Fanfics Brasil - O Grande Encontro Quimera

Fanfic: Quimera


Capítulo: O Grande Encontro

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CENA 01. SERRA DOS CAVALOS. AMANHECER. EXTERIOR. DIA.


Um belo STOCK-SHOT do amanhecer.


CENA 02. ESTRADA DE FERRO. TREM. EXTERIOR. DIA.


Um trem corre pela estrada de ferro que corta a região serrana. Ênfase para o barulho nos trilhos e o apito característico das locomotivas do século XIX.


CENA 03. TREM. VAGÃO DE PASSAGEIROS. INTERIOR. DIA.


Assírio, da janela, aprecia a bela paisagem serrana, perdido em seus pensamentos. Depois volta sua atenção para o jornal que traz nas mãos.


        ATENÇÃO: Ênfase no nome e na manchete do jornal.


                              NOME DO JORNAL: GAZETA DE NOTÍCIAS.


                              MANCHETE: "ACABA A GUERRA DO PARAGUAI".


CENA 04. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


Um STOCK-SHOT da Igreja durante o dia.


CENA 05. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. INTERIOR. DIA.


Um coral de crianças entoa um cântico em latim acompanhado por um piano tocado por Alcmena, enquanto Padre Ovídio dá a comunhão aos fiéis.


CENA 06. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


O sino da Igreja badala enquanto os fiéis, pouco a pouco, vão saindo da igreja. Muitos se cumprimentam e formam grupos de conversação, enquanto outros rumam para seus afazeres.


CENA 07. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


Álvaro, Tobias, Manoel e Tenório conversam na porta da Igreja.


ÁLVARO: Enfim, deu-se com os burros n'água o grande sonho do ditador paraguaio  Francisco  Solano  López  de  refazer o Vice-Reinado do Rio da Prata.


MANOEL: Sempre soube que as corvetas e  paquetes  do  Paraguai não seriam páreo para o Corpo Expedicionário Brasileiro.


TOBIAS: Além do mais, a Argentina e o Uruguai praticamente não possuem marinha de guerra. Nunca tive dúvidas acerca da derrota do exército de López, principalmente após as


vitórias de Itororó, Avaí, Villeta, Lomas Valentinas e  nossa entrada triunfal em Assunção ano passado.


Lorena passa por eles, cumprimentando-os discretamente. Os rapazes retribuem o cumprimento.


TENÓRIO: Mesmo sendo o fim da guerra o assunto do dia, sinto informar-lhes que neste instante inicia-se uma nova guerra... dentro de mim.


MANOEL: Lorena de Castro, a musa dos poetas. Como resistir a este ídolo de todos os noivos em disponibilidade  de   Serra dos Cavalos?


Risos.


CENA 08. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


Lorena aproxima-se de Felipe, Ercília,Guilherme e Fabíola.


GUILHERME: Contam que, reconhecido  e  perseguido, o Marechal Solano López negou-se a render as armas e foi cair já sem forças      numa das margens do Arroio Aquidabanigüi atingido por um lançaço mortal.


FABÍOLA: Pobre homem...


FELIPE: Não diga tolices. Se nossas forças imperiais não tivessem destruído os focos de rebeldia que ameaçavam a unidade nacional, esse "pobre homem" teria se apoderado do Sul do Mato Grosso e quiçá parte do Rio Grande do Sul.


LORENA: A guerra é, de fato, uma temeridade.


FELIPE: Uma temeridade necessária. A Marinha foi o elo que manteve o Brasil unido, foi ela a sua armadura defensiva e a plataforma de onde o Império pôde desferir seus ataques de represália.


ERCÍLIA: Impressionou-me o sermão de Padre Ovídio. Ele soube expressar em suas belas palavras o sentimento de cada um de nós, brasileiros, diante desta magnífica vitória contra o inimigo.


Eugênio, Mônina e Didá passam por eles, cumprimentando-os. Somente Ercília, Guilherme, Fabíola e Lorena respondem ao cumprimento.


FELIPE: Não sei o que pretende Padre Ovídio permitindo a entrada dessa gente em nossa igreja.


