Fanfic: Vamos fazer de conta... [Adaptada] AyA

Poncho? Um herói? Annie
sacudiu a cabeça, as emoções se deba­tendo em seu íntimo. Agora que se
encontrava sozinha, andava de um lado para o outro da sala, na esperança de
livrar-se daquela sensação desconfortável. Parou para olhar as fotografias de
família, dispostas sobre uma prateleira, e admirou, com nostalgia, a vista
esplêndida da janela, antes de caminhar até o sofá e nele se afundar.

Mergulhada em seus próprios
pensamentos, teve um sobressalto ao ver Poncho surgir na porta, de roupa
trocada. Ele entrou na sala e sentou-se ao lado dela no sofá.

- Bem, agora que já trocamos
os cumprimentos iniciais, que tal conversarmos sobre nós dois? - perguntou ele.

- Nós dois? - Annie ficou na
defensiva. - Bem, por que não me fala de você, primeiro? Por que continua
morando em Royal Oak?
Pensei que tivesse se tornado jogador de futebol e estivesse num time como o Packers
ou o Rams... - disse Annie, lembrando-se do Poncho do passado, correndo pelo
campo, de pernas grossas e com a bola na mão, junto ao ventre saliente.

A pergunta pareceu deixá-lo
sem jeito, e Annie se arrependeu de tê-la feito.

- Eu cheguei a jogar no
Michigan State, mas comecei a me interessar por jornalismo...

- Jornalismo?

- Sou repórter de telejornal.
Canal 5. Surpresa?

Repórter de telejornal? Annie
custava a acreditar naquela idéia.

- Um pouco - respondeu,
mentindo.

Desde que Poncho entrara na
sala carregando na mão um copo de leite e biscoitos, ela passara o tempo todo
tentando mudar a imagem que fazia dele: não era mais um adolescente grandalhão
e desajeitado, mas sim um homem bonito, forte e gentil, que trocara o pneu de
seu carro.

- Então é por isso que
continua a morar na casa de seus pais - disse ela, movimentando os braços.
Incomodada com as palavras que usara, ela se corrigiu: - Quero dizer... sua
casa. May me contou que você a comprou.

Ele fez que sim com a cabeça.

- Eu comprei a parte de May.
Mamãe deixou a casa para nós, quando morreu. Acho que continuei a morar aqui
porque aqui é o meu lar.

Porque aqui é o meu lar... As
lembranças invadiram a mente de Annie.

- Desde que May me ligou há
algumas semanas, tenho pensado em seus pais. Soube que seu pai morreu e
agora... - Calou-se no meio da frase, engasgada de emoção, ao se lembrar dos
pais cari­nhosos da amiga. - Sinto muito sobre a morte de sua mãe, Poncho.

- Obrigado.

Houve um instante de silêncio,
e Annie fez um esforço para or­ganizar os pensamentos, tentando desviar a
conversa para um as­sunto mais alegre.

- Você voltou por causa do
centenário da escola - disse Poncho, interrompendo o silêncio. - Que bom, vai
ser divertido!

Você voltou. As palavras dele
atingiram um ponto sensível no coração de Annie. Fazia anos que ela morava em
Cincinatti, mas mesmo assim, nunca se sentira em casa. Deixara seu
coração na pequena cidade de Royal Oak, onde passara os melhores anos de sua
vida.

- Tenho saudade daqui. - Ela
levantou os olhos e encarou-o por um longo tempo. Poncho, o terror de sua
infância, estava dei­xando sua emoções à flor da pele.

Era por causa do cansaço,
claro! Dirigira mais de quatrocentos quilômetros, tivera um contratempo na
estrada, tivera medo de ser assaltada, depois pensara ter encontrado um
Príncipe Encantado... que no momento estava diante dela, mexendo com suas
emoções.

- Por que não volta para cá? -
perguntou Poncho.