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Capítulo: 4? Capítulo

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Capítulo IV


 


- E então, o que você acha que eu devo fazer agora? - Chris per­guntou, olhando intensamente para seu irmão, à mesa da cozinha.


Não havia amanhecido, ainda. O café que já passava na cafeteira começava a cheirar bem, lembrando-o de que estava sem comer desde o almoço do dia anterior. Chris ficara na rua, parado na frente da casa do irmão, esperando pelo primeiro sinal de movimento na casa, para poder tocar a campainha. Ele sabia que não iria conseguir conciliar o sono antes de falar com alguém a respeito de tudo que lhe havia acontecido. E a melhor pessoa para ouvi-lo era Christian, seu irmão.


Christian bocejou e, meneando a cabeça, ajeitou a gola do robe mais para cima, para evitar o frio da manhã, e disse, pensativo:


- Depende do que "quer" fazer.


Ora, esperara tanto para falar com Christian e agora ele lhe lançava aquela frase... Mas esse era o problema, Não estava certo do que queria fazer.


Inclinou-se para a frente, procurando as melhores palavras para se expressar:


- Olhe, estive pensando a noite toda e sinto que minha cabeça vai explodir de tantas idéias que passam por ela. Tenho os mesmo pensamentos repetidas vezes e... preciso de algo novo, de uma outra idéia... Por favor, Christian.


Christian recostou-se à cadeira, enquanto sua esposa, Maite, servia café em grandes canecas para ele e para Chris.


- Não sei o que dizer - confessou. - Você queria tanto saber quem estava esperando seu filho... Agora sabe, ponto final.


Maite recolocou a cafeteira no descanso e ergueu as sobrancelhas, apenas ouvindo. Em seguida pôs uma grelha sobre o fogão e quebrou três ovos em uma vasilha, batendo-os.


- Sabe, não posso crer que seja sua assistente - Christian prosseguiu, passando as mãos pela caneca quente. - É tão... estranho!


- Dulce não é estranha! - Chris protestou de imediato. - Você a conhece e sabe disso.


Christian assentiu, lembrando-se das vezes em que vira Dulce em algumas festas da empresa para as quais ele e a esposa tinham sido convidados.


- E onde você ficou a noite toda? - perguntou ele, de repente, como se a idéia só lhe tivesse ocorrido naquele momento.


- Bem, eu passei por um pequeno clube de jazz, na rua Grant, bebi um pouco, depois fui a outro bar...


- E andou dirigindo depois?!


Os olhos dos dois se encontraram e os dois irmãos tiveram a certeza de que pensaram a mesma coisa. Chris sabia que pensavam sobre o problema que seu pai sempre tivera com a bebida. Christian jamais o conhecera, mas conhecia muito bem as histórias de suas bebedeiras homéricas.


Ele e Chris nunca tinham falado a respeito, mas Christian sabia que essa era uma parte do passado de Chris que ele parecia disposto a esquecer.


- É claro que não - Chris respondeu, por fim. - Peguei um táxi. Mas não tinha bebido tanto assim. Bem, mas... o que posso fazer com a história da gravidez de Dulce?


Maite respirou fundo, aborrecida, e ambos a olharam. Ela negava de leve com a cabeça morena e, desligando o fogo onde preparava os ovos, voltou-se e veio sen­tar-se também à mesa.


- Olhe, Chris - começou, firme como sempre -, suas opções são: pode afastar-se e ignorar a história por completo, afinal, ela não lhe pediu para que se envolvesse, certo? Aliás, se não tivesse se interessado, provavelmente você jamais saberia que o bebê que ela carrega é seu. Sua segunda opção seria ficar afastado, mas garantir que nada faltasse a essa moça. Isso a deixaria segura, mas seria ótimo para o caso de vocês dois quererem ter outros relacionamentos.


Chris não pareceu muito confortável com nenhuma das alternativas, então Maite colocou as duas mãos abertas sobre a mesa e continuou, mais firme ainda:


- E você pode, ainda, fazer o que é certo: casar-se com ela.


- Casar-me com ela?! - Chris chegou até a arrastar a cadeira para trás, como se assim pudesse fugir de tal idéia. - Não posso me casar. Você sabe muito bem que jurei nunca mais me casar!