LORENA: São negros livres, meu pai.


FELIPE: Livres ou cativos, são negros.


CENA 09. IGREJA DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


Padre Ovídio conversa com Dr. Heitor e Adelaide.


ADELAIDE: Não poderíamos deixar de dar-lhe nossas congratulações pela missa, padre. Foi como um bálsamo em nossos corações depois de tantas horas de apreensão desde o início daquela maldita guerra.


OVÍDIO: Não fiz mais do que minha obrigação como sacerdote que sou, minha filha. Agora precisamos rezar. Rezar muito pelas almas que perdemos em combate e por todos que ainda padecem vitimados pelos horrores desta guerra.


HEITOR: Os jornais dizem que o Brasil sofreu mais de 30 mil baixas, entre mortos e feridos.


ADELAIDE: Santo Deus!


OVÍDIO: E que país escapa ileso de uma guerra? Mas deixemos de lado as tristezas, pois este dia, primeiro de março de 1870, ficará marcado para sempre em nossa história. E viva o Brasil!


CENA 10. ESTAÇÃO DE TREM DE SERRA DOS CAVALOS. INTERIOR. DIA.


O trem chega na estação. Entre os passageiros que descem está Assírio. Ele fica algum tempo observando o local, buscando lembranças. Assírio vê Eugênio ao longe e caminha até ele, ficando frente a frente com o amigo, que se assusta ao reconhecê-lo.


ASSÍRIO: Será que mudei tanto em dez anos?


EUGÊNIO: Assírio!


ASSÍRIO: Não vais me dar um abraço?


Eugênio e Assírio se abraçam emocionados demoradamente.


EUGÊNIO: Estás um homem feito.


ASSÍRIO: E tu não mudaste em nada.


EUGÊNIO: Nada posso fazer se o tempo é mais brando com os de minha raça.


ASSÍRIO: Com os de nossa raça.


EUGÊNIO: E então, fizeste uma boa viagem?


ASSÍRIO: Cansativa, mas uma boa viagem. Agora só  penso em chegar em casa e rever a todos, principalmente meu pai.


CENA 11. RUAS DE SERRA DOS CAVALOS. EXTERIOR. DIA.


Um côche guiado pelo cocheiro Libâneo atravessa as ruas de Serra dos Cavalos levando Assírio e Eugênio.


CENA 12. CÔCHE. INTERIOR. DIA.


Assírio e Eugênio conversam.


ASSÍRIO: Estar muito tempo longe de casa é estranho. Percebo que pouco mudou em Serra dos Cavalos. Mas tudo me parece tão diferente.


EUGÊNIO: Os teus olhos é que são outros.  Mesmo que não te apercebas esses dez anos na Europa te modificaram muito.


CENA 13. PALACETE STRAUSS. EXTERIOR. DIA.


O côche pára diante do palacete. Libâneo abre a porta do côche para que Eugênio e Assírio desçam. Assírio fica um bom tempo admirando a imponente fachada do palacete a procura de lembranças.


         LIBÂNEO: Seja bem vindo ao palacete, sinhozinho.


ASSÍRIO: Obrigado, Libâneo.


EUGÊNIO: Cuide da bagagem do Sr. Assírio, Libâneo.


LIBÂNEO: Sim senhor.


Eugênio abre o portão e Assírio entra no jardim que cerca o palacete. Eugênio o segue enquanto Libâneo começa a retirar a bagagem do côche.


CENA 14. PALACETE STRAUSS. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.


Assírio diante de Firmina, Teodósio, Olegária e Calisto. Eugênio assiste ao reencontro.


ASSÍRIO: Firmina! (BEIJANDO-LHE AS MÃOS) Continuas elegante e imponente.


OLEGÁRIA: (BAIXO) Continua é bêsta.


FIRMINA: Pelo que vejo, os ares austríacos fizeram-lhe muito bem.


TEODÓSIO: Tornou-se, de fato, um "gentleman".


Olegária faz pouco imitando a afetação de Teodósio, que abraça Assírio.


ASSÍRIO: Os europeus precisariam de umas aulas com o mordomo mais refinado deste Império.


