Fanfic: Minha vida é o inferno

O fim de semana se arrastou. Radolph me levou para comer fora mais uma vez. Ele disse que era normal eu ter mais sede na idade de crescimento, apesar de não ser lá muito alta. Ainda assim, era perigoso demais para Matheus. Meu pai me ofereceu férias prolongadas – uma tentação para qualquer outra pessoa -, matricular-me em outra escola... Recusei tudo, dizendo que não era problema, obrigada.

Mas eu simplesmente não... podia ficar longe dele. Mas ele não podia ficar perto de mim.

Segunda - feira. Tentei me esconder e de novo minha derme em contraste com minhas roupas não ajudou.

-Ei, Val! – disse ele – Tudo bem? Nossa como você está pálida. O que tomou de café da manhã?

-Precisamos conversar – sussurrei. Sua expressão ficou séria, o sorriso desapareceu como um passe de mágica.

-É, eu sei.

-Debaixo da escada?

-Debaixo da escada.

Logo seria o recreio. Só três aulas, uma hora e trinta. Mas parecia que ele não levou em conta do tempo. Até a professora de Ciências notou.

-Qual é o problema rapaz?

-Hã? – ele rapidamente se endireitou na cadeira, arregalando os olhos (verdes)

-Por que está tão nervoso?

-Quem, eu? ‘Magina! – seu tom de voz não ajudava em nada – Tô, er... de boa.

-Ah, é? ‘De boa’ a ponto de querer dar uma voltinha na sala do diretor? Comece o exercício imediatamente!

Todo atrapalhado, Matheus tentou se organizar e foi recebido com várias risadas e algumas vaias. Um grupo de moleques jogou um pedaço de papel amassado em sua cabeça. Lancei-lhes um olhar fulminante e assim que seus olhos encontraram os meus, começaram a sacolejar de medo.

Uma hora depois, estávamos no local combinado. Ele não comeria de novo, mas provavelmente era falta de fome.

-Matheus, eu...

-Desculpe o mau jeito, Val, mas por que você entrou no meu quarto sábado à noite?

Epa.

-Como é?

-Era sábado, e eu estava dormindo... e... aí você começou a me chamar... hã... – pude vê-lo ficar vermelho – e eu acordei e te vi. Virei-me para ligar o abajur, mas você não estava mais lá...

-Matheus, eu nem sei onde fica sua casa.

-Ah, não? Que ótimo... – murmurou ele – Tudo bem, Val. Sua vez.

Tomei fôlego. Isso ia ser difícil.

-Não podemos mais ser amigos.

Durante a curta pausa, sua cor passou de vermelho para o mais branco que sua pele morena permitia.

-Por quê?

-É perigoso demais. Você não pertence ao... meu mundo... – minha voz sumia enquanto ele chegava mais perto, os olhos tristonhos. Ele era tão lindo, tão quente, tão simpático... tão tentador.

O garoto me abraçou. Pude sentir o calor de sua pele, a força humana de seus braços, o seu coração batendo... Minha garganta ardeu. Ele estava muito perto, eu desesperada. Minha meia-lua me apertou, tentando me lembrar dos meus instintos. Encostou sua cabeça na minha, deixando que eu aspirasse mais ainda seus perfumes...

Claramente eu não estava demonstrando minha sede. Minha pressão aumentou, implorando pelo sangue dele. Não agüentei. Delicadamente, libertei-me de seus braços. Minha garganta me matava.

-Pare Matheus – Pelamordedeus – Você não entende. É mesmo muito perigoso – ele fez a cara mais triste do mundo.

Balancei a cabeça, tentando desesperadamente fugir dali. Saí andando, correndo como uma humana. Lágrimas frias escorriam pela minha face. As dores atenuaram um pouco, prometendo vingança.

Mas eu não pretendia voltar. Nunca mais.