- Ora, deixe disso - Maite desdenhou. - Também nunca pensou em ter um filho. E a vida nada mais é do que aquilo que acontece enquanto estamos fazendo planos diferentes. Mesmo assim, seguimos sempre em frente.


Chris negou com a cabeça, teimoso, os olhos intensos.


- Não, não. Nada de casamento. Não quero passar por tudo aquilo novamente. Não quero ter as mesmas expectativas da outra vez, as mesmas frustrações, os mesmos problemas... Quero apenas amparar meu filho quando ele precisar. E vê-lo crescer. Acho que enten­dem o que quero dizer, não?


Christian ergueu os ombros, parecendo alheio.


- Acho que a segunda opção que levantou seria a melhor - Chris prosseguiu, olhando para a cunhada. - Mas não sei ao certo...


Maite assentiu de leve, entendendo o problemas e tocou o braço de Chris sobre a mesa, dizendo, suave:


- Parece-me que você quer apenas controlar a vida dessa moça e mantê-la por perto por suas próprias razões. É compreensível, embora um tanto egoísta. Não acha que deveria dar algo a ela também?


- Talvez... É, talvez lhe dê algum dinheiro. Muito dinheiro.


- Dinheiro?! - Maite afastou a mão, ultrajada. - Dinheiro não é nada!!


- Puxa, obrigado... - Christian interferiu, tomando aquilo pessoalmente.


- Oh, querido, não se trata disso... Você é um ma­rido maravilhoso, não deixa faltar nada em casa, mas... poderíamos viver embaixo de uma ponte e, ainda as­sim, sermos uma família feliz porque você representa muito mais do que a parte financeira. É claro que dinheiro torna a vida bem mais fácil, mas não é o catalisador que mantém uma família unida.


Christian sorriu, terno, e tocou-lhe o rosto.


- Não, é claro que não - concordou. - Na verdade, é você quem faz isso, querida.


O olhar que trocaram deixou Chris ainda mais embaraçado. Parecia-lhe que eles estavam demonstrando sua extrema felicidade de propósito diante dele. Desviou os olhos, voltando a preocupar-se com seus próprios problemas. Segundos depois, bebericou o café, reclamando:


- Isto é tão confuso para mim! Pensei que queria apenas encontrar a mulher que ia ter meu filho, tinha tudo planejado em minha cabeça. Eu seria a pessoa simpática e benevolente que fica sempre no pano de fundo, garantindo uma vida maravilhosa ao bebê, nunca pedindo um agradecimento ou reconhecimento algum...


- Uma linda fada-madrinha, você quer dizer - Christian zombou.


Chris olhou, aborrecido, e concordou, mesmo a contragosto:


- É. Por que não?


Maite tornou a interferir na conversa:


- Chris, querido, acha mesmo que sua Dulce é do tipo de mulher que poderia passar a vida sem se casar novamente? Porque eu acho que ela vai encontrar alguém, sim, algum dia e, quando isso acontecer, eles vão partir, poderão mudar-se para longe, para outro Estado, até. E o que você faria então?


- Isso talvez fosse a melhor coisa que pudesse acontecer - Christian opinou. - Quero dizer, se você apenas lhe der dinheiro e não se envolver emocionalmente, ela estaria livre para ter um novo relacionamento e conseguir um pai para seu filho.


Chris olhou para ambos, ainda mais confuso. Estavam falando de seu filho!


- Não - disse, em um tom mais alto do que previra. - Eu sou o pai e quero sê-lo.


- Mas não quer se casar com ela - Maite rebateu. - É sua escolha. No entanto, sem uma certidão de casamento, você não terá controle algum sobre a situação.


Chris sentiu-se tão mal com aquelas palavras que chegou a gemer.


- Parecia tão simples antes de eu descobrir que é Dulce... - comentou, desconsolado. - Agora, tudo mudou. Nada se encaixa! São tantas dúvidas, tantas questões a resolver...


Christian e Maite entreolharam-se e riram.


- Bem-vindo ao mundo dos pais e mães - Maite ironizou. - E é melhor estar bem preparado.