Teodósio ri, cheio de si. Assírio abre os braços para Olegária.


OLEGÁRIA: Meu menino! Meu menino!


ASSÍRIO: (ABRAÇANDO-A) Olegária...  Olegária... Quantas saudades dos seus quitutes.


OLEGÁRIA: (CHORANDO) Deixe de invenção.  Aposto que já se esqueceu das comida dessa nega véia e anda lambendo os beiço com aqueles caldinho sem sustança que o povo come lá nas Oropa.


TEODÓSIO: Mas que linguajar, meu Deus!


OLEGÁRIA: Tá magro que é só pele e osso. Mas a nega aqui vai dá um jeito nisso. Uma semana comendo do meu cozido, do meu pirão de carne seca e do meu mingau de mandioca, e vamo vê se o menino num fica rolicinho.


ASSÍRIO: Não me atente, Olegária. Sabe que não resisto ao teu tempêro.


Assírio futuca Olegária, que solta uma gargalhada estridente.


FIRMINA: Não sei para que tanto escândalo.


TEODÓSIA: Concordo perfeitamente.


OLEGÁRIA: É que eu num sô fresca que nem ocês.


EUGÊNIO: Tenham calma. Assírio se ausenta desta casa por dez anos e é desta forma que o recepcionam?


ASSÍRIO: Pelo que vejo, os três continuam vivendo entre rusgas.


Olegária faz uma careta para Firmina e Teodósio, que se horrorizam com aquilo.


ASSÍRIO: E tu, Calisto, continuas zelando como nenhum outro dos jardins do palacete?


CALISTO: Com muito gosto. E já contei pra todas as flores e pra todas as plantinhas que o sinhozinho já vortou pra casa.


ASSÍRIO: Ah, meu bom velhinho...


Assírio abraça Calisto, emocionado.


CENA 15. PALACETE STRAUSS. GABINETE DE SEBASTIÃO. INTERIOR. DIA.


Assírio entra no gabinete e, muito emocionado, observa Sebastião que, sem dar-se conta da presença do filho e sentado numa poltrona, lê atenciosamente um livro.


ASSÍRIO: Pai...


Sebastião levanta os olhos e vê o filho. Ficam algum tempo um sorrindo para o outro, extasiados com a emoção do reencontro. Sebastião abre os braços na direção do filho, que corre para o colo do pai como um menino. Sebastião, chorando, beija o rosto do filho. Assírio, com os olhos cheios de lágrimas, beija as mãos do pai.


ASSÍRIO: A bênção, meu pai.


SEBASTIÃO: Deus te abençoe, meu filho.


E ficam ali, abraçados, numa felicidade que parece não ter medida ou fim.


CENA 16. PALACETE STRAUSS. COZINHA. INTERIOR. DIA.


Olegária prepara algo no fogão. Francisca e Lindaura limpam a prataria sentadas a mesa.


OLEGÁRIA: O meu menino vortou uma beleza de home, num é?


FRANCISCA: É um príncipe. Eu e Lindaura  vimo ele  chegando do alto da escadaria.


LINDAURA: Com um home assim, eu me casava inté de zoio fechado.


OLEGÁRIA: Te assunta, nigrinha sem graça. Sinhozinho Assírio não é pra corqué uma não.


FRANCISCA: Não sei por que. Ele é filho de um nego que nem nóis.


LINDAURA: Num parece, mais é.


OLEGÁRIA: É fio de nego, mais de nego rico. E a mãe era mais branca que nuvem em dia de sol. Aquele ali foi criado a pão de ló, estudou nas Oropa e um dia vai sê o dono de tudo o que o véio Sebastião tem. Assírio num nasceu pra sê home de umas nigrinha feito ocês não. O destino dele é se casar com uma rainha.


Francisca e Lindaura fazem caretas.


CENA 17. PALACETE STRAUSS. GABINETE DE SEBASTIÃO. INTERIOR. DIA.


Sebastião acende um charuto, enquanto Assírio mexe em alguns livros.


SEBASTIÃO: Voltaste da Áustria exatamente como sempre desejei. Letrado, esclarecido e maduro.


