Fanfic: Minha vida é o inferno

A semana que se seguiu foi horrível. Faltei todos os dias, mas não era isso que me preocupava de fato. Também não fiquei chorando na cama.

Eu cheguei em casa poucos minutos depois da minha fuga clandestina. Tive que engolir o choro a poucos metros de casa. Havia alguém estranho em casa.

Não havia ninguém em nenhum quarto, mas o cheiro desmentia. Era como o de pedra, só que mais doce. Fui para a sala principal. Debaixo do tapete tinha um alçapão, que levava para o escritório de Radolph. Assim que eu abri, ouvi os gritos de lá de dentro. Nem eram gritos de dor, como os que eu estava acostumada. Eram gritos de ódio, e esses são do tipo que me assustaram.

-Você a roubou de mim, Radolph! Devolva-a agora, antes que fique pior! - disse um homem alto, forte e com uma longa cicatriz no olho. Vê-lo me fez tremer

-Do que está falando? Não roubei nada!

-Não se faça de idiota! Estou falando de minha filha!

-Eu não o roubei, eu a salvei de você! Ia matá-la! Se a entregasse para o Sistema...

-Isso foi antes de eu saber como é ser um vampiro. E eu estava muito ressentido.

-Ressentido! A ponto de matar a filha a sangue-frio!

-Cale a boca! Dê-me a Valuska de volta ou quem morre é você!!

Eu ouvia tudo sedenta por informações, louca de um misto de curiosidade e medo. Se aquele homem fosse mesmo o meu verdadeiro pai, e estava me pedindo de volta... Eu nem sabia o que pensar.

Radolph me olhou brevemente, mas pude entender a mensagem em seus olhos negros:

“Fuja!”

Saí voando com meu capuz e luvas me cobrindo. A princípio, corri para longe, muito longe dali. Como eu estava com raiva! Aquele estranho por completo, que por acaso quase me entregou de bandeja para a morte, me queria de volta em sua vida, sem eu querer! Ora, ele que viva sozinho. O que uma eternidade pode ser de ruim?

Diminuí o passo, atordoada. Conhecia cada canto da cidade, mas não podia deixar Radolph a sós com aquele mostro para sempre. Para onde ir, então? Não havia lugares seguros para mim.

Para mim.

Impedi-me. Não podia fazer isso de jeito nenhum! Mas garantiria a minha sobrevivência. Matheus não se importaria se eu desse uma visitinha. Corri afinal, tomando o rumo contrário. Que ideia maluca que eu tive! Com certeza a aula já tinha acabado e ele se lembrava da nossa conversinha, numa probabilidade de 10 em 9.

A janela estava aberta e o quarto, vazio. Entrei e me enfiei debaixo da cama novamente, protegida das luzes e olhares. Provavelmente o garoto estaria almoçando, e aproveitei o tempo livre para pensar um pouquinho:

1º: Meu pai biológico estava vivo – como eu não sei – e me queria de volta, talvez não medisse esforços para isso.

2º: Ele era um sujeito perigoso, até mesmo antes de virar um monstro. Não duvidada de nada que ele fizesse, mas ainda sim, eu sentia nojo dele.

3º: Fora deste assunto, Matheus era o ser no Universo que mais importava para mim. E eu não sabia quanto tempo mais eu aguentaria.