 


 


Uma hora depois, ele dirigia pelas ruas ainda pouco movimentadas de Chicago. A conversa com Maite e Christian não adiantara muito. Estacionou junto ao meio-fio, olhando para os pequenos montes de neve que os homens da limpeza pública iam fazendo conforme liberavam as ruas para mais um dia. Tudo estava muito diferente do que tinha planejado antes. Não bastaria aparecer uma vez por ano e levar presentes para seu filho, não bastaria abrir uma conta no nome dele... Quem estava grávida de seu filho era Dulce, a mulher que, como sua assistente, era tão eficiente que administrava metade de sua vida!


Parecia que a conhecia desde sempre, e ela era-lhe muito importante. Na verdade, nunca imaginara sua vida sem ela por perto. Sempre gostara de Dulce, respeitara seu trabalho e admirara sua competência.


E agora era como se ela, de repente, se revelasse diante de seus olhos de um modo diferente, como mulher, e não como profissional. E, por mais estranho que pudesse parecer, Chris reconhecia que havia um apelo sensual na maneira como a via agora.


A lembrança do beijo suave que lhe dera ainda es­tava em seus lábios e deixava-o desconfortável. Não, não podia simplesmente afastar-se dela. E como não tinha a menor intenção de se casar novamente, tinha de eliminar também essa opção.


O que lhe restava fazer?, indagava-se.


Precisava decidir-se. Se bem que, com certeza, já o teria feito quando chegasse ao apartamento de Dulce. Estaria preparado para lidar com a situação. E, deci­dido, ligou novamente o carro e dirigiu-se para lá.


 


 


Dulce não dormira muito. Sua situação parecia-lhe um sonho e um pesadelo ao mesmo tempo e não sabia como lidar com ela. No entanto, tinha de admitir que gostara muito de saber que seu filho era também de Chris, embora o que acontecera tivesse fugido, e muito, de seus planos.


Detestava ter de admitir que as rédeas estavam escapando de suas mãos. Jamais imaginara que houvesse um homem de fato em todo o processo. Homens de fato sempre traziam consigo complicações de fato.


Além do mais, seu sonho ao buscar um banco de espermas fora o de criar um relacionamento apenas entre mãe e filho, nada mais... ninguém mais.


Quando o interfone tocou, Dulce soube de imediato quem era, mesmo antes de atender. Mesmo assim, perguntou:


- Quem é?


- Eu.


Com uma careta de desespero, ela contestou:


- Não conheço ninguém chamado "Eu".


- Dulce, deixe-me subir - Chris pediu, deixando de lado a brincadeira.


- Mas é tão cedo...


- Ou tarde - ele acrescentou, na voz rouca de quem não dormira muito. - Depende da perspectiva.


Dulce respirou fundo. Ele não iria desistir.


- Está bem - concordou, apertando o botão que abria a fechadura da porta de entrada do edifício.


Quando passou pelo espelho da sala, fez uma careta ao ver-se. Mas era assim que acordava aos sábados pela manhã: cabelos presos em uma trança, calça larga, confortável, blusa idem.


Pacientemente, começou a preparar a cafeteira enquanto esperava que ele subisse, e acabou por derrubar um pouco de pó sobre o balcão da pia.


Estava tensa.


Parte de seu coração aceitava o envolvimento de Chris. Afinal, estava se sentindo muito sozinha e, quanto mais aquele bebê se tornava uma realidade, mais alegre tinha ficado. Mas tudo estava caminhando de forma diferente agora. Não seria bom ter alguém que compartilhasse aquela alegria? Não sabia.


Não podia achar que a vida fosse um conto de fadas. Precisava ser forte e continuar querendo que a aventura que começara fosse apenas sua e de seu filho, de mais ninguém.


No processo de limpar a sujeira que fizera, acabou por derrubar um copo que, por ser de plástico, não quebrou, mas foi suficiente para deixá-la ainda mais nervosa e provocar-lhe um grito e uma palavra pouco usada e pouco decorosa.


No mesmo instante, Chris batia à sua porta e ela tinha um sobresalto. Imaginou se ele a ouvira praguejar e foi abrir.


- O que houve? - foi a primeira coisa que ele disse, deixando-a embaraçada.


- Nada... Entre. - Ao olhá-lo, ela percebeu que havia alguma coisa diferente, mas demorou a descobrir o que era.


Chris pareceu-lhe feliz. Realmente feliz. E uma sensação de medo a tomou.