ASSÍRIO: Além de exímio pianista e conhecedor de alguns idiomas.


Assírio olha demoradamente para o retrato de Paulina sobre a lareira.


SEBASTIÃO: Se tua mãe estivesse viva para ver isso. (...) Prometi a Paulina, em seu leito de morte, que serias um príncipe. (...) Diz-me a verdade. Sentiu saudades do teu velho pai?


ASSÍRIO: Claro que sim! Muitas! Saudades de ti, da criadagem, de todos! Mas...


SEBASTIÃO: Mas...  Ah, já entendo.  Já tens saudades da corte européia. Os bailes, os cafés, as mulheres...


ASSÍRIO: Não, não é isso. Tinha saudades do Brasil, mas as notícias que lá chegavam de nosso país me colocavam frente a frente com uma realidade que no fundo eu desejava esquecer.


SEBASTIÃO: É, a guerra contra o Paraguai não foi nada fácil. Vencemos e o país comemora. Mas quantas vidas foram sacrificadas naquela carnificina. E muitos de nossa raça padeceram nos campos de batalha. Escravos que se embrenharam pelas trincheiras de guerra em busca de alforria pelos serviços prestados ao Império e encontraram a morte. De fato, a morte continua sendo a única forma de alforria para um negro neste país.     .


ASSÍRIO: É inadmissível que o Brasil seja o único país do mundo em que o regime escravocrata ainda persiste! Por que todos os cidadãos desta nação não seguem o exemplo do senhor meu pai, alforriando todos os seus escravos e contratando-os como empregados devidamente pagos pelos serviços prestados?


SEBASTIÃO: Fiz isso porque sou negro, meu filho. Sofri na pele todas as agruras da escravidão até conseguir tudo o que tenho. Mas tu não precisas temer nada disso. Tens tudo.  Riqueza, nome, prestígio. És um príncipe e nasceste para reinar. Ninguém, no mundo, mesmo que queira, jamais poderá fazer nenhum mal contra ti.  (...) Sinto que estás pronto. Pronto para me substituir. (...).


ASSÍRIO: Não te entendo, meu pai. Por que te cobrem essas nuvens?


SEBASTIÃO: Estou velho, meu filho. Não tarda o dia em que meu espírito retornará as terras da Guiné.


ASSÍRIO: Falas em morte!


SEBASTIÃO: Tudo o que vive há de morrer passando a eternidade. Sabes como é fatal. Mas não falemos mais nisto.    


Assírio sorri para o pai, mas está impressionado com as palavras dele.


CENA 18. PALACETE STRAUSS. SALA DE VISITAS. INTERIOR. DIA.


Firmina e Teodósio apresentam Assírio a Cipriano.


FIRMINA: Chama-se Cipriano.


ASSÍRIO: Sim. Chama-se Cipriano. Mas ainda não entendi do que se trata, Firmina.


FIRMINA: Seu pai o contratou para servir-lhe como criado pessoal.


TEODÓSIO: Não entende o francês, mas é educadinho.                                                            


ASSÍRIO: Confesso que nunca pensei em ter um criado pessoal e quanto ao francês, Teodósio, presumo que não seria de grande utilidade aqui em Serra dos Cavalos. (...) Mas já que meu pai inventou mais esta, não irei decepcioná-lo. Bem, meu caro Cipriano, estás disposto a iniciar já sua função de meu criado pessoal?


CIPRIANO: Sim senhor.


ASSÍRIO: Pois bem. Levarás uma mensagem a um velho amigo de infância.


Firmina e Teodósio sorriem satisfeitos.



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Autor(a): marcosrogerio

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CENA 01. RAIZ DA SERRA. EXTERIOR. DIA. Continuação imediata do capítulo anterior. Assírio observa Lorena, que continua desacordada. Ele se levanta da relva com Lorena nos braços e se embrenha na mata. CENA 02. CASCATA DO ALTO DA GARGANTA. EXTERIOR. DIA. Assírio, com Lorena nos braços, se aproxima da cascata. Ele se ajoelha ...



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