Fanfic: Aprendendo a ser pai AyA (Terminada)

O som de passos os alertou que Elly se aproximava. De certo a menina ouvira o ruído da lata de soda quan­do Alfonso a abrira e quis dividir o conteúdo com o tio. Simon a seguia, como sempre.

- Tio Alfonso! Já chegou! - ela disse, e jogou-se nos braços dele. - Achamos que não íamos ver você.

Ótimo, Anahí pensou, escondendo um sorriso. Elly dissera exatamente o que ela vinha pensando, mas de maneira muito mais cativante.

E a menina continuou:

• -Simon e eu tivemos saudade de você. - Envolveu-lhe o pescoço com os braços, encostando o rosto no dele.


• -Eu tive saudade de vocês também - Alfonso disse. - O que fizeram hoje?


• -Eu arrumei os cabelos de Annie. Ela não ficou linda?


• -Oh, sim, ficou. Linda é a palavra que eu devia ter usado para esse penteado. O que mais fizeram hoje, Elly?


• -Só isso. Annie só deixa a gente assistir um pouco de tevê. Ela diz que demais não é bom, é como chocolate demais. Mas isso é bobagem dela porque nós não po­demos comer a tevê,


• -Não, vocês não podem - Alfonso concordou. - Cho­colate demais não é bom? - ele perguntou, olhando para Anahí.


• -Bem, não é muito nutritivo.

Simon foi para perto do tio. Ergueu os braços, pe­dindo colo.

Anahí se perguntava se Alfonso se dera conta de que as crianças estavam assim acolhedoras porque se sen­tiam seguras no ambiente estável que a presença dele lhes proporcionava.

Alfonso teve de se sentar em uma das cadeiras da co­zinha para pôr Elly num joelho e Simon no outro. Apesar de não abraçar os dois com força como seria mais normal, Anahí achou que ele fizera um tremendo progresso apenas carregando-os.

• - O que mais você fez com eles? - Alfonso perguntou a Anahí.


• - Andamos bastante pela redondeza, lemos histó­rias, e eu comecei a ensinar a Elly o alfabeto e números.


• - Posso contar - Elly disse e pôs-se a contar, vol­tando atrás várias vezes antes de chegar ao dez.

A menina olhou para o tio esperando um elogio, porém Alfonso dirigiu-lhe um esboço de sorriso que fez Anahí ter vontade de rir. Lembrou-se da gravura de um dos livros de Simon onde um tigre feroz parecia subjugado pela vista de uma borboleta que pousara em sua pata.

• - Eu não sabia que eles dois seriam tão infelizes morando aqui sem amigos - Alfonso disse lentamente.


• - Mas não estão sofrendo - Anahí respondeu, que­rendo, contudo, saber a causa dessa mudança de atitude.


• - Não, mas concordo que precisam de amigos. Acho que deve haver algum tipo de grupos infantis organi­zados em Alban.


• - Com certeza - Anahí confirmou. - A maioria das cidades tem essas coisas no parque local ou no centro comunitário.


• - Pergunte a Becky sobre isso.


• - Becky? - Anahí repetiu, com cuidado.


• - Ela sabe de tudo o que está acontecendo ao longo da costa. Pertence ao conselho da cidade de Cliffside. Ela saberá.


• - O conselho da cidade?

Anahí pensou sobre os membros do conselho em Hadley, duas senhoras que faziam tricô durante as reu­niões e dois fazendeiros locais, cada um preocupado com sua própria agenda. Se Becky fazia parte do con­selho, talvez ela tivesse oportunidade de saber qual o motivo que fazia Alfonso não gostar da cidade. Agora Anahí estava mais curiosa que nunca e Becky a ajudaria a satisfazer essa curiosidade.

- Sim - disse Alfonso, não entendendo a razão do silêncio de Anahí. - Até um local pequeno como Cliffside tem um conselho, embora Becky seja a única pes­soa de bom senso entre os membros desse conselho.

Apesar de Anahí querer ouvir mais sobre o assunto, apenas respondeu:

• -Entendo.


• -Enfim, ligue para Becky se acha que Elly e Simon precisam de contato com outras crianças. O número do telefone está na minha lista.

O tom indiferente da voz de Alfonso a fez procurar o olhar dele, gelado. O tom que usara era de indiferença. Quase de... resignação, Anahí concluiu. Uma onda de proteção varreu-lhe a alma, mas não podia dizer se era pelas crianças ou por ele.

• - Mas você ainda prefere que eu não as leve a Cliffside? - ela perguntou.


• - Não se considere uma prisioneira aqui, Anahí - ele retrucou friamente.

Anahí não podia pensar em uma resposta adequada porque, de certa maneira, ela e as crianças eram mes­mo prisioneiras das circunstâncias. Só que Alfonso parecia saber, mas não explicaria a razão.

- Não quero que as crianças deixem de ter aquilo de que precisam - ele disse, como se as palavras ti­vessem sido arrancadas de sua boca. Anahí esperou um pouco, e quando o silêncio se prolongou por demais, Alfonso continuou: - Talvez uma curta visita a Cliffside...

Anahí espantou-se com a mudança de idéia, mas an­tes que ele voltasse atrás, bem depressa sugeriu:

- Que tal uma visita à biblioteca pública para ad­quirirmos novos livros? Se eu tiver de ler estes livros para Simon de novo, ficarei louca.

Alfonso não sorriu ao comentário de Anahí, mas apertou as pálpebras ao dizer, de maneira neutra:

- Tudo bem. Faça isso. - E dando-lhe as costas: - Vou tomar um banho antes do jantar.

Ele saiu da cozinha deixando Elly muito desapon­tada. Anahí  teve pena da menina. Por alguns instantes lhe parecera que ela havia conquistado enfim o coração do tio, mas o homem se fechara outra vez. Anahí sabia que tinha algo a ver com a decisão de ele ter permitido que os sobrinhos fossem a Cliffside, e quase se arre­pendia agora por ter insistido.

Com o fim de consolar Elly, ela lhe pediu que ar­rumasse a mesa para os quatro, a primeira refeição que faziam juntos desde que Anahí chegara. Considerou isso um progresso.