- Bom dia! - saudou ele, alegremente, baixando os olhos de imediato para seu ventre. E prosseguiu, mais calmo: - Sabe, não posso evitar... é meu filho... Há um bebê aí dentro e ele é meu...


Dulce não sorriu, mas Chris não notou insatisfação na expressão do rosto dela. Entrou, deixando o sobre-tudo sobre o sofá e voltando-se para olhá-la, como se isso já não fosse suficiente a cada instante.


Dulce parecia adivinhar que ele não fora para casa. Notava a barba por fazer, o terno um tanto amarrotado, a falta da gravata e a camisa aberta no colarinho.


Os cabelos estavam despenteados e algumas mechas avançavam-lhe sobre a testa alta. Era estranho, mas Dulce jamais o vira tão atraente...


- É um milagre, sabia? - Chris prosseguiu, em um tom de voz tão reverente que a surpreendeu.


E o bebê pareceu tê-lo ouvido, porque escolheu esse exato momento para mover-se, agitado. Ela levou as mãos ao ventre, em uma reação instintiva. Por intermináveis segundos, seus olhares se cruzaram enquanto o coração de Dulce batia mais forte, em um ritmo que lhe tirava a respiração normal.


Voltou-se, seguindo para a cozinha, e oferecendo:


- Quer tomar café?


- Claro! - Ele se acomodou em um dos banquinhos ao lado da mesa pequena e apoiou os cotovelos sobre ela, dizendo: - Enquanto isso, acho que quer saber como essa confusão toda aconteceu, não?


Ela assentiu com um gesto. Era, de fato, algo em que perdera algumas horas, durante a noite, tentando deduzir.


Chris, então, passou a narrar, desde o início, a história de como acompanhara seu amigo Derrick à clínica, quando este tentava lidar com seu problema de saúde. E chegou ao ponto em que explicou por que deixara sua amostra de esperma, para incentivar Derrick a fazer o mesmo.


- Sabe, eu não entendo - Dulce comentou, desligando a cafeteira. - Sempre o vi como um homem de negócios, com a mente fria e o coração não muito longe disso. Por que agiu assim, então?


Chris ergueu os ombros e tentou uma explicação:


- Talvez seja como quando minha cunhada tenta fazer seu moleque comer ervilhas... Ela lhe diz que elas parecem estar tão gostosas! Então come um pouco e sorri, fingindo estar provando o néctar dos deuses... E, assim, Kenny as come também...


Se a cada vez que ele fosse explicar alguma coisa para Dulce ela sorrisse daquele jeito, ele não se importaria de ter de inventar histórias o resto de sua vida, apenas para contemplar aquele sorriso.


Com isso em mente, continuou:


- Sabe, Derrick estava muito tenso, apavorado mesmo, com tudo que lhe estava acontecia. Suas decisões pareciam lentas... Não queria deixar seu esperma na clínica. E, quando um funcionário sugeriu que eu fizesse o mesmo, apenas para animá-lo, eu concordei. Queria apenas ajudá-lo. Cheguei a pensar em ligar, depois, e pedir que destruíssem minha amostra, mas acho que acabei esquecendo. E então... Bem, então foi tarde demais...


Dulce ouvia-o, incrédula. Chris completou, parecendo um tanto sem graça:


- Quando me avisaram que minha amostra tinha sido utilizada por engano e que a mulher em questão trabalhava em minha empresa, fiquei chocado. E depois quase enlouqueci tentando descobrir de quem se tratava. E quando descobri que era você...


Ela desviou o olhar do dele, voltando a dar atenção ao café. Instantes depois, ele perguntou:


- Por que fez inseminação artificial?


-Porque eu queria muito ter um filho. E não queria ter de me casar novamente para isso.


Dulce entregou a caneca de café a Chris e bebericou um pouco da sua. Sabia que ele deveria estar intrigado com sua resposta, que provavelmente não aprovava seu gesto. Mas Chris não disse nada e um silêncio pesado caiu entre ambos por alguns minutos.


- O que sua família pensa a respeito? - indagou ele, por fim.


- Não tenho família. Meus pais já faleceram. Tenho apenas meu bebê agora.


Chris sorriu de leve.


- Seu bebê... - repetiu. - Bem, agora tem a mim também.


Dulce não respondeu. O que poderia dizer? Que não o queria em sua pequena família? Que ele era apenas um acidente? Não, seria frio demais. Mas era a verdade.


