Fanfic: Minha vida é o inferno

Sexta-feira. 13. Eu simplesmente não suporto as baboseiras que as pessoas fazem questão de lembrar umas às outras sobre as assombrações.

O professor mais irritante de todos vive inventando moda, fazendo trabalhos em grupo, pesquisas em trios, coisa do gênero. Como eu odeio esse cara, já não me ajuda nada estar de TPM.

-Pessoal, vamos fazer aquela pesquisa sobre como a água é tratada em Bangladesh. Vamos, em duplas!! – olha ele aí. – Juntem as carteiras do lado e podem começar!

Um bourburinho começou. Matheus arrastou a carteira para o meu lado. Uma onda de seu perfume me atingiu. Mas eu tinha bebido o bastante para uma semana – pelo menos, não havia porquê matar alguém ali.

-Bem, aqui estamos.

-Cale a boca – sussurrei – Já fiz a pesquisa, se quiser fazer você...

-Ei. Somos uma dupla – sussurrou ele ainda mais baixo – E eu também já fiz. Podemos ficar quietos ou conversar um pouco.

E deu um sorriso meio torto, mostrando parcialmente os dentes incisivos. Cara, ele era lindo assim...

-Não, podemos conversar.

-Ah, que bom. – o sorriso aumentou – Eu sou Matheus.

-Valuska.

-Nome legal. – calou-se por alguns instantes

-Quantos anos você tem?

-14.  Hoje é meu aniversário.

-Hmm. Parabéns. Tenho 13.

-Eu costumo ser mais velho que a maioria. Entrei um pouco atrasado. Quando é o seu aniversário?

-Já foi. – e mesmo assim, eu não iria comemorar. Aniversários são ruins, indicam quantos anos aquela pessoa ainda não serviu de alimento.

Vendo que a conversa não iria passar muito daquilo, Matheus suspirou. Pela primeira vez, a aula demorava a passar e eu não me importava.

Ele olhou para mim de cima a baixo, e fez cara de aprovação.

-Seus olhos são... vermelhos?

-Não, são... Castanhos – menti – Castanho-avermelhados. Mas eles ficam escuros, quase roxos. Nunca sei direito.

-Você sabe me dizer que cor são os meus?

-Verdes.

-Eles também mudam de cor – sussurrou ele, chegando mais perto.

Olhei para ele perplexa, sem encara os olhos. Será que ele também era híbrido? Já basta ele não comer no recreio, conseguir ficar quase totalmente imóvel, mas os olhos?.. E eu iria sentir o cheiro diferente se ele fosse. Devagar como uma humana, levantei o olhar. Queixo, boca sorrindo, nariz...

-Estão azuis. – disse, confusa e aliviada – Mas como?

-O ângulo do Sol. Ahn, você sabe. Olhos claros.

Larguei  meu corpo na cadeira. Meu olfato estava perfeito, ele é que tinha olhos mutantes.

Continuei olhando para as janelas da alma dele, admirando as diferentes tonalidades. Mal percebi que o sinal tocou.

O garoto levou a carteira de volta para o lugar e perguntou baixinho:

-Agora é educação física. Vamos para a quadra?

Isso me despertou suavemente. Demorei um segundo para processar a questão.

-É claro.