma risada.

            — Provocadora! – rebateu ele subindo as escadas que davam acesso a casa.

Pôs-me no chão, agarrei-me aos seus ombros com um olhar verdadeiro. Sentia-me disposta a abrir-me como ele o fez, mas antes que pudesse dizê-lo, Poncho agarrou-me, juntou seus lábios aos meus calidamente. Movi meus lábios sobre a maciez úmida de sua boca. Seu sabor era tão convidativo, sua língua arrastando-se com a minha intuía-me sempre mais, provocava todo o meu corpo. As mãos grandes e carinhosas espalmaram-se na lateral dos quadris movendo-se com ânsia, agarrei-lhe os cabelos e provoquei mais daquilo. A cada movimento meu corpo arrepiava-se, a sensação, a excitação crescia. Soltamos-nos subitamente ofegantes, sem ar nos pulmões. Como podia a paixão crescer a cada segundo? Nos olhos, os lábios abertos e juntos suspirando tentando recuperar o ar. Fechei os olhos e deslizei as mãos até seu rosto.

            — Senti saudades disso também!

Rimos, trocando a cumplicidade que a tempos não experimentávamos.

— Vamos jantar antes que eu faça uma besteira!

Assenti deixando que ele me conduzisse pra dentro. A cabana ou a mini casa era mais aconchegante por dentro do que eu podia imaginar. Uma pequena sala com sofás confortáveis recebia-nos, ao fundo uma mesa acoplada a cozinha e uma escada ao segundo andar com uma quarto aberto.

            — Como escondeu esse lugar há tanto tempo? – perguntei admirando o lugar.

            — Não escondi... – sorriu – Foi você que o fez! – arqueei uma sobrancelha observando-o – Quando amanhecer você vai se dar conta de onde está!

— Não sei se me intrigo mais com o fato de onde estamos ou de passar a noite aqui!

Aproximando-se de mim me deu um beijo rápido, agarrando minha cintura e girando-nos.

            — Vou pegar suas coisas no carro, não demoro!

Assenti devagar observando-o se afastar. Com ele foi meu sorriso, minha felicidade e todo o amor que eu finalmente estava disposta a oferecer.