- Muito bem, minha proposta é a seguinte - disse ele, de repente, demonstrando o homem de negócios que era. - Na segunda-feira vamos até a clínica para saber se nossas especulações estão corretas, embora saibamos com antecedência que estão, certo? Você vai deixar seu emprego na firma e mudar-se para um belo apartamento que está vago em meu prédio, no andar abaixo do meu.


À medida que Chris ia descrevendo seu plano, os olhos de Dulce iam se abrindo cada vez mais, e a estupefação já se fazia em suas íris.


Sem se dar conta da reação dela, Chris continuou:


- Vou contratar uma companhia de mudanças para levar tudo que é seu. Não quero que fique fazendo esforço algum. Também acho que seria melhor eu contratar uma governanta para cuidar de você. De preferência alguém que tenha experiência com crianças para que possa continuar com você assim que o bebê nascer. Enquanto isso, vamos começar a procurar-lhe uma casa nas vizinhanças.


Dulce olhava-o, muito séria. Estava a ponto de mudar-se para um lugar muito inferior, para poder economizar, e Chris abria um futuro paradisíaco à sua frente. E ele parecia tão certo do que dizia...


Estava atônita. Quando ele parou e sorriu, teve de piscar para acordar do enlevo que ele criara.


- Nós dois queremos o que é melhor para o bebê - Chris acrescentou. - Esse será meu objetivo maior daqui em diante.


Dulce compreendia. A criança era o ponto principal de tudo. E estava feliz por ele pensar assim.


- Imagino que vá precisar de algumas roupas de gestante - ele prosseguiu, sem dar-lhe tempo para falar. - Tenho um amigo que é obstetra e vou marcar uma consulta para você hoje mesmo.


Chris tinha tudo planejado. Seria fácil ficar com ele e deixá-lo fazer todas as escolhas, pagar as contas, tomar controle da situação. Os problemas, as preocupações, desapareceriam... Dulce podia relaxar e deixá-lo agir.


De repente, a lembrança de Guillermo apareceu em sua mente, com os olhos frios, a boca dura, em uma expressão de desaprovação. Dulce estremeceu e tentou afastar tal idéia.


Ergueu os olhos para o rosto de Chris, notando o quanto ele era diferente de seu falecido marido. Seu rosto era belo e sua expressão, gentil. E ele queria o que era melhor para ela e para o bebê.


Chris retirou o talão de cheques do bolso, e começou a preenchê-lo.


- Olhe, vou dar-lhe o suficiente para cobrir as despesas que venha a ter nos próximos dias. - E entregou-lhe a folha de cheque, com um sorriso nos lábios. - Sabe, Dulce, isto vai ser uma grande aventura!


Ela estava com a garganta seca. Pegou o cheque e leu-o. Era mais dinheiro do que ganhava em um mês. Sentia-se trêmula e esperava que a ansiedade que sentia não aparecesse em sua voz. Sabia que devia manter a postura firme que sempre tivera no trabalho, ou acabaria por derreter diante de Chris. E não queria que o relacionamento que tinha com ele tomasse outro rumo.


Olhou-o firmemente nos olhos e negou com um gesto de cabeça, rasgando o cheque em seguida.


- Sinto muito, mas não posso aceitar - murmurou.


Chris mostrou-se surpreso. Olhava para os pedacinhos de papel entre os dedos dela e, sem entender, indagou, firme:


- Dulce, o que está acontecendo?


- Não lhe ocorreu ainda que o processo já começou há algum tempo e que você apareceu um tanto tarde demais?


A expressão no rosto dele se endurecia.


- Não sei do que está falando – observou.


- Chris, estou grávida há cinco meses. Então, você aparece e espera poder tomar controle de tudo. Por que acha que pode mudar todas as regras assim, de repente?


Chris estava pasmo.


- Não estou tentando mudar nada. Quero apenas ajudar você.


- Não. Está tentando me controlar.


- O quê?!


Dulce estava arrependida por ser tão dura, mas sabia que devia manter sua posição, seria melhor assim.


- Este bebê é meu. - Olhou-o como se o desafiasse a contradizê-la e continuou: - Ele pode também ser seu, de certa forma e, nesse caso, eu não me oporia em tê-lo como uma influência masculina para meu filho, mas serei eu quem tomará as decisões finais em tudo na vida dele.


