Fanfic: Benditα Tu Luz ~♥

Ele
riu sem graça e agradeceu mentalmente o fato de Dulce ser cega nesse
momento, para não ver suas ruborizadas bochechas e sua cara de idiota
envergonhado.

- Acho que estou acostumado a dizer o que os outros têm que fazer.

E
isso era certo. Ao todo, ele dispunha de dois mil e oitocentos e trinta
e dois funcionários trabalhando para as empresas de sua corporação,
isso apenas no México. Fora do país se somavam mais setecentos
empregados espalhados pelo mundo. Sim, ele estava mais que acostumado a
ser um mandão. E riu em constatar isso, e de surpresa também por ouvir
isso pela primeira vez. Nunca ninguém lhe dissera tal coisa, pelo menos
não cara a cara.

- Me desculpe por ser mandão. Mas aceita minha sugestão?

- Com uma condição. – ela ergueu uma sobrancelha com seriedade.

- E o que seria? – perguntou ele com curiosidade.

- Eu pagarei todas as despesas.

Se
ela tivesse dito que queria um colar de diamantes em troca de sua
companhia não teria lhe chocado tanto. Ficou totalmente calado. Sua voz
parecia ter escapado assim como sua respiração. Estava estarrecido.
Dulce queria pagar as despesas do café da manhã para ele! Tragou a
saliva, saindo do transe... E diante de seu silêncio, ela tentou se
explicar.

- Bom, você já pagou tantas coisas pra mim... – tragou a saliva, limpando a garganta. – talvez seria justo eu pagar agora.

- Não... – tartamudeou. – Nã-não sou uma pessoa relativamente pobre.

-
Tudo bem. Você está na cobertura, não? Cobertura é o mais caro de
qualquer Hotel, ainda mais de um cinco estrelas como esse! – ela riu. -
Mas eu insisto em pagar mesmo assim.

Estava decidida a não
ceder, na verdade, queria retribuir um pouco o que ele fez com ela. A
atenção, o cuidado, o carinho, sua vida...e, principalmente, o estímulo
para vivê-la.

- Não sei... – voltou a falar sem agüentar o seu
silêncio. – Pega esse dinheiro que gastaria comigo...e vai em uma
loja... Mmm, minha mãe disse que tem uma tenda de souvenirs aqui mesmo
no hotel, ela comprou muitas coisas bonitas...artesanato...para levar
para as minhas tias. Deveria levar algo para alguém também... acho que
deveria levar.

Ele a soltou, como se as mãos dela ardessem em
chamas. Caminhou pela sala e desapareceu em uma das três portas que
davam acesso à grande varanda da cobertura. Contemplou o céu clareando e
o frio o arrepiou da cabeça aos pés, estremecendo-o. Dulce estava
esmagando suas defesas. Por que ela teimava em ser diferente das outras e
contra o que acreditava? Sentia seu coração a mil por hora... E Dulce
só queria pagar algo para ele, só isso, nada mais.

E
o porquê disso era muito óbvio. Desde que começou a sair com mulheres,
nunca...nunca nenhuma delas se ofereceu para pagar nada para ele.
Nenhuma! Mas Dulce sim! Dulce sim! Dulce sim! Logo ela que despertou
tanta coisa nele que nem sabia que existia. Logo ela!

Maldita
fosse sua falta de sorte! Dulce era cega e ele estava noivo, se casaria
em duas semanas...e em hipótese alguma poderia pensar nela como algo
mais. Com exceção da cegueira, tinha duas horas para encontrar um
defeito em Dulce, algo que o irritasse...algo que a repelisse para
sempre de seus pensamentos.

- Eu disse algo que te magoou?

Virou
para trás, vendo-a parada sobre o marco da porta. Os cabelos vermelhos
dançando com o vento, como na primeira vez que a viu. E parecia algo
preocupada. Isso não era um bom começo... Por enquanto Dulce só subia
mais em seu conceito, e não ao contrário.