Ela se endurecia, esperando o confronto que viria, com certeza. Guillermo sempre fizera brigas incríveis cada vez que ela tentava manter sua posição a respeito de qualquer assunto. Mas Dulce detestava brigar, geralmente tentava outra solução. E, assim, Guillermo sempre ditara as regras em seu relacionamento. Não queria, de forma alguma, que isso voltasse a acontecer novamente e teria de se impor desde o princípio.


No entanto, olhando para Chris, não via a raiva que seria de se esperar. Havia algo diferente, que não entendia. E, incrédula, viu-o tocar-lhe a mão e puxá-la muito de leve para si.


- Dulce, isso tem algo a ver com a morte de seu marido? - Havia consideração e ternura no olhar que ele lhe lançava.


- Meu marido?


- Sim... Você é jovem e perdeu um marido que devia amar muito... Imagino que ainda não tenha superado a dor. Imagina que, se me deixar fazer parte de sua vida, isso poderia, de alguma forma, ser uma traição para com ele?


Dulce sentiu vontade de rir. Se ele soubesse...


- Não, não se trata disso - disse apenas.


Chris ergueu-lhe a mão até os lábios e beijou-a suavemente.


- Disse que não havia outro homem em sua vida... – insinuou.


Ele estava tão próximo, tão carinhoso! Seria tão fácil abraçá-lo, deixá-lo protegê-la, fazer planos para o bebê, para sua vida futura!


- É verdade - murmurou, lutando para manter os pensamentos claros.


Chris sorriu.


- Então, serei eu esse homem - ofereceu. - Você e o bebê precisam de um, não acha? E... acho que não pode me desviar de meu intento.


- Eu não quero desviá-lo. Não é isso... - Dulce cerrou os olhos, incapaz de explicar o que se passava em seu coração. E, quando sentiu que ele soltava sua mão, olhou-o, vendo o que chamara sua atenção.


- Roupinhas de bebê? - Chris se afastara até uma caixa que ela deixara aberta na sala. - Você já comprou algumas roupinhas para ele? - Ele ergueu um casaquinho de lã azul e sorriu. - Puxa; são tão pequenas! – Estava encantado. – Você já sabe o sexo do bebê?


Mesmo sem querer, Dulce sorriu. Era bom ter alguém com quem partilhar sua felicidade.


- Sim. É um menino.


- Um menino! - Chris sentia-se tão intensamente feliz que não sabia nem como se expressar. Lembrava de si mesmo e de seu pai, e de como sofrera quando o perdera. Sua mãe passara a trabalhar, então, deixando-o com babás. E ele esperara por um pai que nunca mais viera...


Sua mãe viera, eventualmente, a se casar outra vez, mas, embora seu padrasto fosse um homem bom, Chris sempre o vira apenas como um visitante. Esperara muito para ter seu próprio pai de volta, mas isso jamais acontecera. E, às vezes, era estranho, mas sentia que ainda continuava à espera.


Voltou-se para ver Dulce. Gostava do modo como os cabelos dela se soltavam da trança, do arredondado de seus seios sob a blusa larga, de seus pés, agasalhados pelas meias coloridas... Queria poder abraçá-la e apertá-la contra si por muito tempo...


Mas não tinham essa intimidade. E ela acharia estranho se ele resolvesse acarinhá-la. Respirou fundo, então, dizendo apenas:


- Acho que sei o que vamos ter que fazer.


- Mesmo? E o que é?


- Vamos ter que nos casar. Sei que isso não faz parte de seus planos, mas a vida sempre estraga nossos planos, não é mesmo? - Lembrava-se das palavras de Maite. - É, vamos nos casar. Não há outro jeito.


Podia não haver, mas ele estava muito feliz.


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Autor(a): linyduds

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 51



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  • apcs Postado em 18/09/2010 - 16:30:57

    Aí Aí, qual sera a reação de Dul???

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  • apcs Postado em 18/09/2010 - 16:30:57

    Aí Aí, qual sera a reação de Dul???

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  • apcs Postado em 18/09/2010 - 16:30:56

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  • apcs Postado em 18/09/2010 - 16:30:56

    Aí Aí, qual sera a reação de Dul???

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  • apcs Postado em 18/09/2010 - 16:30:54

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